Com a Primavera instalada no calendário, os dias ficam «maiores» e chega a época das grandes jornadas nas quais podemos ficar mais tempo na montanha ou então alongar um pouco mais os nossos percursos.
O meu objectivo nesta incursão na Serra do Gerês era o de chegar ao marco geodésico dos Carris e daqui iniciar um percurso até aos Prados da Messe com posterior descida pela Costa de Sabrosa.
A parte inicial da jornada foi enveredada pela familiar paisagem do Vale do Alto Homem que já tantas vezes percorri para atingir as Minas dos Carris. Este é um local que nos permite os grandes espaços, porém, o que tentava atingir iria proporcionar-me um horizonte no qual iria abarcar longas distâncias e perspectivas únicas.
A descrição da subida do Vale do Alto Homem pode ser lida com pormenor aqui.
A subida para o marco geodésico foi feita deixando o caminho para a Carvoeirinha / Minas dos Carris pouco depois de passar o Curral de Cabanas Novas (ou do Conde de S. Lourenço). Por aqui, o acesso ao marco geodésico leva-nos a passar por restos de explorações a céu aberto que usualmente não vemos quando visitamos as Minas dos Carris. Estas trincheiras mineiras são acompanhadas por vários abrigos de pedra solta semelhantes aos tradicionais fornos pastoris.
O marco geodésico dos Carris encontra-se a 1508 metros de altitude e a paisagem leva-nos a abarcar todo o Parque Nacional da Peneda-Gerês desde a Pena de Anamão, nas lonjuras da Serra da Peneda, passando pelo Alto da Pedrada - Serra de Soajo, as encostas da Serra Amarela e todos os grandes altos da Serra do Gerês, terminando nos Cornos da Fonte Fria já nos domínios de Pitões das Júnias.
Após alguns minutos naquele lugar, desci para as ruínas do complexo mineiro dos Carris.
Não é possível estabelecer uma data definitiva que nos marque na história o dia no qual foi iniciada a exploração de volfrâmio na zona que hoje conhecemos como o complexo mineiro dos Carris. Certamente que durante tanto o primeiro conflito mundial e mais intensamente no período inicial da Segunda Guerra Mundial, a Serra do Gerês terá sido varrida em busca do ouro negro.
A exploração das Minas dos Carris pode ser dividida em várias fases distintas. Não tendo em conta as explorações artesanais que podem ter ocorrido antes do estabelecimento da primeira concessão legal, a primeira fase terá início já durante a Segunda Guerra Mundial e a exploração é baseada nos trabalhos executados entre 1941 e 1943 onde a exploração é feita em aluvião ou com pequenas perfurações, sendo a exploração muito rudimentar. A segunda fase decorre em 1943 e 1944/1945 levada a cabo por uma empresa portuguesa denominada Sociedade das Minas dos Castelos, Lda. que extrai volfrâmio para ajudar na máquina de guerra nazi, já através do alargamento da exploração e da sua iniciação em profundidade. Alguns dos edifícios que ainda hoje são possíveis de visitar no complexo mineiro, são contemporâneos desta fase de exploração. Poucos meses após o final dos trabalhos de exploração nas concessões mineiras dos Carris, finda a Segunda Guerra Mundial. A Sociedade Mineira dos Castelos, Lda. passa a ser dirigida por uma comissão liquidatária nomeada pelo estado português até que em princípios dos anos 50 as concessões são compradas e concessionadas à Sociedade das Minas do Gerez, Lda. É esta sociedade que vai levar a cabo uma nova fase de exploração mineira ao mesmo tempo que vai dotar o complexo de estruturas mais modernas e avançadas por forma a rentabilizar a extracção mineira. Os trabalhos serão levados a cabo até 1957 / 1958, altura em que a mina é «abandonada» até ao início dos anos 70.
A década de 70 do século XX marca assim a fase final de exploração mineira que se vai prolongar até 1974 / 1975. Uma última tentativa de reactivar as Minas dos Carris nos princípios dos anos 80 não tem sucesso, muito em parte devido à implementação do Parque Nacional da Peneda-Gerês e das emergentes preocupações ambientais.
Com o final da exploração todo o complexo foi abandonado. As pilhagens e os actos de vandalismo trataram de desnudar as paredes e tectos das casas que, juntamente com a intempérie do duro Inverno da serra geresiana, foram degradando as construções. Mais eficaz que os elementos naturais, a acção do Homem foi destruindo os edifícios das Minas dos Carris, levando as telhas para melhorar as suas casas, retirando o cobre das ligações eléctricas, as louças, os azulejos e tudo o que se podia aproveitar. Os actos de vandalismo também foram ocorrendo por puro prazer destrutivo, dando a machadada final em muitos edifícios. Aos poucos e poucos o complexo mineiro vai desaparecendo da memória paisagística e dos Homens.
