terça-feira, 11 de março de 2025

380... Minas dos Carris e Sombras

 


A segunda semana de Março trouxe-nos de novo a neve aos pontos mais elevados da Serra do Gerês e mais uma vez as Minas dos Carris vestiram-se com o seu manto branco, qual mortalha silenciosa que transforma o local com um misticismo ainda mais profundo.

Não sendo um «nevão» tão intenso como o que havia testemunhado há uns dias, não deixei de passar pelo velho complexo mineiro onde se pode sentir o silêncio e a calmaria do lento passar das eras.

Foi uma caminhada de novo na companhia dos animais invisíveis, mas que deixavam as suas marcas de passagem pelos caminhos do Homem. Desde os bichos mais pequenos, aos mais fugazes, nunca estamos sós naquela vastidão que são as montanhas do Gerês.





Não me vou alongar na descrição da subida do Vale do Alto Homem, pois ela já foi exaustivamente feita noutras publicações aqui no blogue. Depois da passagem pelas velhas ruínas, esta caminhada levou-me ao complexo mineiro Mercedes As Sombras no espaço galego, seguindo pela encosta de Carris e Portela da Amoreira.

A montanha é sempre algo de inesperado e o que conhecemos, através de carreiros tantas vezes percorridos, pode-se tornar num cenário completamente diferente em poucos segundos. Foi isso que aconteceu neste dia...

O carreiro para a Portela da Amoreira surge-nos logo em frente após deixarmos o complexo mineiro dos Carris. Ladeando a encosta do alto dos Carris, o caminho sobe suavemente até chegar a uma zona mineira a céu aberto e daqui inicia uma descida em direcção à Portela da Amoreira. O carreiro é bem visível e até intuitivo, porém, dissimula-se nos dias de neve e quando um manto cinzento cobre as paisagens serranas.





Neste caso, e com a neve que cobria a paisagem, seguir o caminho exige toda a experiência e conhecimento do terreno. Mesmo não o vendo e com as mariolas escondidas por um véu que esvoaçava ao vento, não foi difícil encontrar as passagens por entre os cenários que se criavam à medida que o olhar se levantava do chão. Descendo já em direcção à Amoreira, o olhar orienta-se e desvia-se de um pequeno rego de água, e num momento a visibilidade reduz-se a poucos metros. É aqui que a experiência nos ajuda a seguir o nosso rumo em direcção à linha de fronteira e é nestes momentos onde - para quem não tem tanta experiência - a ajuda de uma carta topográfica ou de um gps é fundamental. Mesmo nestes ambientes, onde o cenário muda de forma drástica numa situação onde o cansaço (não só físico, mas também mental) é já um elemento fundamental a ter em conta, manter a calma para uma decisão serena e ponderada, é o aspecto fundamental.

Esta experiência surge de longas horas em caminhada solitária. Os longos dias de Primavera e Verão ajudam-nos a conhecer os locais, mas o trabalho de casa em frente a uma grande folha de papel ensinam-nos a interpretar a paisagem. Os dias curtos de Outono e Inverno são os verdadeiros desafios que nos colocam à prova na tomada de decisões. Por outro lado, a confiança imediata nessas decisões é um aspecto importante ao estabelecer regras para nós próprios.

Neste dia, e apesar de estar num cenário de pouca visibilidade, sabia que o caminho - apesar de pesado devido ao tipo de neve - seria ultrapassável e que conseguiria chegar sem problemas de maior ao meu objectivo. E isto deveu-se a uma interessante experiência tida naquelas paragens há já muitos anos onde, com neve já muito dura, não fui capaz de chegar à Mina das Sombras, apesar de estar a poucas centenas de metros. Tendo de fazer um esforço considerável e de escavar literalmente o meu caminho na neve já em gelo, tomei na altura a decisão acertada de voltar para trás e regressar à Portela do Homem descendo o Vale do Alto Homem.

A caminhada de montanha em grupo permite a partilha de experiências e sensações. A caminhada solitária ajuda-nos a preparar e a fortalecer na tomada de decisões que podem ser fundamentais em qualquer momento, ajudando-nos a refinar o juízo dos riscos que estamos dispostos a correr e a avaliar as nossas capacidades para enfrentar um ambiente que, de um momento para o outro, se pode tornar hostil e colocar-nos numa situação antecipadamente difícil, mas avassaladora.

Ficam algumas imagens do dia...













































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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