Um dia a cheirar a Outono que começou com um céu de um profundo azul e terminou em tons plumbeos a ameaçar chuva.
A jornada foi desejada e longa, cobrindo o estradão florestal que se inicia já do lado galego da geresiana serra e serpenteia ao longo de pequenas corgas e vales até chegar ao longo Vale do Rio de Vila Méa que nos leva ao caminho final para o complexo mineiro Mercedes As Sombras. Caminha-se nos espaços do Parque Natural de Baixa Limia - Serra do Xurés e atinge-se uma das suas áreas de reserva na zona de fronteira a caminho do velho complexo mineiro.
Chegados à Portela da Amoreira, entramos na zona de protecção total do Parque Nacional da Peneda-Gerês; verdade, as duas áreas protegidas compõe a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés. Esta foi a "1.ª Reserva da Biosfera Transfronteiriça. Situa-se no Norte de Portugal, na transição entre o Minho e Trás-os-Montes e no Sudoeste da província Ourense na Galiza, Espanha. As Reservas da Biosfera são nomeadas pela UNESCO. Visam promover a conservação da natureza em harmonia com o bem-estar das pessoas. A Reserva da Biosfera Gerês/Xurés compreende o Parque Transfronteiriço Gerês-Xurés, criado em 1997, composto pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês e o Parque Natural da Baixa Limia-Serra do Xurés. Apresenta uma riqueza natural e cultural de grande singularidade."
De facto, a componente histórica é de elevado valor, transcorrendo uma linha do tempo que nos transporta desde os anos pré-históricos até à História contemporânea. No entanto, parte desta História é ignorada, apesar da sua importância em termos das dinâmicas territoriais que em períodos mais bélicos marcaram estes espaços. É tudo uma questão de políticas extremistas que ainda marcam a forma como se dirige as áreas protegidas. Adiante...
Localizada dentro da Zona de Especial Protecção dos Valores Naturais do Parque Natural de Baixa Limia-Serra do Xurés, O complexo mineiro encontra-se "... na vertente oeste do Maciço Sobreiro – Altar dos Cabrões, a uma altitude de 1.250 m, nas fontes do rio de Vilameá.
A mina compõe-se de várias extracções superficiais e de uma boca mina que se penetra da terra, com várias galerias a nível que avançam seguindo o filão. Primeiramente, as perfurações fizeram-se de forma individual e livre, com martelo e picareta. Mas a partir do ano 40 a situação regulariza-se, com a concessão da exploração a uma família de peso na época, os Tejada. Criaram uma companhia que modernizou as Sombras pouco a pouco, chegando a levar luz eléctrica. Construíram barracões para dormirem os trabalhadores e substituíram o martelo e a broca de grandes dimensões dos picadores, por um compressor para perfurar, dotando-os também de lanternas de iluminação.
O volume de tout-venant extraído era depositado numa vagoneta que o transportava à sala de lavagem e selecção. Ali dispunha-se numa mesa que o batia de forma constante ao mesmo tempo que tinha água corrente que arrastava a areia, e o mineral, mais pesado, ficava, passando a ser armazenado em sacos.
O trabalho realizava-se em dois turnos de 8 horas de Segunda a Sexta-feira, apesar de haver muitas denúncias de sobre-exploração. Nos anos posteriores à Grande Guerra a mina deixou de ser rentável e foi abandonada.
Na actualidade, o complexo está em ruínas, com a casa das máquinas desfeita e a boca da mina fechada com um tabique de bloqueio, restos de ferros, vidros, vigas, e três grandes entulheiras. Deve-se pensar nas Sombras como uma exploração menor se comparada com a sua vizinha dos Carris.”
Da instalação elétrica resta um edifício de transformadores, construído em tijolo revestido com argamassa de cimento. Imagens de 6 de Agosto de 2006.
O acesso ao interior das galerias está vedado com um gradeamento actualmente com o cadeado vandalizado. Caso se entre na galeria, deve-se ter especial cuidado na deslocação. Da mesma, deve-se ter cuidado na preservação das colónias de morcegos que habitam o seu interior, sendo uma zona protegida.
A zona do complexo mineiro foi sujeita a trabalho de limpeza e de ordenamento do espaço, preservando as ruínas e transformando-as no ponto de interesse no Parque Natural. Sofrendo de degradação e vandalismo ao longo dos anos desde o seu encerramento em 1976, é complexo é visto agora como ponto de histórico da região.
O complexo mineiro de As Sombras
Tal como acontece com muitos velhos complexos mineiros por toda a Espanha, também as Minas das Sombras foram transformadas num ponto de visita e de formação ambiental numa área protegida.
Além do seu interesse como local mineiro, onde se pode observar o tipo de jazida e vestígios de obras e instalações, é também um ponto de interesse geológico, para poder compreender a configuração da paisagem e observar a sua geomorfologia.
A jazida foi descoberta em 1936, quando os afloramentos de veios começaram a ser explorados de forma rudimentar. A exploração subterrânea foi realizada entre 1952 e 1971. Em 1976 foram novamente realizados trabalhos de relavagem dos rejeitos para recuperação da scheelite que continham, uma vez que durante a exploração da mina maioritariamente se fez a exploração de volframite.
O Instituto Geológico e Mineiro de Espanha - IGME - (1978) indica que as operações mineiras nesta área começaram com as conceções “Mercedes 2ª” e “Extensão a Mercedes”, seguidas de outras realizadas em 1941 e início de 1942. Fruto da reunião de diversas concessões, localizadas na encosta da Serra do Xurés formou-se o grupo mineiro "As Sombras".
Segundo a informação acessível no Cadastro Mineiro da Galiza, em 2013, constata-se que todos os direitos mineiros que cobrem a área explorada da jazida e a sua envolvente, já caducaram.
A zona mineralizada d'As Sombras localiza-se no granito pórfiro do Gerês, sendo composto por megacristais de feldspato de potássio numa matriz de grãos médios a grossos. Estruturalmente, a fraturação NNW-SSE delimita os grandes corredores graníticos.
O IGME (1985) descreve o sítio mineiro como formado por um denso pacote de veios de quartzo e feldspato que se enquadram no granito do “batólito de Lovios-Gerês”. Estes veios formam uma faixa com o granito alterado que os contém, faixa com contactos nítidos e bem definidos. Esta estrutura mineralizada apresenta orientação quase norte-sul, com profundidade entre 2 e 3 m e comprimento superficialmente reconhecido de aproximadamente 1.100 m.
Passando a fronteira e dirigindo-se ao marco geodésico dos Carris, nota-se ainda de forma marcada os efeitos de um Verão muito quente e extremamente seco. Os pequenos ribeiros estão secos e os prados apresentam-se queimados pelo Sol. Os animais deambulam na busca incessante de pastos mais apelativos, enquanto os dias se encurtam em direcção a um Outono que irá chegar.
A chegada ao complexo mineiros dos Carris foi já feito com o dançar dos primeiros farrapos de nuvens sobre a velha represa, um oásis por entre o ressequido granito tostado pelo Sol ao longo de várias semanas.
O regresso seria feito de forma tranquila descendo o Vale do Alto Homem e olhando o céu que se ia escurecendo enquanto as nuvens começavam as lamber os píncaros serranos na Encosta do Sol. Lá atrás, o Modorno mantinha-se imóvel, hirtamente guardando as passagens.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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