quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Histórias do povo de Cabril, seus usos e costumes e a pequena história dos lagares de azeite na freguesia


Durante muito tempo a freguesia de Cabril foi praticamente inacessível e as suas aldeias encravadas nas serranias do Gerês, com caminhos de ligação entre elas quase impraticáveis e muitos desses caminhos a passar em linhas de água que no Inverno se tornavam difíceis de ultrapassar, fez com que estes pequenos povoados fossem deitados a um isolamento forçado que acabou por se reflectir nas pequenas aldeias agro-pastoris que acabaram por se tornar sustentáveis com muitos poucos recursos e acabaram votadas a um comunitário quase forçado para poderem subsistir. Ninguém vivia bem, mas havia aqueles que viviam menos mal. Vivia-se exclusivamente da terra e da criação de animais, quase tudo era produzido na aldeia até meados do século XX. 

O comunitário reflectia-se nas divisões da serra, nas pastagens, vezeiras, nas águas, assim como nos moinhos e lagares de azeite. O primeiro lagar de azeite a ser construído na freguesia de Cabril foi feito por volta dos finais do século XVII e princípios do século XVIII por Manuel Machado, filho do abade Braz Pereira Magalhães, que o fez por cima do lugar de S. Ane e por baixo de Taboucinhas por ali haver muita lenha, pois nessa altura a lenha era um bem raro e muito procurado, sendo a principal fonte de aquecimento das habitações e a fogueira ardia nas casas praticamente 24 horas o que levava a um enorme consumo de lenha. Porém, devido ao difícil acesso e à elevada distância, ele acabou por mudar o lagar para debaixo de Chão de Moinho e moía com as águas que desciam da Corga de Moinhos. Logo de seguida foi construído outro junto à ponte nova por Domingos Alves, provavelmente seria o que foi mudado para as Olas na altura da construção da barragem de Salamonde. Em Fafião, também é edificado um pôr um tal Bonifácio de S. Lourenço, juntamente com Alexandre Pereira. Viria a ser feito um outro no lugar de S. Ane e os moradores de Azevedo, Xertelo e Lapela também construíram um. No lugar de S. Lourenço há conhecimento de um feito em meados do século XX e que tinha a particularidade de moer com recurso a tracção animal, sendo normalmente utilizada uma vaca para esse fim.

Neste momento nenhum destes lagares está a moer, e para alguns será quase impossível que o voltem a fazer. O único que ainda funciona é o do lugar de Pincães que cada vez tem mais gente da aldeia a voltar a fazer o seu próprio azeite. Este ano foram necessários dois dias para processar a azeitona, e voltou a ver-se os habitantes de algumas aldeias na apanha da azeitona, curiosamente o lagar de Pincães não se conhece a data nem registos da sua edificação.

Texto de Ulisses Pereira

Fotografia © Luís Borges (Todos os direitos reservados)

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