segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Perdidos... de novo...

Parece que vem a tornar-se recorrente o aparecimento de notícias relativas a grupos que se perdem no Parque Nacional da Peneda-Gerês e mais precisamente na área entre Pitões das Júnias, as Minas dos Carris e a Portela do Homem.

Vamos aos factos que sabemos pela comunicação social (espero que alguns dos links se mantenham):

PÚBLICO - Campistas perdidos no Gerês foram resgatados

TSF - Bombeiros tentam resgatar sete turistas isolados devido ao mau tempo

TSF - Turistas isolados no Gerês já foram resgatados

Diário de Notícias - Turistas do Gerês já foram resgatados

Jornal de Notícias - Helicóptero já resgatou grupo perdido no Gerês

As notícias dão-nos localizações distintas das zonas onde estas oito pessoas se encontravam: uns apontam para a Portela do Homem, outros para as Minas das Sombras e outros para as Minas dos Carris.

Alguns relatos (não confirmados) indicam que o grupo terá partido de Tourém em direcção às Minas dos Carris e a crer no que os meios de comunicações social referem, ter-se-ão perdido na área das Minas das Sombras (Minas das Sombras) ou na área das Minas dos Carris (PÚBLICO). Uma das travessias clássicas na Serra do Gerês é a passagem de Pitões das Júnias para a Portela do Homem, passando pelas Minas dos Carris. Assim, é de assumir que o grupo estaria junto das Minas dos Carris pois como as Minas das Sombras (na Galiza) distam dos Carris cerca de 1,6 km, podemos considerar as minas espanholas dentro da área das minas nacionais.

Mais uma vez a situação ocorre em condições de tempo adverso. Sabemos que nos manuais básicos de montanha nos ensinam que jamais devemos ir para a montanha em situações de mau tempo e mesmo começando a caminhar com uma meteorologia que não seja adversa, existem hoje inúmeras fontes partir das quais nos podemos informar acerca da evolução das condições meteorológicas para os dias seguintes. Infelizmente, e mesmo no caso de montanheiros experientes, parece-se inacreditável as ocasiões que surgem situações de negligência que podem vir a colocar em perigo as nossas vidas e as vidas de quem mais tarde os terá de socorrer.

Por outro lado, e mesmo tendo em conta a forte componente de aventura inerente a esta actividade, é sempre aconselhável um conhecimento mínimo sobre a zona onde se vai caminhar. Tanto a zona das Minas dos Carris e principalmente a zona das Minas das Sombras apresentam fossos mineiros a céu aberto que são verdadeiras armadilhas em situações de bom tempo, imagine-se com mau tempo e principalmente com nevoeiro cerrado.

As actividades de montanha envolvem por definição um elemento de risco e aventura da mesma forma que um mergulho no mar é sempre uma actividade arriscada. Tendo em conta aquilo que se sabe não deixam de ser pertinentes muitos dos comentários que podem ser lidos nos sítios dos orgãos de comunicação social que noticiam o que se passou. Não digo que os elementos do grupo sejam responsabilizados financeiramente pelo resgate até porque muitas outras situações absurdas se passam neste país e ninguém levanta a questão do resgate utilizando o helicóptero. O facto de ser um grupo experiente, tal como já aconteceu anteriormente, faz-me perguntar o porquê na confiança total no GPS?

No entanto voltamos à questão da manutenção do estradão que liga a Portela do Homem e as Minas dos Carris. A sua falta de manutenção levou a que agora se encontre intransitável e mesmo um veículo todo-terrenos terá muitas dificuldades em chegar ao fim. A pergunta coloca-se: se o caminho estivesse em condições mínimas de utilização não seria mais barato ao Estado um socorro deste tipo? A resposta parece-me óbvia! Por outro lado, a utilização do caminho florestal que dá acesso às Minas das Sombras poderia permitir um melhor acesso a uma equipa de socorro e a uma mais fácil escapatória daquela zona montanhosa.

Para finalizar gostava de referir que o Parque Nacional da Peneda-Gerês poderia nesta altura já dispôr de uma equipa de guias de montanha capazes de poderem ser utilizados para conduzir estes grupos dentro da sua área. Imprudentemente e irresponsavelmente, ainda não os dispõe...



Fotografia: © Rui C. Barbosa

Vídeo: © SIC

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