Todos assistimos com algum espanto ao resgate dos 33 mineiros que ficaram 69 dias (será que também vão tentar fazer alguma relação mística com este número?) presos no interior da Mina de San José, no deserto de Atacama, Chile. O seu resgate é uma história de sucesso que se deve ao empenho de muitos e à utilização de novas tecnologias. De facto, um resgate deste tipo há 10 anos atrás talvez não fosse possível.
Muitas das vezes as histórias deste tipo terminam em tragédia. São dezenas os acidentes em minas todos os anos. Durante a sua laboração, as Minas dos Carris também tiveram os seus acidentes que, infelizmente, terminaram todos em tragédia. Bom, pelo menos não tenho conhecimento de nenhuma história de sucesso... mas quero acreditar que ela existiu...
Não são muitos os registos que testemunham os acidentes mortais nas Minas dos Carris. Já aqui relatei quatro desses acidentes que os volto a recordar. O primeiro terá acontecido a 28 de Janeiro de 1944. Neste dia o vigilante Moisés Peixoto e o mineiro Francisco Lampreia estavam a proceder à colocação de tiros de pólvora bombardeira na frente de uma galeria utilizando um atacador de madeira. Por volta das 12h00 ocorreu uma explosão que causou a morte de Moisés Peixoto, de 32 anos de idade, provocando graves contusões no outro elemento. O inquérito levado a cabo por Manuel António Motta d’Alcântara, representante do Engenheiro Chefe da Circunscrição Mineira do Norte que visita a mina a 28 de Maio, concluiu que a explosão foi “…acidental e de difícil previsão.” É impossível determinar se terão ocorrido outros acidentes mortais nas concessões mineiras perto dos Carris, no entanto a morte do mineiro Moisés Peixoto é a primeira devidamente documentada.
Um novo acidente mortal tem lugar na mina do Salto do Lobo a 4 de Agosto de 1952, vitimando António da Silva , safreiro de 29 anos de idade. Cerca das 23h00 desse dia, António da Silva acabara de dependurar um balde carregado de escombro para ser retirado para o exterior da mina. A extracção estava a ser feita utilizando um guincho equipado com um gancho na extremidade do cabo. Aparentemente, o balde sido terá preso em más condições e durante o seu transporte acabou por se desprender, acabando por atingir o operário na cabeça e nas costas. António da Silva acabaria por falecer minutos mais tarde já a caminho do Hospital de S. Marcos, Braga. Uma carta enviada pelo Director Técnico, Eurico Lopes da Silva, para o Engenheiro Chefe da Circunscrição Mineira do Norte a 6 de Agosto, aponta para o possível descuido por parte do operário, salientando-se que este fora o primeiro acidente deste tipo a ter lugar na mina. Eurico Lopes da Silva refere ainda que “…só o facto de o operário ter verificado o erro da manobra cometido por ele explica a razão de ter continuado no mesmo lugar a observar se o balde se segurava sem se acautelar, como fazia sempre, retirando-se para a galeria após o começo da subida.”
Um inspector da Circunscrição Mineira do Norte é enviado à concessão mineira a 14 de Agosto e o auto de inquérito é enviado para o Ministério Público junto do Tribunal de Trabalho do distrito de Vila Real a 19 de Agosto por parte do Engenheiro Chefe da Circunscrição Mineira do Norte, o Eng. Luiz Azeredo Sá Fernandes. Não se sabe quais terão sido as consequências para a Sociedade bem como as recomendações resultantes do inquérito levado a cabo.
O terceiro acidente mortal ocorre a 6 de Setembro de 1952. Este novo acidente no interior da mina do Salto do Lobo resultará na morte de António de Carvalho, escombreiro de 19 anos de idade natural de Morreira - Braga, no dia 9 de Setembro. O acidente ocorre às 5h30 e resulta numa queda nas escadas no interior do poço desde uma altura de 12 metros. Não havendo uma explicação para esta ocorrência, em carta enviada ao Engenheiro Chefe da Circunscrição Mineira do Norte a 9 de Setembro por Eurico Lopes da Silva, é referido que “…na realidade, sendo o poço, na parte destinada á circulação do pessoal, completamente vedado, não se compreende o que ocasionasse uma queda tal brutal.”
O último acidente mortal de que há registos ocorre a 29 de Abril de 1955 e resulta na morte de Joaquim Rodrigues Lima, de 31 anos de idade. Quando alguns operários, entre os quais se encontravam Arlindo Domingues Salgado, António da Silva Maciel, Joaquim Gomes e Joaquim Rodrigues Lima, iam proceder à remoção de escombro proveniente de uma pega de fogo de 16,5 kg de saedite efectuada às 3h30 no local designado como Recorte Sul do Quinto Piso (a cerca de 50 metros a Sul do poço mestre, os homens sentiram-se intoxicados, tendo de ser retirados para a superfície. Aqui, foram-lhes prestados os socorros necessários pelo enfermeiro da mina. Somente Joaquim Rodrigues Lima teve de ser transportado para o Hospital de São Marcos em Braga, onde viria a falecer na manhã do dia 8 de Maio de 1955.
As testemunhas e o agente técnico de engenharia Brito Murta, que visitou o local após a ocorrência, declararam que não haviam notado diferenças sensíveis do ambiente desse dia e dos dias anteriores, embora as condições tivessem piorado desde que haviam começado a utilizar saedite em substituição da amonite. Assim, a causa da morte de Joaquim Rodrigues de Lima, ficara-se a dever a uma deficiente ventilação verificada nesse dia que não permitiu a diluição de gases tóxicos até uma percentagem não perigosa.
Fotografia: © Rui C. Barbosa
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1 comentário:
Boas, Rui. Gostei da "relação mistica com este número"! Abraço, Jorge sousa
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