domingo, 20 de março de 2016

A Igreja Católica e a vergonhosa caça ao lobo


A vivência do homem perante alguns animais, sofreu a influência maligna da Igreja Católica de uma forma tão profunda nos países ibéricos que ainda hoje vemos alguns actos de crueldade, tais como as touradas, associadas e apoiadas pelo catolicismo vigente em Portugal e Espanha. Assim, a Igreja Católica tem as mãos manchadas do sangue dos animais que ao longo dos séculos foi deixando dizimar em nome de rituais e crenças medievais perpetuadas em nome de Cristo. A religião que pretende espalhar a compaixão e o amor ao próximo, fá-lo esquecendo os seus próprios ensinamentos de que "todas as criaturas, são criaturas de Deus." Mas, se o "homem foi feito à imagem de Deus," só assim se perceberá a crueldade com que o homem é capaz de tratar os animais.

A Igreja Católica é proprietária, através das Santas Casas da Misericórdia, de muitas praças de touros em Portugal, locais de morte e tortura de touros. Por outro lado, nas regiões mais profundamente católicas do noroeste peninsular, a influência da religião católica na caça ao lobo, que sempre foi visto como a personificação demoníaca por excelência com o seu apogeu na figura do lobisomem, é bem relatada por este texto:

O conflito existente entre o Homem e o Lobo tem fortes raízes que oriundam sobretudo a partir do período medieval, altura em que o lobo começa a possuir a conotação de animal maligno, devoradora de homens, mulheres e crianças. As causas desta atitude parecem ter origem, fundamentalmente, na Igreja Católica, a qual utilizava o lobo como símbolo satânico, animal que punha em causa "o rebanho de Deus", ou seja, a Humanidade Católica. A grande religiosidade do povo medieval, fez com que depressa assimilassem esta ideia, dando ao lobo uma dimensão mitológica e sobrenatural, expressa em várias lendas, histórias e crenças, algumas delas ainda hoje vivas nos habitantes serranos da Península Ibérica.

A realidade é bem diferente, o lobo é um magnífico animal, que faz parte de uma Natureza harmoniosa...

"Os lobos representam, mais do qualquer outro animal, o lado selvagem e livre da vida que perdemos e que actualmente procuramos recuperar com um afã que apenas aumenta a artificialidade do que alcançamos. São eles que nos fazem sentir e ver o caminho de que nos desviámos..." (Prefácio de Francisco Fonseca in "Lobos. Colectânea")

Os prejuízos económicos associados à predação do lobo nos animais domésticos, aumentou o simbolismo sombrio que o lobo carrega. Esta situação é o resultado da má gestão que o Homem faz dos recursos naturais, que levou à escassez das presas naturais deste canídeo.

As comunidades religiosas e agro-pastoris das montanhas do Noroeste de Portugal, ainda bastante isoladas, permitiram a sobrevivência até hoje de um rico património cultural relativo à sua relação com o lobo, expressa em várias lendas, mitos, crenças e aspectos materiais, que já é impossível encontrar em outras regiões da Europa. Como exemplos destas manifestações culturais são de referir o fojo do lobo (monumentos seculares para a captura dos lobos, efectuados em pedra e que possuem, nas montanhas do Norte Ibérico, a única área de ocorrência a nível mundial) e a utilização de um troço da traqueia do lobo - "gola do lobo", para curar uma doença denominada "lobagueira" e que somente se manifesta no porco doméstico.

Texto adaptado de "Mitos e realidades" in Grupo Lobo disponível em http://lobo.fc.ul.pt/?page=conteudos/mitos_realidades

Fotografia: © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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