quinta-feira, 7 de maio de 2020

Fontaiscos - um topónimo perdido na Serra do Gerês


Nos últimos dias tenho-me debruçado sobre este topónimo geresiano. Fontaiscos (ou Fontaiscas) foi um topónimo que designou uma determinada área na Serra do Gerês e que, apesar de surgir na versão mais recente da Carta Militar de Portugal do Instituto Geográfico do Exército como nome de uma ribeira, parece perdido da memória.

De facto, é um topónimo actualmente desconhecido.

O primeiro contacto que tive com este topónimo, na sua versão 'feminina' - Fontaiscas, foi através de um mapa desenhado à mão da autoria de Camacho Pereira e que surge na revista Latina n.º 4 na edição de Julho de 1935 (Volume II). Esta era uma revista portuense que se designava de "intercâmbio latino e panlatinismo, turismo, arte e economia." Neste referido numero foram publicados vários artigos referentes à Serra do Gerês.

A figura seguinte mostra o mapa tal como foi publicado na referida edição da revista Latina...


A imagem seguinte é um excerto do mapa onde aparece assinalado o topónimo "Carris de Fontaiscas"...


Já neste blogue havia várias vezes abordado este tema, nomeadamente nos artigos "Carris de Fontaiscas, um topónimo geresiano?" e "Será 'Carris de Fontaiscas' um erro?" Neste último artigo refiro que "A verdade é que ao olhar para o mapa desenhado por Camacho Pereira em Julho de 1933, ele surge-nos com alguns erros de localização e referenciação de algumas características daquela zona na Serra do Gerês. A Folha nº 30 da Carta Militar de Portugal dos Serviços Geográficos do Exército (tanto na sua versão de 1949 como na versão de 1991) não refere este topónimo (na zona assinalada no mapa de Camacho Pereira). Porém, se estivermos atentos à versão de 1991 da Folha nº 31 vemos a referência à Ribeira de Fontaiscos cujas suas linhas de água se iniciam nas encostas sobranceiras à Lomba de Pau e depois descem para o Vale de Maceira. De notar que na versão de 1949 esta linha de água vem referida como Rio dos Vidos." De seguida os excertos da Carta 31 na versão de 1949 e 1991 (de notar a diferença de designação entre "Rio dos Vidos" e "Ribeira de Fontaiscos")...



Para sublinhar mais este «mistério» geresiano, tive recentemente acesso a um excerto de um mapa que de facto mostra a existência do topónimo "Fontaiscos", mas que por outro lado vem adensar o mistério da sua existência. O excerto do referido mapa é o seguinte (desenhado à escala 1:12.500)...



A seguinte fotografia foi tirada em direcção à Lomba de Pau no sentido Oeste - Este...



Ora, não muito longe do actual abrigo pastoril da Lomba de Pau podemos encontrar os restos de um outro abrigo...



Poderão ser estas ruínas uma indicação do Curral de Fontaiscos? As fotografias seguintes mostram o actual abrigo pastoril existente na Lomba de Pau...



No entanto, e muitas vezes despercebido ao visitante está o que sobra de um abrigo pastoril mais antigo a poucos metros do actual abrigo, tal como se vê nas seguintes fotografias...







Localizado no fundo do Vale de Maceira, Fontaiscos não surge referido em qualquer obra que tenha lido sobre a Serra do Gerês. Acreditando ser um topónimo antigo, Ricardo Jorge (no seu "Gerez Thermal" e Tude Martins de Sousa (em ambos os seus livros sobre a Serra do Gerês) não fazem referência a este topónimo (seja ribeira, curral ou zona de passagem 'Carris').

No entanto, ao voltarmos para o mapa anterior no qual surge referido o Curral de Fontaiscos não deixa de ser notória a ausência da referência ao Curral de Lomba de Pau, surgindo a indicação do pequeno marco triangulado.

A existência dos restos de um forno pastoril anterior ao actual e tendo em conta que na construção do actual abrigo pastoril terá sido utilizado cimento, leva a deduzir que este é muito recente e possivelmente construído com as pedras que eram utilizadas no velho abrigo. Muitos dos abrigos pastoris foram reconstruídos «recentemente», de forma notória a cabana do Vidoal em 1953, tal como atesta uma gravação no granito ali existente e este também consolidado com cimento. No actual abrigo na Lomba de Pau não é visível qualquer inscrição que refira uma data.

Ainda voltando ao mapa anterior devemos ter em conta que, exceptuando casos excepcionais, a designação das características no terreno estão localizadas à esquerda destas.

Tendo em conta estes dados, e estando sujeito a correcções, vou deduzir que o Curral de Fontaiscos estaria, ou mesmo seria, o actual Curral de Lomba de Pau e que o topónimo 'Curral de Fontaiscos' designaria a passagem entre o Vale de Maceira e a Lomba de Pau a Sul da Costa de Covilhão onde se pode ver desenhada a actual sinalética de caminho de pé-posto. (Para a reformulação deste hipótese ver o texto "Revelando um pouco mais sobre o Curral de Fontaiscos"). No mapa manuscrito da revista Latina, Camacho Pereira localizou o topónimo numa zona errada.

Fica também por esclarecer a utilidade das ruínas existentes a poucos metros da Lomba de Pau e que constituíam um abrigo tosco coberto por uma chapa de zinco.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

2 comentários:

pjcps disse...

Boa noite, Rui!
Gostaria de saber a que mapa pertence o excerto desenhado à escala 1:12.500.
Muito obrigado.
Os melhores cumprimentos.
Paulo Santos.

Rui C. Barbosa disse...

Olá!

A escala é 1:10.000 (na altura erradamente pensava que era 1:12.500). São os antigos mapas dos Serviços Florestais dos quais somente tenho este excerto, daí ter levantado as minhas dúvidas.

Cumprimentos,