terça-feira, 1 de setembro de 2015

"Viver perigosamente no Gerês" ou como escrever algo absolutamente parvo sobre o Parque Nacional


Não tenho por hábito comentar artigos sobre o Gerês e o Parque Nacional escritos por outras pessoas. A excepção surge quando esses autores insistem em desrespeitar as gentes serranas e a inteligência dos leitores utilizando topónimos estúpidos e insistindo neles.

O texto que aqui comento não cabe nesta categoria, por isso abro aqui uma outra excepção para comentar talvez o que será um dos mais parvos textos escritos sobre o Gerês e o Parque Nacional.

Parece que Lucy Pepper, a infeliz autora do artigo, fez umas férias ou algo parecido no Gerês e parece que ficou muito impressionada com a perigosidade do local. Ao ler o texto há algo que nos põe logo um pouco mais à vontade. Parece que a autora vive na capital (Uuuuuuh!!) a tal "mobilada com semáforos, passadeiras, barreiras e sinais de trânsito" onde sente muito mais segura do que no "Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde há uma falta quase total de tais medidas de segurança."

Lucy deve ter vivido a aventura da sua vida naqueles ermos montanhosos, quais Himalaias tugas, cheios de ravinas, precipícios, buracos fundos e animais selvagens... consta-se até que os próprios habitantes terão traços de canibalismo à mistura. Há que ter cuidado com estas gentes... Felizmente, nos dias de Lucy no Gerês, parece que ninguém morreu.

Lucy brinda-nos com a seguinte prosa "Imaginem as estradas das serras de Peneda ou do Gerês. O vosso destino fica no outro lado do vale, a um quilómetro de distância em linha recta. Mas a estrada para lá chegar multiplica por dez ou vinte vezes essa distância, serpenteando pelos contornos da montanha, com curvas violentas, seguindo provavelmente um velho trilho entre aldeias. Tem pouca sinalização, não há indicação de limites de velocidade, e quase não existe uma única barreira entre o condutor e a morte eventual no fundo de um vale esquecido." Pois é, Lucy! Provavelmente até tens razão... as estradas terão mesmo seguido velhos trilhos entre aldeias e sabes porquê Lucy? Porque até há poucos anos estas eram paragens que nem em Lisboa se falavam e olha que ficavam mesmo longe, muito longe. Tão longe que o saneamento básico só em finais do século XX chegou às aldeias mais recônditas das serras. Mas sabes Lucy, os habitantes dessas aldeias também pagavam impostos como os restantes Portugueses, Lucy, mas no entanto muitas das aldeias do Gerês ficavam longe, muito longe dessa tua capital engalanada de semáforos, passadeiras e sinais de trânsito! Saberás tu, Lucy, que nas localidades não é necessário sinalética para que o teu carro tenha de andar a menos de 50 km/h e o bom senso diz que em estradas de montanha a velocidade deve ser moderada e a condução cuidadosa. Mas tu, Lucy, necessitas dos teus sinais de trânsito e dos teus semáforos para, se calhar, colocares os animais que por ali andam livremente, a passar nas passadeiras. Oh, Lucy, Lucy... que boa oportunidade para estar calada tu perdeste, Lucy!

Saberás tu, Lucy, que em muitas montanhas de Portugal, muitas dessas estradas terão poucas protecções. Lucy, diz-me filha, já visitaste a Serra da Estrela? Ou mesmo os Picos de Europa? Não Lucy? Pois não... senão não dizias tanta merda dessa boca para fora, Lucy!

Oh, Lucy! Diz-me lá onde viste tu tantas rochas espalhadas pelo alcatrão? Ou será asfalto, Lucy? Oh, Lucy, será que ficaste impressionada com a estrada que te levou entre a Portela de Leonte e a Portela do Homem? Será? É que assim foi, então sê bem-vinda à realidade de muita gente que todos os dias utiliza aquela estrada! E sabes Lucy? Até se para para lá andar? Mas sabes ainda mais, Lucy? Imagina para onde tem ido o dinheiro que lá é cobrado, Luvy!? Se calhar, para um dos semáforos que está a engalanar a tua capital!

