segunda-feira, 21 de abril de 2008

Refúgio dos Carris

Carris, 16 de Março de 2008

Aproveitando o comentário pelo Medronho deixado na entrada anterior deste blogue, gostava de saber a opinião dos leitores acerca deste assunto que à primeira vista pode parecer simples, mas que as circunstâncias actuais acabam por tornar complicado. A questão que se coloca é a seguinte: "Tendo em conta o entorno ambiental do local é viável a construção de um refúgio de montanha nos Carris?"

Para os amantes da montanha e das caminhadas ao ar livre a resposta parece ser óbvia. No entanto, penso que um dos principais problemas que aqui se coloca é o impacto no meio ambiente que um abrigo deste tipo teria. Mesmo antes de embarcarmos nas questões da utilização do próprio abrigo surge a eterna questão do comportamento de muitos de nós na montanha em geral e no Parque Nacional da Peneda-Gerês (e nos Carris) em particular. Como sabemos a falta de civismo impera e a prova disso está em que no único local onde se pode ter um tecto de abrigo nos Carris, este está todo conspurcado (tendo em conta aquilo que pude observar no passado mês de Março). Por outro lado, as pessoas (muitas pessoas) continuam a deixar o lixo na montanha ou mesmo a não se importar pelos detritos que deixam cair na lagoa (mesmo que no interior tenham baterias poluentes...). É esta forma de estar que tem de começar a ser alterada, por vezes gosta-se da montanha 'porque está na moda'...

Em minha opinião pessoal penso que um refúgio nos Carris seria muito útil para aqueles que utilizam a Serra do Gerês. Mas colocava a questão: quem iria regulamentar a utilização do refúgio? Quem teria acesso ao refúgio? Que tipo de refúgio seria construído? Como se faria a gestão dos resíduos do refúgio e qual o seu impacto no meio ambiente em torno do mesmo? Como se deveria alterar o Plano de Ordenamento do PNPG de forma a tornar possível a sua construção? Qual o papel do PNPG na sua criação, construção, manutenção, regulamentação, etc... São estas e muitas outras questões que teriam de ser resolvidas antes de um projecto deste tipo avançar.

Crio também aqui no blogue uma simples sondagem para avaliar a opinião dos leitores sobre este tema. Se possível agradecia o vosso comentário!

Fotografia: © Rui C. Barbosa

10 comentários:

Anónimo disse...

na minha opinião, acho que seria muito bem vindo um refugio nas minas dos carris, a questão seria mesmo o que fazer com os resíduos.. para além das questões legais que se iria enfrentar..
de qualquer das maneiras, podes contar cmg.
abraço
Bruno Matias

Anónimo disse...

Ideia excelente!!!! Pena é que duvido muito que o PNPG alguma vez autorize tal coisa...

Recuperar os edifícios e estrada de acesso (só viaturas de socorro, abastecimento e outras oficiais), painéis solares, água da barragem, esgotos recolhidos semanalmente, centro de interpretação das Minas, etc.

Não vejo porque não fazê-lo dentro de todos os parâmetros ambientais e com respeito pela zona onde se insere.

Uma coisa é certa, não me parece que houvesse mais stresses com Perdidos nos Carris!!!

Apesar de tudo era algo inédito em Portugal!!

Abraço
SMedeiros

Anónimo disse...

A ideia é boa só, mas ...

O problema é que há uma questão prévia ao abrigo: pode-se ou não caminhar na zona?

Eu sou dos que penso que a maior ameaça aos Carris é a facilidade com que se chega lá. Só que sou também dos que penso que a solução é fazer com que cheguem lá as pessoas com as motivações que interessam. E isto faz-se também com a educação para as "boas" motivações. Só que um parque sem meios não resolve as coisas pela educação, resolve pela proibição.

Os Carris são uma zona importante para perceber a história e são também uma zona de uma enorme beleza. Não acredito que alguém olhe para Pitões sem vontade de continuar. Poderiam ir todos? Certamente que não. Poderiam ir alguns? Certamente que sim.

O errado é dizer que não pode ir ninguém.

Sejamos claros. Um parque nacional que afaste as pessoas quanto muito é uma reserva sem qualquer sentido ou missão.

Um abrigo nos Carris poderia ser a melhor forma de disciplinar as actividades na zona. Acabaria com a vergonha do lixo. E poderia ainda recuperar um património valioso. Poderia até ser o local indicado para uma espécie de escola de montanha.