«Perdidas» nos imensos espaços serranos do Gerês, as ruínas das Minas dos Carris representam hoje um belo exemplo do que não se deve fazer em relação à preservação de um valioso património mineiro que somente uma execrável ganância ambiental conservacionista, incompreensivelmente mal planeada ao longo de décadas pode explicar. Tal como a Dra. Maria Otília Pereira Lage referiu no contexto do primeiro plano de ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês, “a sua localização no interior de uma área protegida com um estatuto muito restritivo de visitantes, faz com que as evidências da actividade mineira que ainda existam, possam e devam ser preservadas, particularmente no que respeita aos testemunhos imóveis.”
A preservação já por tantas vezes apregoada por académicos seria da responsabilidade do Parque Nacional da Peneda-Gerês, entidade com a suprema responsabilidade na preservação e conservação do património natural e humano. Porém, desde o encerramento das minas absolutamente nada foi feito nesse sentido e aquele local sempre foi visto com ignorantes «maus olhos» por parte de muitos dos técnicos daquela instituição, constituindo assim um dos muitos não-paradigmas da preservação arqueológica nacional. Nos nossos dias, as ruínas das Minas dos Carris são a tela do vandalismo e o cenário da destruição devido a diversos factores. Aquele é simplesmente um espaço esquecido, deitado ao abandono e muito próximo do limite do irrecuperável.
O autor já por diversas vezes alertou para a necessidade de se conservar um património histórico tendo mesmo no debate público do Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês, dado a sugestão de se criar um trilho interpretativo que, à semelhança do que é feito, por exemplo, no Parque Nacional dos Picos da Europa – Astúrias, Espanha – possa servir de referencial histórico e memória conservacionista das vidas passadas nas escuras galerias que em tempos ganharam o sustento de muitas famílias. A utilização e recuperação de um dos edifícios mineiros como abrigo de montanha poderia ter uma dupla utilidade: por um lado na promoção de um contacto mais directo e responsável com o Parque Nacional e por outro perpetuar a memória daquele lugar.
A área próxima do marco geodésico Carris foi extensivamente batida em busca de afloramentos de volfrâmio na primeira metade de 1941. A 24 de Junho, Domingos da Silva, um jornaleiro de 29 anos de idade da pequena aldeia de Outeiro, Montalegre, entrega na Câmara Municipal daquele concelho um manifesto mineiro para assegurar os direitos de concessão no sítio denominado ‘Salto do Lobo’ onde terá descoberto volfrâmio e outros metais por simples inspecção de superfície. Domingos da Silva determina o centro do que denomina como ‘Corga do Salto do Lobo’, medindo 550 metros para o Norte. O pedido de alvará de concessão tem lugar a 12 de Setembro e dá entrada na Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos quatro dias mais tarde. O pedido é feito para o sítio ‘Salto do Lobo ou Carris’, designação depois rasurada e sendo-lhe atribuído o n.º 10.730. No entanto, e segundo um documento originário da Sociedade Mineira dos Castelos Lda., que mais tarde viria a explorar as diversas concessões mineiras, outros registos mineiros haviam já sido realizados a 15 de Maio de 1941 (registo n.º 283 “Salto do Lobo”), a 6 de Junho (registo n.º 296 “Carris”), a 16 de Junho (registo n.º 299 “Corga das Negras”) e a 28 de Julho (n.º 327 “Carris”).
Este é de facto um período de intensa busca de volfrâmio pela Serra do Gerês com o aparecimento de vários manifestos mineiros em várias áreas da Serra do Gerês. A 28 de Junho, Mário de Sousa Correia Barbosa iria entregar na Câmara Municipal de Montalegre um requerimento para a concessão da mina de volfrâmio dos Cornos da Fonte Fria (registo n.º 306), em Pitões das Júnias e a 19 de Setembro José Gonçalves Ferreira requeria a concessão da mina de volfrâmio Alto do Fojo de Alcântara (registo n.º 353), em Cabril.
A grande procura de concessões mineiras acabou por trazer conflitos em muitas regiões do país e a zona dos Carris não foi excepção. A 11 de Julho de 1941 dá entrada na Câmara Municipal de Montalegre um pedido de registo mineiro por parte de José Maria Gonçalves de Freitas, de Montalegre, com a designação “Carris e Salto do Lobo”, sendo-lhe atribuído o registo mineiro n.º 318. O pedido de concessão mineira daria entrada na Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos a 20 de Setembro, sendo-lhe atribuído o n.º 10994. Os éditos mineiros para esta concessão seriam publicados no Diário do Governo de 14 de Outubro de 1941, e com este manifesto dava-se início a um conflito que iria durar quase dois anos e que iria prejudicar o desenvolvimento mineiro naquela zona da Serra do Gerês com os diferentes lados a demarcarem sucessivas concessões para assim impedirem o aceso mútuo à concessão principal.
Todo o impasse que se origina naquela zona mineira, seria resolvido em finais de Fevereiro de 1943 com a entrada em cena da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., uma sociedade comercial por quotas com sede social na cidade do Porto e que tinha como sócio gerente Hans Carl Walter Thobe.
