sexta-feira, 1 de maio de 2020

'Carris de Fontaiscas', um topónimo geresiano?


Este texto foi originalmente publicado a 7 de Janeiro de 2016 e agora adaptado.

Um dos meus passatempos favoritos é estudar velhos mapas e livros sobre o Gerês. São nestas verdadeiras memórias do passado onde se encontram tesouros há muito escondidos e esquecidos, quer sejam em formato de memórias visuais (fotografias) quer sejam em formato escrito.

É desta forma, juntamente com a memória oral dos anciãos geresianos e de alguns que vão insistindo em perpetuar velhos nomes, que se consegue descobrir velhos topónimos (orónimos) que são o ser e a alma do Gerês antigo e que a modernidade tem tendência a esquecer com a implementação de designações que são um insulto às gentes do Gerês, tais como são os nomes da 'Cascata do Tahiti' ou da 'Cascata Dulce Pontes'.

Este topónimo intriga-me bastante, pois só o vi citado numa fonte - a revista de turismo Latina na sua edição de Setembro de 1933. Será 'Carris de Fontaiscas', na verdade 'Carris de Fontaiscos' um verdadeiro topónimo na Serra do Gerês?

O topónimo, ou melhor, orónimo 'Carris de Fontaiscas' poderá ser um nome esquecido por entre as fragas da serra. Ora, antes de mais convém esclarecer o que é um orónimo. Por definição, um «orónimo» é o nome dos acidentes geográficos ligados à terra; montes, serras, etc. (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/orónimo [consultado em 06-01-2016]).

O mapa em cima (desenhado à mão e com alguns erros de localização) é datado de Julho de 1933 e localiza este orónimo entre o Pé de Cabril e a Varziela (Bargiela), quase em frente de Carris de Maceira.

Fica uma parte do mapa em cima e um pedido de ajuda para que se possa localizar este local na Serra do Gerês!

A localização deste topónimo é curiosa e por tal não me deixei de recordar sobre o topónimo 'Carris' no texto Minas dos Carris - O porquê de um topónimo? publicado a 21 de Junho de 2018

Fernando Silva Cosme, no seu livro "Pela Serra do Jurês e ao Longo da Jeira - História da Toponímia" diz-nos que "Quanto a Carril e Carris, Cândido de Figueiredo cita-os como provincianismo beirão e transmontano significando 'caminho estreito, carreiro'. Devem ter tido este sentido o Carril de Corujeira de Riucaldo e os Carris de Paredes de Covelães, que são num sítio onde agora passa a estrada mas antes havia aí muitos carreiros. No Jurês Carril também indica um rego e Carris, no plural, passou a designar uma mina de volfrâmio em virtude de ser comum nelas explorarem o minério lavando o terreno através da abertura de carris 'regos para neles meter água e pôr à vista o volfrâmio". Na plataforma mais alta da Serra do Jurês encontram-se, com este sentido, os simplesmente Carris e Carris de Maceira, conhecidos desde há muitos séculos e explorados durante a última Grande Guerra."

A explicação do autor de "Pela Serra do do Jurês e ao Longo da Jeira" é muito confusa e na verdade não explica o porquê do topónimo naquele local, parecendo até que a designação surge devido aos carreiros (carris) abertos para a descoberta de volfrâmio. Não concordo com tal explicação! Isto não explica de todo a origem dos topónimos 'Carris de Maceira' e 'Carris de Fontaiscas'.


Em "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", refiro que "Uma das teorias acerca da origem do nome ‘Carris’ surge devido à possível existência de dois afloramentos paralelos que fariam lembrar os trilhos (carris) de um caminho-de-ferro. Porém, serei mais da opinião de que o topónimo 'Carris' surge do grande número de trilhos de montanha (carril) que se juntariam não muito longe do pico serrano que hoje ostenta esse orónimo. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia Ciências de Lisboa e editado pelas Edições Verbo em 2001, define um «carril» como um caminho estreito, carreiro ou atalho. A zona é salpicada por um grande número de fornos e abrigos de montanha que numa pequena área atinge mais de 50 construções. Não é possível explicar este número somente pela existência das minas (sendo obviamente muitos deles anteriores a estas) e provavelmente as construções terão sido utilizadas não só pelos primeiros mineiros, mas também pelos carvoeiros, pastores, contrabandistas e possíveis peregrinos em deslocação para o São Bento da Porta Aberta ou para São Tiago de Compostela, vindo das terras do Barroso ou das mais longínquas aldeias de Trás-os-Montes. Já na sua obra “Caldas do Gerez – Guia Thermal”  de 1891, o Dr. Ricardo Jorge (imagem em cima) apresenta um mapa do denominado Gerês Florestal onde está assinalado o marco geodésico dos Carris."

As explorações de volfrâmio naquela área remontam ao início dos anos 40 do século XX e como tal não poderia ter sido a actividade mineira a atribuir o nome àquele alto geresiano.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

2 comentários:

isabel Lopes disse...

Os carris do Gerês sempre foram Minas de volfamio Leia a página de José de Assis Goulão o PAI FOI O PIONEIRO DA AINDA CHAMADA SERRA DO GERÊS UMA GEREDIANA

Rui C. Barbosa disse...

"Carris" é um topónimo que existe não só na Serra do Gerês como noutros locais. Se tivesse lido com atenção o texto, teria verificado isso.

"Carris" significa um local onde se juntam vários carris - de carril, trilho de montanha; logo Carris de Maceira ou Carris de Fontaíscos, como é o caso descrito.

Para uma explicação mais detalhada sobre o topónimo, consulte "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", Rui C. Barbosa (Dezembro de 2013).