sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Viaturas nas Minas dos Carris

Ainda hoje muita gente fica incrédula quando lhe digo que em tempo idos os carros subiam até às Minas dos Carris. Sem dúvida que o actual e deplorável estado a que o Parque Nacional da Peneda-Gerês deixou chegar o estradão para as minas, não deixa imaginar que tal alguma vez tenha sido possível.

Ficam aqui duas imagens de provam o contrário.
Fotografias © José Rodrigues de Sousa / Rui C. Barbosa

6 comentários:

mário venda nova disse...

Tenho duas ou três coisas a dizer sobre isto que gostaria de partilhar consigo e com os seus leitores.
Não percebo esta "mania" portuguesa de proibir os acessos nos Parques Naturais e Áreas Protegidas a viaturas, prefiro o método norte-americano de abrir as estradas que existem ao tráfego (mesmo que estejam encerradas em algumas épocas do ano) e assim abrir um leque de possibilidades de acesso que são altamente difíceis doutra forma. Isso implica um civismo por parte dos utilizadores mas também uma taxação para a circulação que cá não existe.
É para mim um erro crasso permitir a livre circulação no Gerês sem a cobrança de uma taxa para quem lá quer entrar, isso nos EUA - o berço dos parques naturais como os conhecemos - é impossível! Podemos argumentar que pagamos muito de impostos mas acho errado que alguém no Alenteja tenha que ser sobrecarregado com um imposto para circular numa área onde dificilmente se deslocará, é o velho principio do utlizador-pagador.
Por exemplo existem várias estradas de terra batida no Gerês que poderiam estar abertas à circulação paga para que quem lá quiser aceder o possa fazer de forma controlada e restrita, o que existe hoje é apenas uma forma de disfarce, colocam-se umas cancelas que ninguém respeita (junto à cascara do arado, um pouco acima!, existia uma que está partida...) e onde qualquer acede da forma que lhe apetece.
Com controlo tudo é possível e como fotógrafo só posso imaginar o que poderia fazer nos Carris com bom material fotgráfico. É lógico que podem argumentar que o faça a pé mas de facto não é a mesma coisa. Vamos imaginar que num dia bom posso transportar cerca de duas máquinas, entre três a seis lentes, rolos, tripé, filtros, etc. Nunca pesei este equipamentos mas duas mochilas não me chegam. Os meus "colegas" dos EUA metem os seus Hummers e Porsches Cayenne nas estradas dos parques e fotografam à vontade; pagam para isso é certo mas é de longe bem melhor do que o que temos cá. E já li muitos relatos em que são os fotógrafos que reportam às autoridades as violações à lei que ocorrem nessas áreas, documentando viaturas em locais sensíveis e procurando manter essas áreas onde ao fim e ao cabo ganham a vida. Cá esse espírito não existe porque, como bem diz, o Parque prefere deixar a estrada que liga aos Carris (que nem sei se ainda poderá ser percorrida, pelo menos em 4x4) ao abandono quando poderia facturar com o acesso lá! Concordo com a limitação do número diário de viaturas a percorrer essas zonas e com o registo de todas as que o fizerem; aliás basta uma foto à entrada e o nome do condutor e um terminal MB, era uma mina. Quem não quiser pagar não circula, simples.

Olhar para o lado, manter cancelas que ninguém respeita e que aparecem partidas e vandalizadas, é no mínimo fazer como a cegonha. O acesso pode ser interessante para os parques, deve ser disciplinado, pago e condicionado. Sou totalmente contra a abertura de novas estradas ou a beneficiação das que existem, ou seja sou contra a transformação das estradas de terra batida em alcatrão, mas o que existe é um no-sense completo!

Rui C. Barbosa disse...

Caro Mário,

A circulação dentro do PNPG é sem dúvida um assunto pertinente. Existem várias condicionantes que levam à proibição da circulação em algumas zonas do parque nacional. No entanto, temos de ter em conta vários aspectos, sendo talvez o principal a extrema falta de civismo da população. Este é um problema que não se resolve nos próximos 20, 30 ou 50 anos. É um problema de gerações e que demorará muito tempo a ser resolvido.

Por outro lado, cobrar para circular é o mesmo que pedir uma taxa de 152,00 euros para caminhar em certas zonas do parque. Não faz sentido nem resolve qualquer problema.

O acesso de viaturas, mesmo condicionado pelo pagamento de uma taxa, a certas zonas do parque era quase como que escrever uma sentença de morte. Basta ver o estado de algumas zonas do parque nacional (Pedra Bela, Arado, Lamas de Mouro, Mezio, etc.) aos quais se tem acesso e vê-se o resultado.

Depois há o problema do controlo dos acessos. Simplesmente, o PNPG não tem maneira de fazer esse controlo e fiscalização, pois os efectivos não existem. O número de vigilantes da natureza é escasso e não há verbas para o aumentar. Depois refere que "o que existe hoje é apenas uma forma de disfarce, colocam-se umas cancelas que ninguém respeita (junto à cascara do arado, um pouco acima!, existia uma que está partida...) e onde qualquer acede da forma que lhe apetece", isto está relacionado com o civismo. Da mesma forma que numa cidade tem uma rua sem trânsito porque lá está um sinal que é respeitado por todos, no Gerês ou noutra área protegida não se respeita porque a distância esconde o acto de passar esse sinal e a probabilidade de ser confrontado com uma autoridade é muito pequena (porém, são vários os casos onde isso acontece e a coima não é pequena).

Por outro lado, temos o hábito de fazer comparações entre os parques internacionais (como os norte-americanos) e o PNPG (por exemplo). São realidades totalmente diferentes, parque totalmente diferentes com áreas distintas e, lá está mais uma vez, o problema do civismo.

Alice Lobo disse...