Chegados a um acordo com a Sociedade Mineira dos Castelos, tanto o grupo encabeçado por José Maria Gonçalves de Freitas como Domingos da Silva, Lda. iriam ceder os direitos dos respectivos registos mineiros. A primeira cessão de direitos dá-se a 23 de Fevereiro de 1943 numa sessão que tem lugar na cidade do Porto e onde comparecem José Maria Gonçalves de Freitas, António Barroso, Domingos Lopes, Domingos Gonçalves Ferreira e Adriano Ferreira Fontes, detentores do registo mineiro n.º 318 com a designação “Carris e Salto do Lobo” na Câmara Municipal de Montalegre, e António Augusto Gomes, um químico do Porto. Uma nova cessão de direitos envolvendo o registo mineiro n.º 318 é levada a cabo a 25 de Fevereiro entre António Augusto Gomes e Hans Carl Walter Thobe, sócio-gerente e representante da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda. Tal como aconteceu na primeira cessão de direitos, esta envolve também o pagamento de 80.000$00 com a sociedade a assumir todos e quaisquer encargos com a concessão mineira. Ainda a 25 de Fevereiro tem lugar uma terceira cessão de direitos desta vez entre a firma Domingos da Silva. Lda. e Hans Carl Walter Thobe. Curiosamente, e ao contrário do que sucedera na cessão de direitos entre o grupo de José Maria Gonçalves de Freitas e António Augusto Gomes, este surge referido como sócio-gerente e representante da Domingos da Silva, Lda., tendo-lhe sido outorgados direitos para tal numa reunião levada a cabo a 23 de Fevereiro. Nesta sessão, António Augusto Gomes cede todos os direitos da concessão mineira do “Salto do Lobo” identificada como localizada no Lugar de Carris, Cabril. A cessão dos direitos é feita pela quantia de 95.000$00.
Sanados os conflitos, a Sociedade Mineira dos Castelos Lda. Irá impulsionar o desenvolvimento das instalações mineiras ao mesmo tempo que constrói um acesso mais fácil para as minas até então somente acedidas através de carreiros de montanha. A 20 de Abril de 1943 a Sociedade Mineira dos Castelos faz o requerimento para a reparação e melhoramento do caminho florestal no Vale do Alto Homem. O despacho ministerial a autorizar os trabalhos de reparação e melhoramento é emitido a 19 de Maio e comunicado à sociedade mineira a 24 de Maio. A 3 de Junho é feito um requerimento para a utilização da estrada entre a Portela de Leonte e a Albergaria, utilização essa que é autorizada por despacho ministerial a 16 de Junho e que é comunicado à sociedade mineira a 22 de Junho.
As obras de abertura e melhoramento da estrada foram uma fonte de trabalho para muitos homens das aldeias vizinhas mas não só, estando também presentes operários vindos do Alentejo. Segundo Manuel Joaquim Correia, citado no capítulo 7 do artigo ‘As Minas dos Carris da Serra do Gerês’ publicado no Jornal Geresão “…na abertura da estrada andaram umas 1.600 pessoas (…) em 1943 seriam umas 3.000 pessoas a trabalhar na abertura da estrada, na construção de instalações e na exploração mineira.”
Com a exploração mineira a ter inicialmente uma maior intensidade à superfície em 1941 e 1942, o filão começa a ser explorado em profundidade durante 1943. Os trabalhos tiveram especial ênfase no seguimento dos afloramentos do filão com os trabalhos de preparação a entrar com galerias que iriam delimitar no futuro os diferentes pisos da mina. Segundo o “
Relatório dos Trabalhos Executados até 31 de Dezembro de 1943” elaborado a 2 de Janeiro de 1944, as galerias iniciais (n.º 1 e 2) delimitariam um dos primeiros pisos, enquanto que a galeria n.º 4 iria delimitar o piso à cota dos 1.400 metros. Por outro lado, o poço n.º 1 iria permitir reconhecer o jazigo em profundidade até aos 25 metros, altura em que se procedeu à abertura de duas galerias na direcção do filão para Norte e para Sul, delimitando assim outro piso. Nesta fase, a galeria n.º 1 tinha cerca de 10 metros de comprimento, a galeria n.º 2 tinha 8 metros de comprimentos, a galeria n.º 4 tinha 41 metros de comprimento e o poço n.º 1 uma profundidade de 6,50 metros. Para se proceder ao escoamento de toda a água e para se obter uma ventilação suficiente para os trabalhos que eram servidos pelo poço, procedeu-se à abertura de uma travessa (travessa n.º 1) que cortaria o filão a 20 metros de profundidade. Esta travessa tinha um comprimento de 27 metros em finais de 1943. Neste ano descobriu-se um novo filão a que chamariam ‘O Filão do Paulino’, mais tarde simplesmente ‘Filão Paulino’. Para a exploração deste filão começaram a abrir uma galeria à cota de 1.395 metros, dando origem à galeria n.º 3 que tinha um comprimento de 18 metros a 31 de Dezembro.