O PNPG está ainda convencido que pode impedir o acesso à montanha, quando apenas devia estar preocupado com os parvos que vão para a montanha a latinha de tinta azul de um post anterior. Era a esses que o PNPG devia perseguir.

Se o PNPG me disser não passem naquela zona porque existe lá uma população da espécie X que importa fixar, ou qualquer coisa do género, eu aceitaria. Ou, pelo menos, teria a oportunidade de contraditar algo de concreto. Assim? Fico a pensar na falta de sentido das proibições.

O PNPG precisa de perceber que o homem é parte da solução, não é parte do problema.

Há em Terras de Bouro uma história que ilustra bem o perigo de não perceber esta coisa tão simples. A história da Real Fábrica de Vidros de Vilarinho da Furna sempre me pareceu uma boa ilustração dos perigos de não considerar as populações nas soluções.

Só que isso não deve preocupar muito o PNPG. É uma pena.

É por isso que este blog está a fazer um grande trabalho. Recorda às pessoas e ao PNPG que os locais possuem uma história que deve ser respeitada.

MEDRONHO disse...

No ano passado estive no Refugio da Poqueira - Serra Nevada (2500 m).
Aí só vai um camião levar mantimentos e gás. Quem pretende lá chegar vai a pé.

Dizer que não se deve construir pq as pessoas vão estragar é um mau começo. (Não pinto a parede da escola pq os alunos vão pinta-la com graffits, mau ex.)
Só em pensar que pode ter TODO o ANO dois "guardas" nas redondezas dos Carris é uma vigilância nunca mantida. Além de prestarem serviço de "guias" e informativos.


Em relação às questões ambientais: 1º tudo que se faça numa área é alterar o ecossitema, ex: barragens, pontes, estradas, casas, canos d'água.... Mas esse ecossistema RENOVA-SE. É a função da Natureza.
Saber se é viável aproveitar o que já lá está...era uma excelente solução. E com as "novas" tecnologias acho que é possivel arranjar meios de "escoar" as águas residuais sem estragar o meio ambiente.
Tb estive no Refúgio de Goriz (Piriéus asturianos) e tinham todas as condições necessárias para prenoitar. e estou a falar num local que está a 3000 m.
De certeza qeu arranjaram meios para não estragar/alterar o meio ambiente.


Em relação ao PNPG: só ficava a ganhar. é uma questão de "abrir os olhos" e pensar que o PNPG NÃO é um MUSEU.
(onde se paga bilhete pra entrar.. ver, e...)


p.s.: esperemos que não comecem a abrir estradões para colocar "antenas eólicas" :(

Anónimo disse...

Eu gostaria que houvesse um refúgio no Gerês e sem dúvida que os carris seriam a melhor (ou única) localização possível.

NO ENTANTO, e "leis" à parte, pela minha paixão pelo Gerês, prefiro que tal nunca venha a acontecer. E isto porque infelizmente, não devemos pensar em utilizar uma das zonas mais "selvagens" de Portugal para educar quem por cá caminha na montanha. É obvio que um refúgio nas minas, para além de servir de apoio para NÓS, iria atrair ainda mais gente que não sabe estar nem ser (como já aqui vimos exemplos). E como em tudo, por uns pagam todos.....
Sherpa

MEDRONHO disse...

Sherpa achas que devemos comprar/ter carros? E que devemos conduzi-los?!?
(atenção ao nº da sinistralidade.


p.s.: qd havia as casas dos guardas como é que estava o PNPG?
mimosas, senhores, mimosas!

Anónimo disse...

Acho que uma das soluções para de alguma forma minimizar os danos que esse refugio poderia causar era exactamente não permitir o acesso a veículos para transporte de pessoas.
Ou seja, até se podia arranjar a estrada para que fossem possíveis veículos de emergência, manutenção, etc, mas qualquer pessoa que quisesse aceder ao refugio teria de o fazer a pé. de certeza que isto diminuía logo drasticamente o numero de pessoas dispostas a usufruir desse refugio.

Carlos Manta Oliveira disse...

Sou 100% a favor da ideia de um abrigo, e sinceramente essa ideia dos resíduos nem a consigo entender.

De que têm medo afinal? Da malta que sai de casa de carro para ir ao shopping? Essa malta só sobe se for de escadas rolantes, onde é que vão até ao abrigo nas minas?

Hoje já há poluição/resíduos nos Carris? Pois há, mas mais uma razão para haver um abrigo. O ideal até era haver uma ocupação permanente ou sazonal, mesmo até venda de produtos essenciais, como acontece em toda a Europa.

