domingo, 29 de setembro de 2024

Os trabalhos dos Serviços Florestais na Serra do Gerês em 1908-1909

 


Para quem visita os Prados da Messe, na Serra do Gerês, a presença de umas ruínas não muito longe do abrigo pastoril, sempre suscita questões sobre o seu propósito. Muitos contam a história ou a finalidade daquela edificação como tendo sido construída para «as caçadas do rei», porém, tal não é verdade.

Assim, recuamos ao ano económico de 1908-1909 da presença dos Serviços Florestais na Serra do Gerês para ter a verdadeira resposta sobre o objectivo de tal edifício.

Segundo Tudo de Sousa, "não havendo nenhuma casa, o abrigo, para o pessoal florestal na extensa zona da serra alta, desde a Pedra Bela aos Prados, havia sido solicitada a construção de uma pequena casa no curral dos Prados, que foi feita este ano. Sendo certo que nenhuns trabalhos havia ainda por ali realizados, não era menos certo que aquela parte da serra era de elevada importância, por ser um dos mais aproveitados centros de pastoreação dos gados vizinhos e ainda por ter a curtas distâncias bons núcleos de arborização espontânea.


Ao mesmo tempo, aproveitava-se a oportunidade de prestar um bom serviço aos vezeiros de Vilar da Veiga, a quem o usufruto do curral pertence e cujas boas relações de vizinhança convém absolutamente manter, proporcionando-lhes melhor acolhida do que a que o seu forno lhes dá, o que se fez, destinando-se-lhes metade da referida casa, que em Setembro ficou já concluída."

Neste ano procedeu-se à limpeza dos maciços em Porcas, Assureira, Fecha Ferreiros, (nascentes das) Caldas do Gerês, Pereira, Leonte (nascente) e Água da Adega, Ranhado, Rio Homem, Palheiros e Bargiela (Garfe).

Foram feitos trabalhos de construção ou conservação dos caminhos para a Pedra Bela, Lamas, Assureira, Leonte, Portela do Homem, Bargiela e Rio Homem. 

Foram feitos trabalhos de construção (Curral dos Prados) ou conservação das casas da secretaria e cocheira dos Serviços Florestais, além das casas na Chã da Pereira (observatório), Leonte e Albergaria. 

Foram feitas diferentes sementeiras numa área total de 33 hectares na Encosta do Azeral, Encosta de Fecha Ferreiros e Vales (Rio Homem).

A sementeira na bacia do Gerês fez-se nas encostas do Azeral e Fecha Ferreiros, em ligação com a sementeira realizada no ano anterior e seguindo sempre a linha do caminho para a Pedra Bela e a sementeira dos Vales (Rio Homem) igualmente se seguiu as já ali existentes.

Nas plantações seguiu-se, mais ou menos, o critério já adoptado de se procurarem as situações mais apropriadas a esse fim, tendo-se esboçado um pequeno parque nos terrenos anexos à casa do guarda da Assureira, parte dos quais haviam sido adquiridos no ano anterior de Vicente Paulino da Silveira.

Quando a viveiros, continuaram a desenvolver-se como se fazia anteriormente, principalmente na Chã da Pereira, criando-se ali muitos milhares de plantas, umas de sementeira própria e outras vindas de fora, (neste ano apenas da mata das Virtudes, para onde também alguns milhares delas se forneceram) e outras ao parque de S. João da Ponte, de Braga. 

Os carvalhos americanos anteriormente experimentados continuaram a ser vigiados, sendo novamente repicados, tendo-se registado o seguinte:

- quercus banisteri.......... 9 (aspecto regular)

- quercus bicolor............. 2 (aspecto regular)

- quercus aquatica........... 20 (aspecto bom)

- quercus catesbai........... 1 (aspecto mau)

- quercus cinerea............ 2 (aspecto mau)

- quercus laurifolia......... 14 (aspecto mau)

- quercus obtusiloba....... 7 (aspecto regular)

- quercus macricarpa...... 14 (aspecto bom)

- quercus phelos............. 3 (aspecto regular)

- quercus palustris.......... 5 (aspecto bom)

- quercus tinctoria.......... 10 (aspecto bom)

- quercus rubra............... 1000 (aspecto magnífico)

Entre os quercus classificados como 'bons', os melhores então registados eram: aquatica, macrocarpa e tinctoria, tendo estes já sido plantados em Fevereiro, dois aquatica no parque da Assureira.


Entre 3.400 plantas de viveiro vindas da Mata das Virtudes, figuravam também 500 carvalhos exóticos - quercus Creta - de que só se aproveitaram 430, por a remessa ter andado muito tempo perdida nos caminhos de ferro.

Também neste ano, em 20 de Janeiro, se lançaram nas águas da serra mais de 200 trutas irideus, vindas da Estação Aquícola do Ave e distribuídas pelos seguintes pontos: no rio Gerês, acima da Cascata do Torgo; no Rio de Maceira, acima da ponte; e no Rio Homem, na Ponte Feia e na Água da Pala.