Lucy, tu escreves "Imaginem rios que correm através de fissuras na montanhas, e que criam cascatas e lagos de água gelada, onde os seres humanos são naturalmente tentados a ir refrescar-se nos dias de 35ºC. Ora, é impossível chegar a estes oásis sem passar por matos espessos, terrenos pedregosos e declives escorregadios. No entanto, quando fui à Portela do Homem ou à Cascata do Arado, a serra parecia cheia de gente, entre jovens e velhos, todos vestidos de fato de banho, a escalar penhascos impossíveis, a descer a precipícios assustadores, como cabras montesas de chinelos, e a gritar uns para os outros “ANDA, caralho!!” — porque não há ninguém para lhes dizer que não." Lucy, o Gerês, o Parque Nacional e as suas paisagens estão bem como estão e não é pelo facto de betinhas como tu arranharem as pernas a atravessar matos, terrenos pedregosos e declives escorregadios, que se vai mudar a paisagem. Se não sabes andar na montanha, cara Lucy, enfia-te na porcaria do Algarve que é muito bom para cabeças ocas como a tua, pois lá não tens os matos espessos, mas talvez encontres outras coisas mais espessas que te satisfaçam de melhor maneira. Mas dizes tu que lá, ali naquela terra esquecida por Deus e de pessoas rudes, que não há ninguém para dizer não. E tu sabes porquê? Não achas que terá semáforos a mais na tua capital, Lucy? Olha, coisas a mais num sítio, levam a que outros tenham falta de muita coisa básica. E já agora, não se fala mal em Lisboa, caralho?

Coitadinha da Lucy que não pôde utilizar o seu telemóvel cor-de-rosa no Gerês! E perdeu-se a Lucy, foi? Não tinha GPS? Olha, aprende a ler um mapa, óh parva! e já não te perdes!

Sabes que mais Lucy, vai à bardamerda mais o teu texto e por favor, quando saíres de Lisboa... ruma a Sul!

Para quem faltar papel higiénico, pode imprimir o texto daqui e usar como bem entender...

7 comentários:

Unknown disse...

O texto original diz exatamente o contrário... todo o texto elogia o Gerês e tece uma forte critica ao modo de vida citadino e de como as pessoas se tornam "escravas" da regra. A liberdade natural do Gerês é elogiada e não o contrário... Devia reler o artigo original com mais atenção.

Rui C. Barbosa disse...

"Viver perigosamente em Lisboa"

Acabei de regressar de umas férias na nossa capital que esperava apresentar-se como uma cidade onde fosse agradável viver.

No entanto, custa-me caminhar naquela calçada Portuguesa engalanada com os dejectos que os animais dos alfacinhas por lá deixam. Mas ainda bem que não calquei um desses dejectos. Da mesma forma, a cidade apresenta-se suja. Mas eu não me sujei, e por outro lado cheia de edifícios velhos e a cair. Felizmente que nenhum me caiu em cima. Não compreendo como pode uma cidade ter um cheiro daqueles, mas ainda bem que não se entranhou na roupa. E adoro a forma desordenada e impessoal de muitas construções. E então a vista do Tejo com muitos contentores é um verdadeiro postal ilustrado. E as pessoas, tão fora delas próprias, verdadeiras máscaras ambulantes que nem um palavrão dizem? Adorei cada minuto.

PS: acabei de elogiar Lisboa, não me levem a mal...

O Galaico disse...

Li o artigo original.

A autora, para quem quiser mesmo ler e tiver sensibilidade para a ironia, faz, na verdade, um ELOGIO ao Gerês.

Já vi várias críticas ao texto original onde ninguém sequer se dá ao trabalho de ler a coisa de início ao fim e perceber o seguinte:

Ela contrapõe a selvajaria do Gerês e das suas gentes (que no fim revela ser algo de POSITIVO) com o ambiente regrado e controlado à força das cidades.

Concluí que as pessoas do Gerês vivem livres e fazem as suas próprias decisões agindo da forma que melhor sentirem enquanto que, na cidade, não podem fazer nada disso.

No fim diz que ADOROU cada minuto que passou no Gerês pois sentiu-se VIVA lá.

Aprendam a ler e não abandonem uma narrativa ao fim de um parágrafo.

Rui C. Barbosa disse...

Galaico, remeto-o para o meu comentário anterior.

pmb disse...

Nada contra, texto bem escrito, mas o artigo original não diz nada disso!

Rui C. Barbosa disse...

pmb, remeto-o para o meu primeiro comentário.

Francisco Vilaça disse...

Claro que diz, duma forma irónica ataca o Geres e as suas gentes..ou os pacóvios do norte..para a próxima que vá para a serra da Arrábida..