segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

"Os montanheses do Gerez..."


Em Setembro de 1882, Hermenegildo Capello e Leonardo Torres - sócios ordinários da então Sociedade de Geographia, fizeram uma visita à Serra do Gerês que mais tarde seria descrita na revista desta sociedade.

Num interessantíssimo texto, Capello e Torres fazem várias descrições de um Gerês que já não existe, falando das suas gentes, da sua geografia, da sua fauna e flora, da sua toponímia e orografia, etc.


O texto a seguir é uma transcrição de parte desse texto no qual Hermenegildo Capello e Leonardo Torres descrevem algumas características dos então habitantes da Serra do Gerês...

"(...)

Os montanhezes do Gerez são agigantados e fortes; as mulheres robustas e trabalhadoras, dadas a trabalhar as suas fazendas. Em algumas freguezias é gente pouco caridosa para com os de outras terras. Ajustam seus casamentos na mesma freguezia, e na de S. João do Campo se não acha um só que viesse de fóra, e todos os que não são naturaes chamam-lhes vendiços, isto é, gente estrangeira de que se não deve fazer caso, nem dar-lhes entrada em suas terras, e isto denotam os estatutos que têem a respeito de certas herdades, que chamam casarios, em que todos os moradores de campo têem sua parte, e por leis instituidas por seus antepassados de tempos antiquissimos, não póde n'elles succeder ninguem que nascesse fóra do logar ou freguezia: que observam com tal rigor que os mesmos filhos se por algum incidente nascem em outra parochia ou terra estranha se entendem ficar exclusos d'aquella herança.

Vivem em grande união, e offender um morador é o mesmo que aggravar a todos no seu conceito.

São agorrantes e destemidos: levam seus gados todos juntos em um rebanho, a que dão o nome de veseira, a pastar todos os dias pelo interior d'aquellas serranias e valles, e todos e por ordem e alternativamente o acompanham.

Nos moinhos também são companheiros e todos têem n'elles os seus dias. Nunca partem os seus bens e fazendas para não empobrecerem: os seus casamentos ordinariamente são por troca. Não exercitam officio algum: e só estimam o da agricultura. Todos malham em uma só eira, e uma só parede lhes tapa todas as suas propriedades e lavoura. este é o estylo estabelecido em S. João do Campo."

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Fotografia (de Camacho Pereira) © Rui C. Barbosa

1 comentário:

Vverdura disse...

Obrigado pela partilha!