É que havendo um abrigo, há responsabilidade. Ao passo que hoje os menos cívicos deixam o "lixinho" onde calha, passavam a ter pelo menos um sitio para deixarem o lixo. E quem explorasse o abrigo ficava responsabilizado pela manutenção do lugar.

É evidente que havendo trilhos e serviços de qualidade nesses trilhos, está-se a incentivar o uso dos mesmos. E quanto mais usados forem, maiores os riscos do impacto da utilização. Mas quanto mais condições houver nos trilhos, menos incentivos haverá a que se ande fora deles.

Não concordo minimamente com essa ideia do "vamos manter o povo bruto afastado dos tesouros, senão estragam-nos". A minha opinião é que quanto mais condições houver e mais prazer a experiência de ir até as Mina dos Carris der, mais vontade vai ter quem lá for de proteger esse lugar.

Rui C. Barbosa disse...

Bom Carlos, se não consegue entender a "ideia dos resíduos" então ou não compreendeu o problema ou não conhece o estado da Serra do Gerês em geral e dos Carris em particular.

O problema nisto tudo é que nem precisa de ser a malta dos shoppings a ir para a montanha para as sujar. Supostamente é mesmo a malta que vai para a montanha e que se diz gostar de lá ir (obviamente que não é a malta toda) que a suja, o que não deixa de ser preocupante!

Obviamente que um abrigo nos Carris ajudava a controlar a situação, mas também é necessário percebermos em que país é que vivemos. Podemos falar em idealismos e tal, mas o PNPG simplesmente não tem capacidade para fazer um abrigo lá em cima. E depois há a questão dos lobbies que certamente teria muita influência nisto.

"É que havendo um abrigo, há responsabilidade." Dúvido que uma coisa implique necessariamente a outra. Havendo um abrigo haveria mais gente e nem toda a gente teria a mesma responsabilidade. Se calhar o lugar até estaria limpo, o pior seria o espaço em torno do lugar. Lixo há pela serra inteira e esse só deixa de existir se nos soubermos comportar na montanha.

Ao falar em serviços nos trilhos que tipos de serviços são esses? E como seriam? Pagos? Não pagos? Existem parques com muitos trilhos mas não é por isso que se deixa de ver pessoas fora dos mesmos. E o que acontecia a essas pessoas que fosem apanhados fora dos trilhos? Multas? Coimas?

Se for preciso manter afastado o povo bruto do tesouro porque mesmo que lhe expliquem que não se deve fazer mas que enquanto o percorrer deixa por lá a fralda do bébé, os restos do piquenique, a ponta de cigarro não apagada, o saco de plástico, etc, então sim é melhor mantê-lo afastado e dar-lhe o Ronaldo para ver na TV.

Pedro Fonseca disse...

É com grande interesse que tenho acompanhado este blog, encontrado numa pesquisa do Google :)
Rui, espero que continues com a mesma determinação e que consigas desvendar muitos mais mistérios, histórias e estórias das minas de Carris.

Concordo com o Sherpa e o Rui.
É claro que um abrigo para montanhistas em Carris era fantástico para TODAS as pessoas que gostam do contacto com a Natureza, tanto para os que são civilizados, como para os que vão deixar o lixo em qualquer sítio, como a fralda de bébé, entre outras coisas! Infelizmente, é esta falta de educação e sensibilidade ambiental que caracteriza muitos dos portugueses que passeiam pela montanha. Neste sentido considero a criação de um refúgio de montanha num lugar tão sensível e especial como Carris indesejável.
No ano passado estive meio ano a estudar na Finlândia (programa Erasmus) e apercebi-me da enorme diferença existente entre os nórdicos e os portugueses no que se refere à sensibilidade ambiental. Na Finlândia existem montes de parques naturais onde há abrigos para os montanhistas poderem pernoitar, cozinhar, onde existe uma fogueira e lenha partida pela última pessoa que usou o mesmo abrigo e onde cada um só pode deixar lixo orgânico, levando o resto consigo em saco próprio. Claro que o caso da Finlândia é o "topo", onde quase não existe lixo espalhado pelas florestas etc...

Portanto, acho que sem uma população mais civilizada não devemos ameaçar ainda mais os locais tão sensíveis e de grande beleza como os Carris.

No entanto, considero a tua investigação louvável e de encorajar. Alerto apenas para o facto de ser necessário ao divulgar as minas de Carris, e outros lugares com caracteristicas semelhantes, não descurar a necessidade de ministrar à nossa população cuidados ambientais.

Cumprimentos