Carris, 28 de Janeiro de 2007
A entrada principal da Mina dos Carris encontra-se quase na sua totalidade já obstruída, porém ainda é possível ter acesso ao interior da mina... Muitas vezes me questionei sobre os segredos que lá ficaram e que por lá ficarão eternamente quando um dia tudo ruir.
Entrei na mina umas duas ou três vezes, pé ante pé muito lentamente para não agitar as águas e falando baixinho para não atormentar as almas... bom, na realidade havia sempre o receio de aquilo me cair em cima... felizmente não caiu. Não sei se hoje voltaria a fazer o mesmo... No seu interior não existe luz e quando lá no fundo olhava para a entrada, a luz que daí vinha parecia tão intensa e ofuscante como o Sol do meio dia em pleno mês de Agosto... O pingar incessante da água era constante e o mais pequeno murmor parecia quase um grito...
Vi as paredes de rocha, as derrocadas, o grande muro de cimento que segurava as águas do outra lado da galeria. O poço fundo e quase interminável, ao olhar, onde jaz o elevador e o seu frágil chão de madeira... os cabos de aço que em tempos o içavam e desciam agora mergulhados na água negra lá no fundo, os restos metálicos enferrujados no chão, pregos longos como finos floretes... estalactites brancas de um depósito qualquer... ferramentas abandonadas ao tempo aqui e ali, o receio de que algo ali surgisse vindo do nada... a vontade do fundo da Terra, sua vingança...
...que segredos lá ficaram e que por lá ficarão?... eternamente...
Fotografia © Rui C. Barbosa
1 comentário:
Estamos a ficar muito poéticos e introspectivos, hã?:)
Muito bem, realmente essas 100 subidas tuas, retribuiram-te com o dom de conseguires transmitir, como só quem entende a "serra", a alma e a força com que ela nos envolve!!
No entanto a "yaguice" é evidente!!:)
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