sexta-feira, 11 de março de 2016

235... Minas dos Carris, uma visita invernal


A minha mais recente visita às Minas dos Carris levou-me por um passeio através de uma parte da Serra do Gerês por onde já não passava há algum tempo. A jornada proporcionou momentos únicos de paisagens fantásticas que mudaram da manhã para a tarde, num passeio pela realidade do momento e a fantasia do isolamento.

Bem cedo, encontramos o nosso transporte na Ermida que nos levaria até Lagoa e junto do Abrigo de Penedã. Este abrigo foi recentemente recuperado e imensamente melhorado pelas vazeiras locais. Pode não ter sido muito do agrado do Parque Nacional da Peneda-Gerês, mas sem dúvida que os pastores merecem condições dignas de pernoita na serra e por consequência, o abrigo é uma mais valia para quem visita o local especialmente quando as condições meteorológicas são adversas.

Desde cedo sabia que iria encontrar paisagens de neve e estas eram já reveladas ao longe na passagem pela Chã de Suzana. Mesmo aqui, a neve caia misturada com gotículas de chuva. À medida que íamos ganhando altitude e após passar a cancela da Laje dos Infernos, o ar frio fazia-se notar cada vez mais. A partir de certa altura, e já na passagem pelos Currais de Virtelo, a neve cobria toda a paisagem! Assim, o cenário que encontramos em Lagoa era maravilhoso e sem dúvida um verdadeiro presente para os nossos olhos. Aquela paisagem de neve aquecia-nos a alma e revigorava forças para a caminhada que se avizinhava.



Deixando o abrigo para trás, entramos na história daquele local. Aqueles ermos afastados das aldeias só viam a presença humana por altura das vezeiras com estas a percorrerem os apetitosos pastos em altitude. Todo aquele anfiteatro é dominado pelos píncaros serranos que rasgam o céu azul. Em breve percorria os carreiros em torno do Curral do Couce e ao meu lado erguia-se, altaneiro, o promontório granítico do Borrageiro nas encostas no qual estão as ruínas das minas de mesmo nome. São estes os locais que me fazem sonhar e transportar para um século atrás numa tentativa de compreender a vontade e a necessidade, acima de tudo, dos homens em esventrar a montanha em busca do volfrâmio. Aquelas ruínas já centenárias são o testemunho de um passado quase esquecido e que serve de trampolim para a nossa imaginação.

Continuando pelos carreiros cobertos de neve e aquecido por um Sol ainda invernal, entrava nos limites do circo glacial dos Cocões do Coucelinho. Utilizo esta designação para este local ao invés de 'Cocões do Concelinho' que penso ser uma deturpação do nome original. Os Cocões do Coucelinho abrigam um pequeno curral que surge após o Curral do Couce ou a zona do Couce, daí sugerir que o nome a utilizar deva ser 'Cocões do Coucelinho' e não 'Cocões do Concelinho'.



Passando os Cocões do Coucelinho, dirigi-me para o Quelhão onde a neve acumulada tornaria complicada a sua passagem. Daqui, ladeei o Curral de Lamas de Homem e em pouco tempo estava na Corga da Carvoeirinha, a subida final para as Minas dos Carris. Por esta altura era evidente a diferença nas condições meteorológicas. Se até ao o Sol brilhava num céu pontilhado de nuvens, por esta altura a neve caia sem cessar e o vento cortava-me a pele do rosto como navalha recém afiadas. Fazia frio, um frio daquele de nos acordar naquele realidade gelada. A neve caíra com abundância na noite anterior, tornando mais complicada cada passada em direcção àquelas ruínas de memórias. Por entre o sopro cinematográfico do vento, parecia escutar vozes. Porém, era apenas do eco do silêncio que reina por aquelas paragens. Por entre as ruínas, e em algumas zonas onde o vento torneava os cantos, a neve acumulava-se de tal maneira que atingia mais de um metro. De facto, a acumulação em determinados lugares chegaria de certeza aos dois metros!

Depois do descanso e do retemperar de forças nos velhos edifícios, encetei o regresso descendo para a parte inferior da Lavaria Nova e daqui tomando os carreiros que me levariam a descer a Corga de Lamalonga. Percorrendo aquela imensa chã, foi sacudido por um nevão que retemperava de branco a paisagem. A neve só pararia de cair muito depois do Curral das Cadeiras, pala lá do último curral de Lamalonga e já em direcção ao Couce. Descendo depois para os velhos currais e daqui voltando ao Abrigo de Penedã.

Ficam alguns clichés da jornada...


































































































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)


Sem comentários: