Na sua edição de 5 de Novembro de 2025, o jornal regional O Amarense transcreve uma extensa entrevista a Manuel Tibo, edil de Terras de Bouro, no início do seu terceiro mandato à frente dos destinos daquele município.
A entrevista passeia-se pelos projectos antecipados da autarquia, referindo alguns que afectam directamente o futuro do Parque Nacional da Peneda-Gerês, tal como o projecto do famoso teleférico com o qual Manuel Tibo pretende ligar o lugar de S. Bento da Porta Aberta à Pedra Bela.
O teleférico
Citado pel'O Amarense, Manuel Tibo refere que o teleférico "é um projecto da iniciativa privada, não é uma utopia."
Reconhecendo que a situação vivida na Cascata do Arado e na Pedra Bela é de "terceiro mundo" ao encontrar centenas de carros, toalhas e merendas por todo o lado, o edil terrabourense refere que tal situação "não tem qualquer sentido."
Na entrevista concedida, não fica a dúvida se a intenção de interditar o acesso à Pedra Bela e à Cascata do Arado está directamente e intrinsecamente ligada à instalação de uma estrutura que irá alterar por completo uma das mais belas paisagens do país.
Manuel Tibo refere, "mas como se pode chegar a esses locais? Ou por teleférico ou com operadores turísticos, residentes e proprietários ou pelos veículos prioritários dos bombeiros e da Protecção Civil. Quem é de fora ou vai de bicicleta ou a pé. O que não faz sentido é permitir carros naquelas zonas.
O teleférico promove mais qualidade e conservação. Isto sem falar da segurança, porque as pessoas vão para lá à noite e deixam tudo sujo, vandalizam o que nós acabamos de requalificar. Não queremos mais isto.
Tem de haver uma maior presença nossa para criar qualidade na visitação e melhorar a mobilidade dentro do Parque Nacional.
Como está não pode continuar. Milhares de viaturas dentro de um Parque Nacional, entrada descontrolada, é que não pode ser. Precisamos de controlo. E precisamos dos edifícios do Parque requalificados, precisamos de mais vigilantes no Parque, além de um projecto arrojado para arrancar as mimosas."
O fim do ICNF, as relações com o PNPG e a requalificação das Casas Florestais
Opondo-se à anunciada extinção do ICNF, Manuel Tibo refere, no entanto, que é necessário um maior diálogo e confiança mútua entre aquele instituto público, os autarcas e as populações, fazendo notar que não é "a favor é de alguns técnicos que se acham donos do Parque."
Manuel Tibo aponta ainda para a requalificação "de um parque de merendas, com casas de banho" e relembra o protocolado entre a Câmara e o ICNF para a requalificação de seis Casas Florestais "para dar apoio aos bombeiros, às equipas de sapadores e aos vigilantes," referindo ainda não fazer sentido que estes tenham de descansar dentro das suas viaturas.
Estrada da Albergaria (Estrada da Geira) e a taxa
O tema da Estrada da Albergaria (ou para melhor esclarecer a Estrada da Geira), foi também abordado nesta entrevista.
Define-se a "Estrada da Geira" como o troço que se inicia na Guarda (Campo do Gerês) e termina no entroncamento acima da Casa Florestal da Albergaria. De notar que parte deste percurso foi já intervencionado com a colocação de pavimento em calceta entre a Fonte do Sarilhão e a Ponte do Sarilhão, bem como entre a Casa Florestal da Albergaria e o entroncamento com a estrada asfaltada.
O concurso para a execução desta obra está em fase de verificação da empresa a quem foi adjudicada a obra no valor de um milhão de euros e que irá arrancar "o mais rapidamente possível."
O Amarense questiona sobre a importância desta estrada definindo-a como «estratégica por autarcas». Ora, a Geira foi finalizada no ano 80 e ao longo dos séculos serviu de ligação com a vizinha Galiza. O seu traçado foi em parte inundado pela albufeira da barragem que afogou Vilarinho da Furna e outra parte foi «enterrada» quando os Serviços Florestais a melhoraram para dar acesso à Casa Florestal da Bouça da Mó (entretanto desaparecida devido à referida albufeira).
Quando se ambicionou a melhoria da ligação à fronteira da Portela do Homem, consideraram-se várias opções - de facto, uma delas preconizava a abertura de uma ligação entre a Junceda e a Portela de Leonte passando junto do Pé de Cabril (Plano Rodoviário de 1944), e uma outra opção veria uma estrada a percorrer a margem direita do Rio Homem a partir da Barragem de Vilarinho das Furnas (1970).
Manuel Tibo responde à questão d'O Amarense, "é uma via estruturante das acessibilidades entre Portugal e Espanha. Estava um caos. Era deitar dinheiro foram só para tapar os buracos. Nunca desisti da estrada, de forma a criar condições, em primeiro lugar, para as pessoas, e, depois, para a Natureza. Claro que não queremos ali (...) uma autoestrada ou uma via rápida. Queremos uma estrada, queremos o piso com boas condições."
Em relação à taxa de acesso à Mata de Albergaria, Tibo indica que o seu valor poderá vir a aumentar, "já não é actualizada há uma data de anos. A taxa serve para pagar as despesas inerentes ao funcionamento da própria portagem e o que sobre é para investir na Mata de Albergaria."
Apesar de, a 2 de Outubro, o autor deste texto ter solicitado ao Município de Terras de Bouro o envio de uma cópia do projecto e / ou memória descritiva dos melhoramentos que estão previstos para serem efectuados em referida obra, esta solicitação ainda não obteve qualquer resposta, tendo acontecido o mesmo com o parecer sobre a obra solicitado ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
O combate à sazonalidade
Uma das principais chagas que afectam o concelho, ou parte dele, é a profunda dependência da sazonalidade turística.
Em tempos, dizia-se que "o Gerês vivia durante seis meses" e que adormecia o restante tempo, fruto do estio e da época termal. Mais recentemente, a afluência turística notava-se mais nos meses de Verão, devido às (mais do que divulgadas) lagoas e cascatas. O ano de 2025 trouxe uma verdadeira debandada e nem Sta. Marinha serviu de início da verdadeira enchente.
A sazonalidade encolhe-se cada vez mais e a solução parecem ser umas piscinas de água quente.
A 17 de Outubro foi celebrado "um protocolo com as Águas do Gerês para aproveitamentodas águas termais, que prevê a construção de um passadiço entre o hotel e as piscinas cobertas e a utilização das águas quentes sobrantes para aquecimento das piscinas. Este aquecimento da água das piscinas seria uma forma de combater a sazonalidade."
Segundo Manuel Tibo, este não será uma espécie de "Lobios do Gerês," mas sim "um projecto diferenciador" que envolve "muito estudo," sendo "muito burocrático, e que, nestas coisas, se demora muito. O pontapé de saída foi dado e estamos muito orgulhosos."
Perante esta entrevista deduz-se que o Município não tem qualquer intenção de tirar partido e de colocar o concelho no mapa das actividades de montanha a nível nacional (ou mesmo internacional), o verdadeiro e único vector capaz de por termo, a longo prazo, à sazonalidade que fecha hotéis, lojas, cafés, restaurantes e torna o Gerês um espaço deprimente quando chegam os dias mais escuros do Outono e Inverno.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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