Nesta altura, e devido às características do terreno, não existia entivação das galerias nas quais o material era deslocado (tal como no exterior) em vagonetas assentes em linha Decauville. A perfuração era feita utilizando ar comprimido. O poço n.º 1 estava localizado a meio do perfil longitudinal do jazigo, sendo um poço vertical de secção rectangular de 3,20 por 1,80 metros. No poço a entivação era feita por quadros de madeira e era composto por três compartimentos, sendo um de escadas e acessórios e dois de extracção. No interior das galerias encontravam-se escadas posicionadas paralelamente de 3 em 3 metros e com uma inclinação de 70º. No interior existia um sistema de tubagens de ar comprimido para saída de água do poço e dos escapes de gases da bomba de extracção de água no compartimento de baixada. O equipamento exterior era composto por um sarilho de madeira que era armado com um cabo de aço e duas cubas com uma capacidade de 50 litros cada. O equipamento era munido com um sistema de segurança. Os trabalhos de extracção exteriores concentravam-se na exploração dos aluviões que era feito pelos denominados apanhistas no aluvião da Lama Pequena. Segundo Manuel Lage, “o minério era retirado de buracos a céu aberto e depois de colocado em sacos, estes eram transportados para um local de lavagem que era feito por mulheres que utilizavam gamelas para limpar o minério. Só mais tarde construíram a lavaria que depois passou a separadora.”
A 5 de Junho de 1944 após fortes pressões por parte de Grã-Bretanha, mas com a oposição inicial de Oliveira de Salazar, é decretado um embargo à venda de volfrâmio à Alemanha após um acordo com Londres e Washington. Tendo em conta que muitas das concessões mineiras se encontravam de facto nas mãos da Alemanha através de empresas fachada nacionais, a situação económica destas companhias tornava-se complicada. Havendo representantes do Eixo nas Minas dos Carris, estes terão abandonado as concessões nesta altura.
A Sociedade das Minas do Gerez, Lda. foi a terceira empresa a laborar nas Minas dos Carris depois da Domingos da Silva, Lda. e da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda. A Sociedade, constituída a 8 de Julho de 1950, é inicialmente constituída por capitais totalmente portugueses tendo quatro sócios iniciais, José Antunes Inácio (de Lisboa), José Rodrigues de Sousa (de Lisboa), José Pinto Carvalheira (Ourondo, Covilhã) e Francisco Delgado França, também conhecido por ‘Chico França’. Iniciando a sua actividade a 1 de Julho de 1950, esta sociedade é criada com o objectivo de levar a cabo e desenvolver a exploração mineira nas concessões já existentes na Serra do Gerês e que se encontravam de facto abandonadas desde o final da Segunda Guerra Mundial. O seu capital social era de 800.000$00 repartido por quatro quotas iguais no valor de 200.000$00 cada. Em constituição, a gestão da sociedade foi atribuída aos quatro sócios, mas nas relações com o Estado a sociedade era representada por José Inácio. A escritura da constituição da sociedade é apresentada a 23 de Setembro e a sua constituição é publicada no Diário do Governo de 15 de Julho de 1950. Mais tarde a sociedade teria a participação da empresa inglesa ‘Mason And Barry, Ltd.‘ com a qual José Rodrigues de Sousa trabalhara nas Minas de Trancoso. José Rodrigues de Sousa já tinha trabalhado na Sociedade Mineira dos Castelos, Lda. através da Empresa Mineira Lisbonense, durante os anos 40.
A Sociedade das Minas do Gerez terá sido a primeira a organizar a concessão como uma mina no verdadeiro sentido da palavra por duas razões: o filão de volfrâmio passou a ser mais profundo deixando de ser uma mina a céu aberto, o que exigia uma organização e técnica muito mais sofisticada; José Rodrigues de Sousa, este queria ter uma mina tecnicamente evoluída e uma aldeia mineira socialmente bem organizada, “…a mina de volfrâmio dos anos 40 era constituída por uma lavaria / separadora alimentada por centenas de «apanhistas» que vendiam à mina o volfrâmio que recolhiam das explorações a céu aberto.” Nesta altura não existiam preocupações sociais, uma leve organização e maquinaria básica com intuito de ganhar o máximo lucro possível. “Por outro lado, as Minas dos Carris dos anos 50 já tinham uma vida organizada e do ponto de vista técnico a maquinaria era muito boa.” Esta maquinaria foi toda retirada e roubada por um dos últimos sócios da mina nos anos 70 (segundo o último director técnico e sócio, um russo chamado Sasha). Segundo Virgílio de Brito Murta, a partir de 1954 “aumentou-se a altura do paredão da barragem, aumentou-se a Secção Técnica, aumentou-se a serralharia, instalou-se a secção de escolha manual na lavaria, instalou-se a secção de flutuação e cobriu-se o trajecto da mina à lavaria construindo-se ao mesmo tempo a oficina de afiação de brocas e reparação de martelos bem como o escritório do Encarregado, junto à boca da mina. O resto já existia.”
