quinta-feira, 11 de agosto de 2022

O porquê das Minas dos Carris?

 


O volfrâmio é descoberto na área do marco geodésico dos Carris em meados de Junho de 1941 por Domingos da Silva, Outeiro - Montalegre, que faz o registo da mina no dia 24 desse mês, na Câmara Municipal de Montalegre.

Nos dois anos seguintes, a exploração mineira será caótica, pois devido a um registo posterior, o acesso à concessão principal é dificultado pelas várias concessões e pedidos de concessão que por ali vão surgindo.

Em princípios de 1940 a empresa Rohstoff-Verwertungs-AktienGeschellschaft (Rowak) – pertencente ao grupo HGW (Hermann Goering Werke) – é reorganizada para procurar recursos industriais em países amigos do Eixo, pois Adolf Hitler estava já a preparar a invasão da União Soviética. Nessa altura, a Rowak recebe instruções para organizar a comprar de volfrâmio e estanho em Portugal, financiada pela Geschellschaft fur Electrometallurgie (GfE) através da Sociedade Minero-Silvícola, Lda. Nesta altura, a GfE podia levar a cabo negociações directamente com a empresa portuguesa e a Rowak não podia controlar as transacções entre elas.

A 18 de Dezembro de 1940 surge o primeiro plano da Operação Barbarossa com o objectivo de invadir a União Soviética. Isto levaria ao corte do fornecimento de petróleo, minério e metais que eram necessário para a máquina de guerra alemã. Assim, tornava-se urgente segurar o fornecimento destes produtos a partir de outras fontes. A invasão da União Soviética ocorre a 22 de Junho de 1941, dois dias antes da entrega na Câmara Municipal de Montalegre do registo de Domingos da Silva que lhe assegurava os direitos de concessão no sítio denominado ‘Salto do Lobo’.

Todo o impasse seria finalmente resolvido em finais de Fevereiro de 1943 com a entrada em cena da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., uma sociedade comercial por quotas com sede social na cidade do Porto que tinha como sócio gerente Hans Carl Walter Thobe que trabalhava na empresa Zickermann S.A.R.L., Lisboa. Walter Thobe já havia trabalhado com a Sofindus, sendo possivelmente financiado por esta. A Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., com sede na Rua da Constituição, Porto, tinha uma conta bancária no Banco Espírito Santo, naquela mesma cidade.

Segundo Karl Thobe, filho de Hans Carl Walter Thobe, foi a Sociedade Minero-Silvícola, Lda. que a partir de meados da Segunda Guerra Mundial impulsiona o aproveitamento das concessões mineiras em Carris. A Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., de Walter Thobe, é incorporada na Sociedade Minero-Silvícola (empresa propriedade da Alemanha Nazi através da denominada 'holding Rowak/Sofindus') passando a ser sócio gerente desta a partir de 1 de Abril de 1943 (com um salário de 12.000$00 e sendo responsável pela gestão de todas as minas desta sociedade). Segundo Gilberto Gomes (em “Os Comboios-bloco (1941 – 1946)”),  a Sociedade Minero-Silvícola, Lda. fazia parte de um grupo  de companhias mineiras cuja produção estava consignada à Alemanha. Ainda segundo João Paulo Avelãs Nunes, na sua obra “O Estado Novo e o Volfrâmio (1933-1947)”, a Minero-Silvícola, Lda. era “propriedade do Gabinete do Plano Quadrienal e do Ministério da Economia do Terceiro Reich através da Rowak (de Berlim) e da Sofindus (de Madrid), dedicando-se à produção e venda para a Alemanha de matérias-primas, tais como o estanho e o volfrâmio. A sociedade fora criada em Lisboa a 17 de Dezembro de 1938, transformando-se posteriormente numa “…entidade gestora e coordenadora da actividade de, pelo menos, 12 sociedades com explorações ou com oficinas de tratamento de minérios em Portugal continental.” Citando ainda João Avelãs Nunes “nos anos de 1941 e 1942 a holding Minero-Silvícola, Lda. adquiriu, assim, quotas ou lotes de acções maioritárias na Companhia Mineira das Beiras, Lda.; Empresa Mineira de Folgar, Lda.; Fomento Nacional da Indústria, SARL; Mata da Rainha, Lda.; Sociedade Mineira dos Castelos, Lda.; Sociedade Mineira do Couto, Lda.; Sociedade Mineira de Nelas, Lda.; Tungsténia, Lda.; e Volfrestânio, Lda. (ex-Schwarz & Morão, Lda.).”

O papel de Walter Thobe  seria fulcral no desenvolvimento das concessões nos Carris, “participando na criação das condições para o desenvolvimento e exploração da Mina dos Carris, tais como a difícil abertura e reacondicionamento do estradão de acesso, desde a Portela do Homem, até ao centro nuclear da mina, a concessão do Salto do Lobo, a construção dos edifícios sociais e industriais, e a instalação e posta em marcha dos equipamentos para as operações de extracção e tratamento de minério.”

E assim começaria a exploração industrial do complexo mineiro.

Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui Barbosa, Dezembro de 2013)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

2 comentários:

Francisco Ascensão disse...

Rui, havia alguma maquina que limpava a neve no estradão do Vale do alto homem?

Rui C. Barbosa disse...

Não tenho conhecimento, e possivelmente maquinaria específica, não.