terça-feira, 1 de março de 2016

Trilhos seculares - Pela magia de Bargiela até à Portela de Leonte


A Serra do Gerês é capaz de nos surpreender pelos pequenos espaços! Em cada recanto se esconde uma história, em cada recanto abriga-se um segredo, em cada recanto mora uma memória!

Na Serra do Gerês as mais pequenas caminhadas são capazes de nos imbuir no mais fantástico dos mundos cheio de seres imaginários, aqueles que resistiram à repressão e à santa inquisição. No passado, nestas terras moravam duendes e fadas, seres mitológicos que encontram semelhança nos seus compadres da Galiza e das Astúrias. Porém, estas histórias e lendas foram-se perdendo na turvez dos tempos e da memória dos homens. São hoje poucas as histórias que nos poderão levar a esses tempos tão longínquos. Porém, o ser mais atento verá aqui e ali, a passagem fulgaz do Lhobero, do Papón ou do Pataricu.

A neblina e a névoa das eras passadas encheu os nossos parcos contos serranos com outras personagens que não o Pesadiellu ou o Busgosu, emprenhando-as de ladainhas tementes a Deus. Quem compreende um Deus mau e que nos castiga?

A Mata de Albergaria vai escondendo algumas histórias mais recentes. Por entre as ruínas da antiga Casa Florestal, agora tristemente abandonada, e os restos da trincheira que defendeu as investidas dos franceses ou de Paiva Couceiro na reposição da monarquia, pouco resta das história das lendas antigas. Porém, junto à ponte sobre o Rio Maceira inicia-se um carreiro que nos leva Costa de Bargiela (Varziela) acima e que nos vai fazer entrar nesse mundo de fantasia.



Por entre a velha mata, os sons do rio vão ficando mais ténues e em pouco tempo nada mais escutamos do que a nossa respiração. Por ali vagueiam as velhas histórias, os seres míticos que ainda vão mantendo as velhas mariolas cobertas de musgo de m verde vivo na humidade de um dia de neve. O caminho vai serpenteando encosta acima. A nossa visão é bloqueada pelo rendilhado e entrelaçado de ramos das árvores que ladeiam o velho caminho. Porém, em breve se verão as nuvens que vão cobrindo os topos serranos da Amarela e do Gerês do seu lado nascente.

Faz frio e o vento faz-se notar. Em breve surgem os primeiros vestígios da neve que sabemos será mais intensa uns metros mais acima. Nevou na noite passada e a neve que pisamos é virgem, ou quase, pois à nossa frente segue um rastro de umas patas do que me parece ser um cervídeo. As pegadas vão-nos acompanhar por vários quilómetros até desaparecerem como que por mistério...

O caminho vai desaparecendo aqui e ali coberto pela vegetação com os seus ramos tombados pelo peso da neve ou então porque fica coberto pela neve que há pouco tempo terá caído. Depois de uma visão panorâmica sobre a Serra Amarela coberta de neve, não consigo ver muito do Gerês que se mantém escondido pelas nuvens. Começa a nevar, mas é quase como granizo pequeno.


Chegamos ao Curral de Bargiela e o cenário é de fantasia. A neve transformou o pequeno curral em tons de preto e branco, e as cores parecem ter-se escondido. Reina o silêncio onde aqui e ali se escuta um leve gotejar.

Por entre um cenário retirado de um filme de fantasia, fui continuando o meu percurso chegando pouco depois ao topo da Corga do Mourinho e ao Curral do Mourinho, com o seu forno coberto de neve. Pelo carreiro, as mariolas vestiam-se de branco e em certos pontos o gelo tornava o passo mais cuidadoso. Os velhos carvalhos marcavam a sua fantasmagórica presença por entre o véu cinzento que ia cobrindo mais ou menos a paisagem. Fazia um vento frio...

Em momento ia olhando para trás, pois a paisagem que nos cobre a retaguarda por vezes guarda segredos insondáveis. Ali, por entre a névoa e o frio, parece que nunca estamos sós e que há sempre algo que nos segue o rastro.

Passado o Curral do Mourinho, fui descendo para a Portela do Confurco com a visão da albufeira de Vilarinho da Furna a surgir por entre o movimento das nuvens. O Pé de Cabril mantinha-se escondido, mostrando apenas parte da sua encosta pontilhada de neve.

Descida depois para a Portela de Leonte e continuei pela estrada até à Albergaria, terminando este curto dia de neve.

...acredito que as pegadas na neve eram de um dos Busgosus que habitam a Albergaria... pelo menos enquanto por ali caminho...






















































Fotografias: © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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