Não vejo porque não podemos “ comparar-nos a outros parques relativamente a alguns aspectos mas em outros já é possível nomeadamente quanto ao montante sempre aqui referido. Por um lado referimos que o facto de existir livre acesso e “amontoados” demonstra falta de civismo e deterioração em locais como pedra bela, arado, Mezio, etc. Mas em relação ás minas de carris vejo outra atitude não para beneficio ambiental, mas pessoal . Desde já deixo aqui uma ideia a Sra. Ministra em colocar na BOLSA DE TERRAS DO ESTADO os 5mil há do PNPG pertencentes ao estado.
Cumprs

Rui C. Barbosa disse...

Alice, como sabe não é meu objectivo censurar seja que comentário for. No entanto, ou se escreve com alguma coerência e objectividade ou então não vejo razão de certos comentários.

Assim, peço que seja mais objectiva e explicita nos comentários, pois este já é o segundo que as pessoas lêem e não compreende o que quer dizer, como por exemplo "Mas em relação ás minas de carris vejo outra atitude não para beneficio ambiental, mas pessoal." Quer explicar?

joca disse...

Estou totalmente de acordo contigo Rui na diferença entre o PNPG e a realidade de outros Parques Nacionais. Ainda que me pareça possível acompanhar algumas das boas práticas internacionais é necessário perceber a realidade local. Também não tenho dúvidas que a prioridade do PNPG devia estar na modificação dos comportamentos. Algo muito diferente de proibir e taxar. Que acaba por ser uma ilusão porque depois não há as condições para fazer cumprir a regulamentação. Julgo que a fotografia nas APs possui uma regulamentação própria que é outra das aberrações do ICNB. Recordo de ter lido/escutado que até havia instruções do ICNB para separar o enquadramento da actividade fotográfica pela utilização do tripé.

mário venda nova disse...

Rui,

repare que a falta de fiscalização - seja por falta de verbas, de efectivos ou de proximidade - não pode servir de argumento na questão do acesso. é óbvio que o civismo tem um papel bastante importante nas acções que muitos praticam nas áreas naturais. O problema é que as nossas áreas naturais estão a ser delapidas por falta de verbas e de meios, quem poderá ter interesse em tal é questão que nos pode levar longe...
Repito: a minha intenção não é escancarar as portas do parque mas se realmente não será interessante aproveitar o que existe e disciplinar DE FACTO os acessos estão lá e é possível facturar com isso e assim financiar o parque.

Conforme afirmei eu fotografo na natureza, de forma documental e de tal forma que não me considero um fotógrafo de natureza, e no meu projecto mais recente procuro questionar o que são as nossas áreas naturais. E como tenho que fazer pesquisa dos locais que posso fotografar, tenho encontrado de tudo... mas mesmo de tudo. Recentemente a EDP colocou vários postes de alta-tensão na AP de Bertiandos, na Serra de'Arga existem várias antenas de comunicação e na Serra da Cabreira idem. No limite as nossas AP são uma forma dos nossos governantes mostrarem que se interessam pela natureza quando de facto nada fazem para a proteger... Delimitar num mapa uma AP para depois nada fazer para a proteger é deixá-la vunerável a todo o tipo de pressões e de todo o tipo de intervenções.

O modelo dos EUA é um modelo interessante que nunca poderá ser aplicado em Portugal pelo facto acima descrito: as nossas AP são uma miséria em termos de conservação. Como explicar a um turista que goste de natureza a discoteca ao ar livre em Vilarinho das Furnas, mesmo ao lado (que coincidência...) da pousada da juventude? E as empresas que se dedicam a passeios 4x4 em kartcross e moto4, sem controlo nenhum?

O meu comentário parte de um principio que defendo a todo o custo: abrir o acesso mas cobrar pelo mesmo, e cobrar bem! Abrir a circulação na antiga estrada dos Carris: talvez não mas por outro lado se a estrada ainda existisse eu proporia um acesso através de um veículo do parque (um Land Rover Defender 130 p.exemplo) e assim satisfazer todos.
Reparem que esta polémica já teve lugar e foi debatida quando se começaram a abrir os trilhos nos EUA ao btt, os puristas defendiam que isso iria devastar os trilhos e que as empresas sem controlo iriam apenas olhar aos lucros. Foi uma luta dura mas no final o btt ganhou acesso, após isso muitos erros foram cometidos, trilhos que deveriam estar fechados foram abertos e depois fechados novamente, empresas que foram "corridas" por não respeitarem as normas, mas no final ganhou-se mais do que se perdeu! O mesmo se passou com os veículos 4x4 que disciplinados têm acesso ao interior dos parques.

Rui, tenho o maior respeito pelo trabalho que desenvolve aqui em defesa do PNPG e mas também sei, através da experiência no terreno, que os nossos parques têm muito por onde mudar se querem competir com o que há lá fora - e às vezes muito perto - mas sobretudo o acesso tem que ser visto no plano geral e sobretudo num plano construtivo e sem fundamentalismos em ambas as posições.

Joca: de facto a taxa que o ICNB introduziu para os fotógrafos foi um desastre, nunca ouvi ninguém a dizer que a mesma lhe foi aplicada mas também ninguém pede autorização para fotografar nas AP's...
A palavra que me vem à cabeça é trapalhada e da grossa! Mais uma vez tentou-se a introdução de uma taxa sem nexo. Mas se as taxas fossem introduzidas num contexto masi global, como defendo, a trapalhada em que o ICNB se meteu teria sido totalmente desnessária.
Os nossos parques são diferentes da realidade dos EUA porque os nossos têm uma presença humana permanente e semi-permanente muito mais forte. Logo aí temos um problema: ou trabalhamos com as populações e introduzimos algumas regras apertadas ou despejamos toda a agente de lá, o que não me parece concretizável.