sexta-feira, 18 de março de 2016

O complexo mineiro dos Carris (IV)


Se ao entrar no conjunto de ruínas que restam das Minas dos Carris somos recebidos pelo icónico edifício para os casais, o conjunto mais interessante de estruturas edificadas localiza-se à sombra do Penedo da Saudade. 

Perpendicularmente à orientação Este – Oeste do escritório e cantina referido aqui, encontra-se uma pequena avenida que é ladeada a Este por vários edifícios. Do primeiro edifício resta somente uma base em alvenaria onde assentava um edifício pré-fabricado que em tempos foi habitação do pessoal superior da mina. A casa de habitação para o pessoal superior da mina era composta por dois corpos de edifícios: a cozinha e a habitação propriamente dita. Esta era em alvenaria somente até ao nível do pavimento, sendo as paredes acima deste nível compostas por uma armação de madeira com revestimento exterior de lusalite e interior de madeira. Era composto por dez divisórias que incluíam sete quartos (sendo um destes com o dobro do tamanho dos restantes), uma sala de jantar, uma casa de banho e uma varanda interior.

A estrutura pré-fabricada terá desaparecido na segunda metade dos anos 70 (fotografias atestam a sua existência ainda em 1971), mas é ainda visível um pequeno edifício em alvenaria que por vezes é confundido com uma pequena capela pela sua estrutura exterior, mas que na realidade servia de cozinha. Os dois edifícios estavam ligados por uma passerelle. Equipado com uma pequena lareira sobre uma chaminé, este edifício era composto por duas pequenas divisões (cozinha e dispensa), sendo construída em alvenaria ordinária. Nas paredes são ainda visíveis os azulejos que ajudam a concluir tratar-se de uma pequena cozinha que serviria também de dispensa e serventia do edifício anexo. Na parte inferior da casa pré-fabricada localizava-se uma garagem (que não consta no plano inicial) e uma pequena divisória, na qual poderia estar um pequeno gerador ou um depósito de combustível. Tanto a cozinha como a habitação eram cobertas de duas águas em telhas de lusalite. Junto à pequena cozinha, um plano ligeiramente superior, facilmente se distingue o que seria um depósito de água.





Seguindo para Norte encontram-se dois edifícios contíguos que constituíam quatro casas de habitação, nas quais ainda são visíveis algumas lareiras e vestígios das paredes de estuque que definiam as várias divisórias das casas. A primeira casa sofreu remodelações no princípio dos anos 50. Estes edifícios foram originalmente propostos como camaratas para os guardas e serviçais e foram construídos com paredes de alvenaria ordinária com uma espessura de 0,40 metros e com uma divisória do mesmo material de 0,20 metros. Compostos por duas divisórias, a dependência menor era destinada a camaratas dos guardas enquanto que a de maiores dimensões era destinada a uso exclusivo dos serviçais. O telhado, de duas águas, era coberto a telha de lusalite.




O último edifício desta pequena avenida seria também pré-fabricado e servia de armazém, existindo somente os rebites de sustentação das paredes e a base em alvenaria. Denominados ‘Armazéns n.º 4, 5 e 6, constavam de dois corpos de edifícios distintos sendo as paredes em madeira, revestidas exteriormente a lusalite e assentes sobre um soco de alvenaria. A cobertura era feita em duas águas com fibrocimento. O edifício menor era composto por duas divisões com área interior de 4,00 x 5,00 metros cada (referentes aos Armazéns n.º 4 e 5). O corpo do edifício maior tinha 9,00 metros de comprimento por 5,10 metros de largura. Na mesma altura são apresentados os Armazéns n.º 1. 2 e 3, que compunham um edifício de paredes de alvenaria com 0,40 metros de espessura e dividido em três compartimentos com as dimensões interiores 5,20 x 2,70 metros, 5,20 x 2,60 metros, e 7,10 x 5,20 metros. As paredes divisórias teriam 0,20 metros de espessura e a cobertura de duas águas era feita em fibrocimento.

No extremo Norte desta avenida chegava-se a uma pequena plataforma granítica natural na qual estava montada uma estação meteorológica. Desta estrutura restam as bases de apoio dos instrumentos e os pontos de fixação dos cabos de sustentação dos mesmos. A estação meteorológica terá sido estabelecida a 28 de Agosto de 1954. Nesta base granítica existe uma pequena entrada para uma pequena mina. Não deixa de ser curiosa a existência desta mina neste local, mas uma visita à zona sob a qual a mina foi escavada revela a existência de explorações mineiras a céu aberto. A possibilidade da existência de minério em profundidade nesta zona poderá ter levado à criação desta pequena galeria.

Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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