Após o fim da Segunda Guerra Mundial as cotações do volfrâmio caiam nos mercados internacionais, pois o minério começa a ser importado da China, Birmânia e Bolívia. Porém, com o emergir da Guerra-fria e os sinais cada vez mais fortes do início de um novo conflito na Península Coreana, levam ao aumento das cotações dos minerais volframíticos nos mercados internacionais devido também às dificuldades na obtenção de abastecimentos a partir da Ásia Oriental, Portugal torna-se numa fonte apetecível de volfrâmio.
Com a transição das concessões mineiras para a Sociedade das Minas do Gerez, todas estas concessões irão ser alvo de novas remarcações. Uma brigada da Circunscrição Mineira do Norte visita o complexo mineiro a 25 de Junho a caminho da concessão do Castanheiro onde irá fazer novo reconhecimento da mina para que esta seja convertida em concessão definitiva. O respectivo relatório de reconhecimento dá-nos uma ideia do estado da concessão mineira naquela altura num texto que quase roça a prosa poética: “Está-se em plenas alturas geresianas, a altitudes entre 1250 e 1400 metros da nossa serra mais rude e áspera. Granitos em caprichosos e gigantescos afloramentos sucedem-se numa avalanche de múltiplas e variadíssimas feições topográficas, com ascendência característica da serra para as profundas e íngremes ladeiras, encaixando tortuosos ribeirinhos, separados por altos picos. Por toda a parte uma vastidão de fantásticos blocos rochosos ora irregularmente distribuídos por altos e ladeiras, ora como que metodicamente sobrepostos simulando ciclópicos muros de insuperável protecção a baixios, por onde irrequietas e velozes águas se escapam a caminho de sossegadas regiões. Quando a erosão forçou à deposição de espessos depósitos nos baixios, constituem-se o que lá chamam ‘lamas’, troço de terreno relativamente rico apesar das péssimas condições climatéricas locais (extremamente frio, com neves mais ou menos duradouras). A este conjunto acrescente-se o imenso e profundo silêncio da inactividade, da quasi total esterilidade nestas alturas onde em extensas áreas não existe uma árvore nem se vê uma ave. Paira o nada, mas numa leveza e subtilidade tais, que não nos suscita impressão de pequenez ou insignificância, pelo contrário, a paisagem é tão bela no seu conjunto, esbatido em profundas extensões, que nos dá a impressão de estarmos num maravilhoso (embota tosco) pedestal, dominando, em soberbo miradouro, este cantinho de Portugal.”
O complexo mineiro era uma pequena aldeia encravada nas montanhas geresianas e a vida corria de forma normal. Carlos Sousa, filho de José Rodrigues de Sousa, deu-nos uma visão da sua vida de criança nos Carris, “de 1951 a 1957 foi um conto de fadas como seria para qualquer miúdo citadino daquela idade. Tinha o meu cavalo, botas alentejanas, esporas, uma espingarda e uma pistola de pressão de ar. Ia para a cantina conversar em vernáculo do mais pesado com os mineiros, tinha as encostas para trotar e sonhar com os cowboys, era tratado como um príncipe, em vernáculo que era mais interessante para mim mas como um príncipe, comia como um «lord» e ainda o mais extraordinário podia guiar o jeep no campo de futebol depois dos jogos....há mais alguma coisa que um miúdo possa querer? O meu pai deixava-me levar a vida perfeitamente à vontade tirando a mania desagradável e incomoda de me mandar tomar banho antes do jantar. Mas paciência, também não se pode ter tudo! Uma coisa muito curiosa é que não me lembro de um único garoto da minha idade na mina. Será que não havia?” De facto havia outras crianças na mina, mas para elas a vida era diferente. Naqueles dias as férias escolares começavam em finais de Maio ou Junho e prolongavam-se até Outubro. Sobrevivendo de economias parcas, todas as mãos eram úteis para os trabalhos e as crianças também o faziam. Na altura com 10 anos de idade, Manuel Antunes Gonçalves recorda, “naqueles dias havia várias crianças que faziam o mesmo trabalho que os adultos ou então, mais tarde e ao serviço dos Florestais, participavam em plantações que se faziam na Água da Pala. Eram duros aqueles dias! Uma camioneta recolhia os trabalhadores de muitas aldeias desde Valdosende e a subida do Vale do Homem na carrinha por aquela estrada, onde tínhamos sempre medo de cair para o rio, era tão cansativa como um dia de trabalho!”
Nos nossos dias a actividade mineira atinge aspectos que nos impressionam. Todos nós já teremos visto num momento ou outro, imagens dos mineiros a abandonar a boca da mina. Os seus rostos cerrados e cansados ou o sorriso branco que se destaca no rosto negro da poeira mortal que cobre as suas faces e contamina os pulmões. Actualmente, as condições de trabalho são ainda arriscadas e os acidentes vão acontecendo com mais ou menos frequência. Imagine-se então há dezenas de anos atrás onde a procura cega do volfrâmio e a consideração pela qualidade de vida do operário mineiro era inversamente proporcional à riqueza que os grandes senhores do volfrâmio iam acumulando.
