terça-feira, 17 de julho de 2018

Histórias do povo de Cabril - O desaparecimento e extinção do Tetraz ou galo-montês das serranias do Gerês


O tetraz era um grande galinácio que em tempos existiu na Serra do Gerês, em que os machos se caracterizavam pela sua plumagem quase totalmente preta, enquanto que as fêmeas eram acastanhadas. 

Esta espécie terá nidificado em Portugal, particularmente na Serra do Gerês onde também era conhecida por 'pita do monte', sendo a zona de Cabril provavelmente o seu último reduto, tendo-se extinguido há cerca de 100 anos. Porém a sua memória perdurou até aos dias de hoje na oralidade do povo, assim como na toponímia. Ainda hoje existe na serra um local chamado de Peito do Galo, e segundo os populares foi um dos últimos sítios que esta ave de grande porte ocupou. O local é assim chamado devido às peculiares características do seu ciclo biológico e dimorfismo sexual, pois na altura do acasalamento o macho fazia gritos estridentes e bastantes barulhos, na ânsia de impressionar as fêmeas.

Depois do seu desaparecimento e nas décadas seguintes, o povo de Cabril que era um povo de montanha passou, a adoptar o grito do galo-montês para se comunicar a grandes distâncias, sendo que esse grito passou a ser conhecido até aos dias de hoje como o grito de Cabril pelos povos das aldeias próximas, e não deixa de ser impressionante que ainda há quem o saiba fazer.


Esta ave era originária da zona boreal, foi graças às alterações climáticas geradas pela última glaciação de Würm que o galo-montês expandiu a sua área de distribuição até à Europa meridional. 

Apesar dos poucos testemunhos existentes, a população do galo-montês Portuguesa era derivada da população cantábrica, se bem que possa ter evoluído de forma diferente, devido à distância que os separam, e há alguns manuscritos e documentos que referem esta espécie como o galo de Cabril, que era assim que ele era chamado, terá existido até aos finais do século XVII e princípios do século XVIII, protegida pelas sombras dos últimos Carvalhais da Serra do Gerês.

Actualmente existem no mundo a nidificar, cerca de 700 ou 800 indivíduos espalhados pela cordilheira pirenaica e cantábrica, as piores expectativas vaticinam o desaparecimento do galo-montês das nossas serras em pouco mais de três décadas.

Texto de Ulisses Pereira

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