Carris, 2 de Janeiro de 1999
Quando se vai muitas vezes a Carris começa a despertar um interesse sobre o local. Se na maioria das vezes a ida a Carris é um objectivo de um grupo numa efémera caminhada que nos vai ficar na memória como cansativa mas espectacular, outras vezes a caminhada é o início de uma paixão pelo local. Até hoje só conheci uma pessoa à qual o local lhe trazia uma sensação de depressão intensa... a vontade para sair dali foi muita...
Acho que já o disse aqui... a primeira vez que subi a Carris foi um martírio, para não lhe chamar um calvário... No entanto ficou cá dentro algo naquele longínquo ano de 1989. Já na altura uma das coisas que mais me intrigou foi o abandono do local... Ficou a imagem de uma 'cidade fantasma' e a sensação de ser observado a todo o instante por alguém escondido no nevoeiro. A mística e o mistério do local são fortes e incutem no visitante uma sensação única... Tal como acontece com grandes e únicos locais da nossa História, as Minas dos Carris sofreram do mesmo abandono, pilhagem, destruição e vandalismo... Nos nossos dias não se compreende como continuam assim... Muito se poderia fazer pelo local, mas outros valores se elevam e há que tentar (bom, pelo menos tentar) compreender isso... Tentar compreender como é que mentes tão superiores não são capazes de pensar numa forma de coexistência entre a preservação ambiental e a preservação histórica... Não quero acreditar que num futuro alguém se vai lembrar de que é necessário se investir uns milhões para recuperar algo que já ontem se poderia ter recuperado... se houvesse alguém inteligente para o fazer... Mas enfim, somos ricos e umas ruínas no meio do monte podem esperar...
Em 1989 a destruição era muita; em 2007 é muito mais... As pessoas irão continuar a visitar Carris quer o Parque Nacional da Peneda-Gerês goste ou não... quer as cabras invisíveis andem pela serra ou não... A destruição irá continuar, o vandalismo nos tijolos, pedras, madeiras, na nossa memória, etc continuará, e nós vamos continuar todos felizes e contentes porque aos poucos nos vão destruindo a memória, apagando as lembranças... Os homens morreram, foram sempre pobres, estavam sujos quando saiam do fundo da terra... um dia foram-se embora, houve uma Revolução, esqueceram-se da serra lá no alto... abandonada.
Fotografia © Rui C. Barbosa
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