Dura, mortal e deixando marcas para a vida, era assim a vida nas minas e todas estas características eram aumentadas pelas duras condições de vida que na Serra do Gerês adquiriam particularidades extremas. As condições meteorológicas na Serra do Gerês por vezes fizeram sublinhar a dureza do trabalho naquela zona. As temperaturas desciam vários graus abaixo de zero como recorda Virgílio Murta, “Lembro-me do frio na Mina dos Carris, embora, pela roupa que usávamos e como pode ver por algumas fotos com neve, pareça que não era assim tanto. Aí pelas sete e meia da manhã, nesta época do ano, quando tomava o pequeno-almoço com o nosso «meteorologista», tenente Silva Pereira, ele sempre me informava que a temperatura estava entre menos 6ºC e menos 8ºC, e que o termómetro de máxima e mínima existente no nosso «observatório» marcava, às vezes, menos 17ºC, durante a noite, claro... Isto quando o vento e a neve lhe permitiam acesso ao local, para verificar. Eu não sei se o tenente informava os Serviços Meteorológicos Oficiais e se haverá ainda dados arquivados.”
Os trabalhos mineiros desenrolavam-se a partir do poço mestre (ou de extracção) e a partir do qual eram abertas galerias em direcção (de rolagem) por onde o material desmontado (tout-venant) era conduzido àquele poço e daí para a lavaria. Dois metros acima de cada galeria e com algum atraso, eram abertas galerias paralelas (ou recortes), que serviam como início dos desmontes, que se desenvolviam atrás e na mesma direcção. Entre os recortes e as galerias de rolagem abriam-se, a distâncias regulares, pequenas chaminés que após colocação de "boquetes" de madeira, constituíam as denominadas "torbas" de enchimento das vagonetas que transportavam o material desmontado para o poço mestre e daí para a lavaria. O desmonte fazia-se pelo método dos "degraus invertidos" sem enchimento dado que o granito encaixante era muito duro e estável. À medida que se ia desmontando a rocha, os "hasteais", eram cuidadosamente "saneados" para evitar futuros desprendimentos. O desmonte era feito por painéis limitados por chaminés distanciadas de algumas dezenas de metros.
Nas palavras de Augusto Vieira, “a mina trabalhava por dois turnos, um das 8h00 às 17h00 e outro das 20h00 às 4h00, fazendo-se fogo nas horas de intervalo. Trabalhava nos dois turnos e ao final do mês já não era eu que empurrava a vagona, era a vagona que me empurrava a mim pois dormíamos pouco. As refeições tínhamos sempre: chegávamos às 4 da manhã, comíamos alguma coisa e íamos descansar. Pegávamos outra vez às 8 da manhã e ao meio-dia é que recebíamos a refeição no fundo da mina que vinha em marmitas. Largávamos às 5 da tarde e logo que tocava a gaita pegávamos nas nossas coisas e começávamos a subir as escadas com os gasómetros engatados no peito… Cheguei a trabalhar no 7º piso que na altura diziam que estava a 250 metros de profundidade!!!”
Com as cotações a descerem nos mercados internacionais, as condições de laboração deixam de ser lucrativas o que por sua vez origina a 23 de Julho de 1957 um pedido de suspensão da lavra para os restantes meses do ano, referindo-se como justificação as “…cotações do mercado e o desinteresse dos compradores.” Assim, os trabalhos são suspensos “tendo havido o cuidado de deixar tudo muito bem arrumado, empacotado e registado.” As instalações começam a ser abandonadas, ficando no campo mineiro somente um reduzido número de pessoas que em anos posteriores chegaria a somente um guarda.
No final dos anos 50, a actividade mineira nos Carris acompanha de forma geral a evolução desta actividade no país. A produção de concentrados de volframite a nível nacional atinge em 1951, em plena Guerra da Coreia, as 4700 toneladas, com um máximo de 4900 toneladas em 1952. As produções nacionais mantiveram-se acima das 4000 toneladas até 1958, ano em que ficou nas 1663 toneladas dada a profunda crise e quebra acentuada das cotações no mercado mundial. O valor mais baixo (1330 toneladas) é atingido em 1963.
O final da década de 60 vê sinais positivos na retoma dos trabalhos mineiros nas Minas dos Carris com o aparecimento de novos investidores e o surgimento da figura de Alexander Schneider-Scherbina que terá um papel crucial e fundamental nas operações mineiras entre 1970 e 1974.
Os principais problemas que afectaram a produtividade das Minas dos Carris encontravam-se na falta de mão-de-obra qualificada e falhas no fornecimento de energia eléctrica. O complexo mineiro nunca foi dotado de um sistema de fornecimento de energia eléctrica que estivesse ligado à rede nacional de energia, dependendo do funcionamento de geradores para a produção da mesma. Nesta altura, a mina estava confinada a uma única linha de trabalhos com um comprimento de 500 metros e uma profundidade de 155 metros. A linha zero era referenciada no velho poço exposto à superfície mas que não era utilizado. Existiam sete níveis com um espaçamento de 25 metros, estando inacessíveis os três níveis superiores. Os trabalhos decorreram nos quatro pisos inferiores e mais activamente no 6º piso que tinha um comprimento de 500 metros. O acesso e a elevação de todos os pisos, com excepção do 7º piso, eram feitos através de um poço interno de três compartimentos. Este poço descia até ao 6º piso ou a uma profundidade de cerca de 100 metros. No segundo piso, o poço abria para uma via-férrea que emergia da colina, sendo depois coberto por uma estrutura pré-fabricada até à lavaria (nova) a uma distância de 200 metros a sudeste na abertura. A elevação era feita através de caixas balançadas que eram controladas por um cabo contínuo operado por um motor de 28 hp. O minério era elevado em vagonetes com 500 kg de capacidade.
