quarta-feira, 30 de julho de 2014

Dia Primeiro: Lagoa - Minas dos Carris (214)


As minhas primeiras grandes caminhadas e travessias da Serra do Gerês foram feitas na companhia dos irmãos escutas do Agrupamento XIX, S. Vicente, Braga do CNE. Foi nestas caminhadas que aprendi a gostar da montanha, que se foi formando uma consciência ambiental de respeito pela serra e por quem lá vive, e uma paixão pelos grandes espaços.

Durante muitos anos era habitual fazermos grandes travessias (há quem lhe chame autonomias apesar de trazer tudo de casa...) nas quais calcorreávamos os recantos insuspeitos das serranias do Parque Nacional e íamos abrindo caminhos e despertar a curiosidade pelo que ficava mais além.


Há já muitos anos que não fazia uma travessia de vários dias com os jovens Escuteiros e este ano decidimos realizar um Empreendimento na Serra do Gerês com o intuito de lhes mostrar parte dos segredos que a serra esconde. Digo parte não porque não queira mostrar todos os segredos, mas sim porque acho que os outros devem ser eles a descobrir se assim o quiserem.


O programa era aliciante com quatro dias de caminhada a começar em Xertelo, passar pelas Minas dos Carris, Curral da Touça, Prados da Messe e terminar na Mata de Albergaria. O trajecto acabou por não ser cumprido na íntegra, tendo sido introduzidas alterações que nos levaram a terminar na Ermida (Gerês).

Assim, o primeiro dia levou-nos entre a Lagoa e as Minas dos Carris depois de aproveitarmos uma boleia até à vizinhança da Lagoa do Marinho. Com a pesada mochila às costas e vara-pau na mão, partimos então à aventura da descoberta. Para mim, era chão conhecido, mas para os jovens Pioneiros era caminhar num mundo desconhecido e onde o destino final parecia todo igual enquanto permanecia à distância.

Seguindo pelos velhos carreiros dos pastores, passamos pelos currais do Couce e subimos a lomba granítica que termina nos Chamiçais. Este velho carreiro, escondido do pouco uso, lava-nos a passar por um curral abandonado. Já conhecia aquela zona, mas a designação deste lugar era-me desconhecida até um dia no qual o meu amigo Xavier, em conversa com um pastor da zona, foi informado que este seria o Curral das Cadeiras. A sua passagem é obrigatória seguinte por este trilho. O curral está dividido em duas áreas, mas somente uma delas terá um abrigo de pastores construído tirando proveito de uma grande rocha à qual juntaram a pedra solta para fazer a outra parede.


Prosseguindo o caminho, passamos pelo Sul do Barroco de Trás da Pala antes de entrarmos na parte final da Lamalonga com os seus inúmeros currais. Daqui, o nosso objectivo final já estava visível. A lavaria das Minas dos Carris surge-nos como um castelo assombrado, uma visão magnânime por entre o caos granítico que compões a paisagem dos pontos mais altos da Serra do Gerês.

Percorrendo a Lamalonga, e atravessando as grandes manadas de bois e vacas que se vão alimentando no fértil vale, vamo-nos apercebendo que a água começa a escassear na serra pois o ribeiro que tomba da Corga de Lamalonga já se perde por entre a grande escombeira e só surge timidamente já quase no fundo do vale.

Ao caminhar naquele lugar onde impera o silêncio e por vezes se escuta o vento que se faz ouvir ao passar pela vegetação, temos a sensação que percorremos uma paisagem num deserto que nos é desconhecido. Há medida que nos vamos aproximando da vertente Norte do vale, a subida final vai-se tornando cada vez mais evidente aos corpos já cansados que ainda têm de vencer aquela inclinação antes de merecerem o descanso dos descobridores.


A lavaria dos Carris esta sempre ali, altaneira, como um guardião daquela entrada. Ao longe as suas ameias vão se transformando na ruína que marca a paisagem. Eis-nos então chegados ás Minas dos Carris e logo ali fomos procurar a fonte da vida personalizada na 'Fonte do David' com a sua água sempre fresca mesmo nos dias mais tórridos.

As Minas dos Carris seriam a nossa casa nas próximas horas. Iríamos habitar as ruínas silenciosas, pois cheio de memórias e lamentos, naquele lugar impera agora o esquecimento.































































Fotografias © Rui C. Barbosa

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