Carris, 6 de Abril de 2007
Enquanto passo as tardes em casa vou pensando no meu projecto sobre as Minas dos Carris. Por entre imagens de um futuro que nunca imaginei ver, histórias de um passado do qual não me lembro... tento encontrar o rumo da estória.
Faço-o porque quero, porque me dá o gozo de recordar todas as imensas horas de caminhada, de suor, do cansaço, do ego que me empurra para um sítio cada vez mais alto sem ter o medo de saber que poderá haver aquela queda...
...enfim, vale a pena! Fechar os olhos e imaginar-me ali sentado ao Sol, sentindo o seu calor mas também o refrescar da brisa que quase sempre sopra... alivia a pele, conforta o espírito naquele silêncio tão ensurdecedor.
Carris a 27 de Fevereiro de 2005
Imaginar os telhados, as conversas que não se podiam ter pois mesmo longe os bufos ali andariam... As vidas ali passadas, os amores ali vividos, as paixões que brotavam da terra... suja, metálica, lamacenta... talvez do pó que matava, impregnando os pulmões a cada respirar... Imaginar aquelas janelas com portados, com vidros, com ferrolhos... Imaginar aquelas portas a abrir e fechar, a bater empurradas pela mão zangada, suavemente a fechar... Imaginar ali os carros, os animais a deambular... os homens a trabalhar na oficina, na lavandaria, no armazém, na casa das máquinas a controlar o gerador que se desliga no final de cada dia e que marca o início de mais uma jorna... Imaginar o estremecer do chão pelo fogo no interior da terra, o deixar assentar a poeira, o recolher e colocar a pedra no vagão... o subir do elevador, o descarregar, o ver a luz do dia no Verão ou as estrelas frias nas noites de Inverno... chegam tão cedo em Janeiro...
As casas novas, o guarda que questiona, o contrabandista que se esconde, o bufo que toma nota, o mineiro que lava o rosto sujo de pó... custa tanto respirar no final do dia...
Tentar ver os Carris, ali... ao abrir os olhos, sentado na rocha, como uma revelação...
Fotografia © Rui C. Barbosa
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