Na extremidade Norte do 6º piso existia uma extensão de 250 metros que fazia a drenagem desse nível para Este. Esta extensão podia ser utilizada para a remoção do minério. A deslocação da lavaria para esse local ou a construção de uma estrada não foi no princípio dos anos 70, considerada economicamente viável. O 7º piso tinha somente uma extensão de 250 metros e estava ligado ao 6º piso por um poço interno localizado na base do velho poço de extracção. Um guincho operado electricamente elevada o minério do 7º piso para o 6º piso, sendo depois extraído para o exterior a partir deste.
Após o retomar das operações mineiras em 1971, o complexo voltou a um esquema de trabalho em dois turnos. Em Janeiro de 1972 ocorreu uma severa tempestade que danificou a lavaria, levando a uma suspensão dos trabalhos durante quatro meses. Nessa altura, a excessiva acumulação de neve levou ao colapso do telhado, provavelmente já de si fragilizado devido a anos de falta de manutenção.
Desde o reinicio dos trabalhos na lavaria em meados de Maio de 1972, o tempo de trabalho foi de 20 horas / dia das 6h00 às 2h00. A mina poderia facilmente proporcionar 60 a 70 toneladas por dia de tout-venant caso fosse necessário. A lavaria estava a recuperar uma média de 4 kg por tonelada de minério, tendo proporcionado 7,5 toneladas de concentrados de 73,5% de nível médio por mês, quando as condições operacionais eram normais. O mês de Agosto foi o melhor registado em 1971 quando a lavaria operou a 87,6% do seu tempo operacional previsto. A média de 1971 foi de 71,2%, com o tempo perdido a dever-se a falhas mecânicas, falhas de energia, escassez de minério (causa pouco frequente), falta de mão-de-obra qualificada, bem como devido a trabalhos de manutenção e tempo para instrução e treino do pessoal. Desde o reinício dos trabalhos após a reparação da lavaria, o tempo de paragem foi mantido no mínimo. Os quatro meses que decorreram entre o colapso do telhado e o reinício dos trabalhos foram utilizados não só para as reparações necessárias, mas também para reabilitar, renovar e reacondicionar todo o equipamento da lavaria.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês nunca viu com bons olhos a existência do complexo mineiro dentro do seu território. Um exemplo disso é a carta enviada a 31 de Julho de 1972 pelo Director do Parque Nacional, Eng. Lagrifa Mendes, ao Chefe da Circunscrição Mineira do Norte à qual anexa uma fotografia da Lamalonga que é apresentada como um exemplo típico de poluição irrecuperável, solicitando informações sobre a área cedida à empresa mineira e se existiria qualquer tipo de condicionamento quanto às escombreiras, inquirindo também sobre a indemnização que pode ser exigida pelos utentes pelas pastagens degradadas. Esta carta teve resposta do Engenheiro Chefe da Chefe da Circunscrição Mineira do Norte a 2 de Agosto.
Com os custos de produção a ultrapassar os lucros da empresa, a lavra é suspensa em finais de 1973. Neste ano os registos oficiais indicam que foram obtidos 16,510 toneladas de volframite com 70,00% e 17,929 toneladas de mistos de scheelite e cassiterite com 30%, correspondendo ambas as quantidades a 16,936 toneladas de volfrâmio; com a cassiterite a 30 % correspondente a 5,379 toneladas de estanho.
Em 1974 o acampamento mineiro dos Carris está novamente abandonado e nele somente permanece um guarda que de tempos em tempos vai recebendo mantimentos e o seu salário entregue por alguém da administração da Sociedade das Minas do Gerez, Lda. O regime muda em Portugal a 25 de Abril de 1974 com a Revolução dos Cravos. Muitas das empresas são nacionalizadas, mas a Sociedade das Minas do Gerez mantém-se nas mãos dos seus sócios. Isto facilmente se poderá explicar pelo pouco valor que a industria dos metais volframíticos teria na altura, aliás esta é uma das razões que terá levado ao encerramento da mina aliado ao facto de haver um crescimento salarial insuportável. Com a situação pouco favorável em Portugal para aqueles que apoiavam o anterior regime, as Minas dos Carris servem como refúgio e rota de fuga para Espanha de muita gente conectada com a direita no Norte do país. Curiosamente, os Carris parecem ter sido sempre um ponto de fuga privilegiado tanto após, como antes da Revolução dos Cravos.
