quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Trilhos seculares - De Leonte ao Outeiro Moço


Na Serra do Gerês não é necessário fazer grandes jornadas pela montanha para se conseguir percursos que são extremamente satisfatórios a todos os níveis. Conseguimos assim paisagens únicas, grandes desníveis e uma variação da flora que nos mostra a diversidade única que existe no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Aproveitando uma manhã na qual não se previa chuva (que acabaria por chegar só de tarde) fiz um percurso circular que me levou desde a Portela de Leonte até ao Outeiro Moço sobranceiro ao Prado do Vidoal. Caminhamos entre as faias e o carvalhal, entre os cedros e os azevinhos, e na paisagem sem árvores já com o rigor da serra a fazer-se sentir.

Iniciando assim o percurso em Leonte, seguimos na direcção das Caldas do Gerês pela Estrada Nacional EN308-1. Deixamos para trás a paisagem outonal das extensões cobertas de folhas caídas e passamos pelo Escalheiro, tomando um carreiro à nossa direita que nos fará poupar uma curva na estrada, chegando de imediato junto da Cascata de Leonte. Prosseguindo pela estrada, vamos passar a ponte sobre o Rio Mourô e a Fonte da Cantina. Um pouco mais adiante, tomámos um carreiro à esquerda e a partir daqui será sempre a subir até ao Curral da Raiz.


Esta parte do percurso é muito interessante sendo feita por entre o bosque. Se inicialmente a infestação de mimosas é já bem visível, ela vai desaparecer à medida que vamos ganhando altitude, passando a mancha de cedros, pinhal, carvalhal e azevinhal. O chão está coberto por anos e anos de deposição de folhas e matéria orgânica que confere ao cenário uma envolvência muito interessante. O ruído dos carros que de longe a longe passam na estrada por esta altura do ano, vai-se tornando menos audível, abafado pelos pequenos regatos que à força descem a encosta. Após dias de chuva, estes cursos de água vão aparecendo um pouco por toda a parte, tornando assim a paisagem distinta de outras alturas do ano.

Continuando a subir, e após se ir reparando nas marcas que os animais por ali vão deixando (nomeadamente o javali), chega-se a um portelo de lenha solta que na altura da vezeira impede o gado descer. Este portelo como que marca um limite na vegetação, pois esta torna-se predominantemente rasteira a partir desta altura. Aqui, já vislumbramos alguns picos serranos que delimitam o Vale de Teixeira e Cambalhão. Engrossados pelas chuvas, alguns cursos de água mostram parte das suas cascatas escondidas pela vegetação.

Em pouco tempo se chega assim ao Curral da Raiz a partir do qual se tem uma paisagem deslumbrante para o vale do Rio Gerês, Costa de Istriz, Pé de Cabril e Pé de Salgueiro. A partir daqui surgem três opções para prosseguir o nosso percurso: a primeira seria entrar na Corga do Mourô e seguir pelo Mourô até ao trilho para o Vidoal; a segunda seria seguir o carreiro para o Prado do Vidoal através do topo da Corga de Mourô e a terceira seria seguir em direcção ao Vale de Teixeira, prosseguindo depois para o Outeiro Moço. Optamos por esta última opção e rapidamente metemos pés ao caminho, até porque o Curral da Raiz estava exposto a um vento frio que tornava a presença um pouco desagradável.



Nesta direcção a rede de carreiros está bem marcada exceptuando uma ou outra passagem na qual se requer alguma atenção. Porém, as mariolas estão lá para quem sabe para onde ir. De notar que a partir do Curral da Raiz segue para Sul um carreiro recentemente (re)aberto, mas que termina algumas centenas de metros mais adiante. Este caminho provavelmente faria a ligação com uma vertente do Pé de Salgueiro ou então acabaria por descer na direcção da ravina da Laja.

O nosso percurso segue então na direcção do Vale de Teixeira e Cambalhão tendo como referência o Pé de Salgueiro. Não sendo o nosso destino, a certa altura flectimos a marcha em direcção a Norte para o Curral do Junco, mas antes de atingir as suas proximidades, viramos de novo à esquerda tomando um velho carreiro que nos levaria ao colo do Outeiro Moço sobranceiro ao Prado do Vidoal (teríamos um percurso semelhante se caminhássemos um pouco mais em direcção ao Curral do Junco, mas o percurso optado leva-nos mais na vertente da encosta sendo sempre acompanhados pela visão do Pé de Cabril e do Vale do Rio Gerês).

Do Outeiro Moço descemos a vertente para o Prado do Vidoal cuja cabana estava ocupada e tendo ainda muito tempo disponível, prosseguimos para o Curral de Cubatos onde paramos para uma bebida quente. A descida para o Vidoal e o resto do caminho para Cubatos é magnífico em termos de paisagem. Encimada pelo Pé de Medela e por Carris de Maceira, as fragas de Lavadouros e a Corga dos Cântaros, formam um conjunto paisagístico de imensa beleza por aquelas paragens.



Na saída do Curral de Cubatos tentamos descortinar uma possível descida para o Curral de Maceira. Apesar de visível a partir deste curral, o carreiro não é de imediato identificável a partir das franjas de Cubatos e assim decidimos descer na direcção da Água da Adega. Este percurso está de progressão difícil com as mariolas escondidas pela vegetação. Chegados aos antigos caminhos abertos facilmente descemos até à estrada nacional e flectimos em direcção ao Rio Maceira. O regresso à Portela de Leonte levou-nos através dos recentes trabalhos de limpeza realizados naquela zona pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês, passando pelo Curral de S. João do Campo (ou Leonte de Baixo).

No final socorremos a Bruxinha que regressou sã e salva à sua casa na Cerdeira!











































Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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