segunda-feira, 20 de junho de 2016

Trilhos seculares - Pelas Minas Mercedes las Sombras e a Encosta do Sol


Há já muito tempo que desejava fazer assim uma caminhada épica, daquelas que nos enchem a alma e inflamam o ego por todas as razões. Porém, principalmente pela paisagem e pelas sensações que ela nos dá. Esta foi uma destas caminhadas que serviu também para rever velhas paisagens.

Começa-se sempre cedo e cedo era quando deixamos a Portela do Homem para trás. Éramos três, assim como gosto... grupos pequenos nos quais o diálogo é imediato e com todos. E assim foi... Seguindo por terras Galegas, embrenhamo-nos na longa Pista d'As Sombras junto ao quilómetro 15 da Estrada OR-312. O longo trajecto vai-nos levar até ao início da subida para o antigo complexo mineiro contemporâneo das Minas dos Carris passando pela 'A Candela', ao lado da Casa da Malleta e contornando O Fitoiro até entrarmos no Vale do Rio da Amoreira. Lá ao fundo, na margem direita do Rio da Amoreira, vislumbra-se o antigo caminho mineiro que serpenteia vale acima, vencendo A Xesta, a Escada de Paredes e o majestoso Pión de Paredes. Em todo este trajecto inicial, a subida final para as Minas Mercedes Las Sombras faz-nos lembrar que os estradões nos fazem ganhar distância e poupar nas pernas, mas as subidas gastam as pernas e colocam o espírito à prova.

O complexo mineiro de Mercedes Las Sombras tem sofrido o mesmo mal do seu par Lusitano. Abandonado pelo Homem, os elementos, a cobiça e a estupidez fizeram o resto. Destruídas e vandalizadas, as ruínas são uma parca memória de outros tempos, mesmo não muito afastados, nos quais ainda serviam de porto seguro a quem por ali procurava abrigo.



A passagem foi breve, apenas uma curta paragem para fotografar os Lírios-do-Gerês que por ali floresciam. Por esta altura ainda estava frio e apesar de já terem caído algumas gotas de chuva, as nuvens aguentavam-se açoitadas nas alturas pelo vento que as empurrava para longe dali.

Seguiu-se então para a Portela da Amoreira e ali viramos à direita seguindo a fronteira. A da paisagem é dominada pelo Outeiro da Meda cuja perspectiva é muito diferente daquela que estamos habituados a ver a partir do Teixo no caminho para as Minas dos Carris. Por esta zona, toda a atenção é pouca. O carreiro está lá, mas a velhas mariolas confundem-se com a paisagem. A ânsia de conhecer não se deve sobrepor à atenção que devemos dar à observação atenta dos caminhos. Esta atenção é recompensada com velhos abrigos nos locais mais incríveis. Se conseguimos compreender os fornos na planura de um curral, é-nos difícil interpretar um forno numa encosta inclinada. A certa altura abandonamos a busca pelo velho carreiro e decidimos seguir em direcção à fronteira, sabendo que do lado de lá haveria um carreiro que nos levou a passar a Laje do Sino em direcção à nascente do Ribeiro da Laje do Sino.


Após vislumbrar as belas paisagens do Vale do Alto Homem em toda a sua magnificência, seguimos então pelo topo da Encosta do Sol em direcção à Bela Ruiva contemplando desde as alturas a Corga da Cova da Porca (Cagarouço) e a Água da Pala. Ao longe, para lá da imensidão do fundo do vale, o tom prateado da albufeira de Vilarinho das Furnas, onde jaz a aldeia mártir de Vilarinho da Furna, ia ganhando forma na paisagem. Seguindo as vicissitudes e as formas caóticas do granito esculpido pelo passar sucessivo das estações, o carreiro leva-nos para a Cruz de Pinheiro e Negrelos, a partir do qual baixamos para o Curral de S. Miguel e regressando depois para a Portela do Homem já com um tarde quente a puxar os dias de Verão que assim anunciava a sua chegada.

Algumas fotos do dia...




















































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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