No princípio dos anos 80 surgiu novamente a intenção de se proceder à reactivação do complexo mineiro com a criação de um grande couto mineiro na Serra do Gerês e que iria englobar, além das Minas dos Carris, a Mina do Borrageiro, a Mina de Arrocela e a Mina de Cidadelhe. A verdade é que já em 1983 as hipóteses de se retomar a exploração mineira nos Carris eram muito pequenas. Porém, e perante os impedimentos ambientais entretanto colocados, estas pretensão são abandonadas. Com o abandono das pretensões de exploração, o acampamento mineiro é abandonado à sua sorte. As populações serranas tiram partido das infra-estruturas e segue-se um verdadeiro saque aos edifícios com a remoção de mobílias e aproveitamento de outros elementos. Existindo ainda estruturas de exploração mineira, não se sabe em que data terão sido retiradas as maquinarias mais pesadas das instalações, acontecendo isto muito provavelmente já em meados ou finais dos anos 70 e sendo a maquinaria aparentemente “…retirada e roubada…” por um dos sócios da sociedade.
Em 1986 ocorre um intenso debate sobre o futuro das concessões mineiras dentro da área do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Neste ano decorrem em Caldelas as Iª Jornadas de Geologia Regional que na generalidade das suas conclusões reconhece “…a importância decisiva dos estudos geológicos (…) realizados e, em especial, da cartografia geológica na evidenciação e correcta exploração dos recursos naturais do subsolo, nomeadamente no que respeita às águas subterrâneas, minérios e rochas ornamentais…” Estas jornadas referem em especial o caso dos minérios metálicos nos quais a região (Norte) é rica em mineralizações de estanho e volfrâmio, sublinhando no entanto que a então crise que varria os mercados internacionais tinha levado à ruptura financeira da quase totalidade das empresas mineiras que se dedicavam à exploração dos metais referidos, o que levou ao seu encerramento. Este encerramento fazia correr um sério risco de perda irremediável da riqueza natural que eventualmente muitas concessões poderiam conter. Assim, uma das recomendações destas Jornadas apontava para que o Estado devesse conservar as minas com as maiores potencialidades durante o período da referida crise com vista a evitar a degradação dessas concessões, o que tornaria quase impossível a sua futura recuperação.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês viu nestas recomendações uma oportunidade para tentar o fim das concessões mineiras existentes dentro do seu território. Após ter recebido as conclusões e recomendações destas Jornadas, o Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês, Eng. Adolfo Morais Macedo, envia ao Presidente do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza (SNPRCN) um ofício datado de 29 de Outubro de 1986 no qual concorda com a generalidade das conclusões, levantando, todavia, reservas em relação às concessões mineiras dos Carris, referindo que estás não deveriam prosseguir a lavra mesmo terminando o período de crise que se vivia no mercado do volfrâmio. O PNPG recomendava então a compra pelo Estado dessas concessões para evitar futuras degradações ambientais resultantes da sua exploração. Este ofício vai originar nos meses seguintes um debate entre organismos do Estado que trará o fim das concessões mineiras.
Depois de uma curta paragem por entre as ruínas, inicio então a segunda parte deste jornada que me levaria aos Prados da Messe. Descendo pela Corga da Carvoeirinha, chegava um pouco mais adiante à Chã das Abrótegas e pouco depois da Ponte das Abrótegas, iniciei a subida em direcção ao marco triangulado de Lamas de Homem com a sua fantástica paisagem sobre o Curral das Abrótegas e o Curral de Cabanas Novas, permitindo um vislumbre por entre a penedia das ruínas das Minas dos Carris tendo como pano de fundo o Pico da Nevosa e os píncaros dos Cornos da Fonte Fria. À nossa direita, em baixo, estão os vários
Currais das Lamas de Homem, nomeadamente o Curral do Roquinha (designação atribuída a dois deles, tendo um deles um abrigo pastoril) e o Curral do Freiria. Ainda do marco triangulado vislumbram-se as alturas da Lage do Sino e da raia, bem como os currais no Couço e o Lago Marinho além de todos os altos do Gerês Ocidental.
Deixando o marco triangulado de Lamas de Homem, passei pelo abandonado posto meteorológico e tomei a direcção do escondido Curral do Pássaro perto do qual está uma enigmática construção de pedra solta que, com a proximidade do alto de Cidadelhe e das figuras de Absedo, nos levam a pensar na sua origem.
Continuando a jornada, passei acima dos Currais de Cidadelhe e, caminhando sobre a escombreira da exploração mineira naquele local, segui em direcção à face Norte das Torrinheira, passando o topo do Corgo de Valongo e tomando então o carreiro superior que me levaria à Chã do Cimo da Água da Pala. Seguindo a Poente, em breve estaria nos limites do Cantarelo a olhar para os Prados da Messe, local do já mais do que merecido almço e prolongado descanso.
A parte final da jornada levar-me-ia a passar a Lomba de Burro em direcção à Corga dos Vidros e posteriormente a passar na Lameira das Ruivas, antes de iniciar a descida pela Costa de Sabrosa que me levaria aos quilómetros finais feitos através da Geira na Mata de Albergaria.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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