De fins de Agosto em diante voltou a superintender o Gerês o silvicultor João Maria Cerqueira Machado, que novamente ingressou nos Serviços Florestais.

Foi em Setembro deste ano económico que se realizou a grande excursão venatória promovida pela Ilustração Portugueza e pelo jornal O Século e em que mais de cem caçadores e excursionistas percorreram a serra, admirando-lhe muitos dos seus pitorescos e mais recônditos locais, nos dias 15, 16 e 17, dormindo em 15 e 16 na alta Chã das Abrótegas e recolhendo à povoação em 17.


Fora no número de 25 de Novembro de 1907 que a Ilustração pusera à solução o problema de se apurar em definitivo se a velha cabra brava do Gerês desaparecera de todo, ou se alguma sobrevivência existiria, começando por isso, no número de 27 de Junho de 1908 a propaganda da ideia de uma grande excursão às montanhas do Gerês, a qual veio a ter depois a mais completa realização.

Cabras, nenhuma foi vista, porque de facto desaparecera; foram, porém, mortos seis corços.

Foram realizadas sementeiras em 33 hectares, nomeadamente na Encosta do Azeral, Encosta de Fecha Ferreiros e Vales (Rio Homem).

As plantações realizadas foram as seguintes:

Assureira

- Acer pseudo-platanus...........30

- Abies numidica.....................6 

- Abies pectinata.....................2

- Ailanthus gladulosa..............8

- Aesculus hipocastanum........8

- Betula alba...........................40

- Cedros deodara....................9

- Cercis siliquastrum..............1

- Cupressus glauca.................22

- Cupressus lawsoniana..........3

- Eucalyptus amygdalina........21

- Eucalyptus globulus.............33

- Eucalyptus rostrata...............2

- Fraxinis alba.........................13

- Pinus sylvestris.....................12

- Pinus longifolia.....................12

- Pinus strobus.........................14

- Pseudo tsuga douglassi..........3

- Populus caroliniana................2

- Populus boleana alba..............2

- Platanus orientalis..................2

- Quercus coccinea...................5

- Quercus aquatica....................2

- Quercus pedunculata..............3

- Quercus tozza.........................1

- Robinea pseudo-acacia...........45

- Sequoia gigantea....................3

- Sequoia semper-virens...........6

- Tilia argentea..........................3

- Ulmus americana nigra..........42 (TOTAL, 349)

Galeana

- Castanea vulgaris...................101

- Sorbus aucuparia....................6 (TOTAL, 107)

Vidoeiro - Curral de Vidoeiro

* Ravinas do Pisco e Rio de Figueira

- Acer pseudo-platanus...........3

- Betula alba...........................14

- Cedrus deodara....................3

- Cupressus glauca.................44

- Eucalyptus globulus............40

- Platanus orientalis...............3

- Pinus sylvestris...................280

- Pinus longifolia..................18

- Pinus strobus......................10

- Quercus pedunculata..........2

- Robinia pseudo-acácia.......2

- Ulmus americana nigra......22

- Sequoia sempervirens........13 (TOTAL, 454)

* Curral de Vidoeiro

- Robinia pseudo-acácia.......68

* Pisco

- Cedros atlantica..................6

- Cupressus glauca................87

- Eucalyptus globulus...........107

- Eucalyptus amigdalina.......8

- Pinus silvestris...................400

- Sequoia sempervirens........20

- Ulmus americana nigra.......63 (Total, 690)

* Rio de Figueira

- Cedrs deodara......................6

- Cupressus glauca.................90

- Eucalyptus globulus............55

- Pinus Sylvestris...................400

- Sequoia sempervirens.........10

- Ulmus americana nigra.......35 (Total, 596)

Ravinas de Forno Novo, Azeral, Colado dos Fetos e Quelhas da Buraca e do Enxerto

* Forno Novo

- Acacia penninervis..............12

- Acacia pychnanta.................32

- Eucalyptus globulus.............377

- Eucalyptus amigdalina.........10

- Eucalyptus rostrata...............15

- Pinus Sylvestris....................130

- Ulmus americana nigra........36 (Total, 611)

* Azeral

- Acer pseudo-platanus...........10

- Betula alba............................10

- Cedrus deodara.....................10

- Cupressus glauca..................350

- Eucalyptus globulus.............100

- Pinus Sylvestris....................675

- Pinus longifolia....................25

- Pinus strobus........................225

- Sequoia sempervirens..........46

- Ulmus americana nigra.......37 (Total, 1530)

* Colado dos Fetos, Quelhas da Buraca e do Enxerto

- Acer pseudo-platanus...........117

- Acacia penninervis...............

- Betula alba...........................10

- Cedrus deodara....................6

- Cupressus lawsoniana.........3

- Pinus longifolia...................30

- Pinus picea (pices excelsia).11

- Populus caroliniana.............2

- Populus fastigiata................2

- Populos alba........................1

- Gingko bilboa......................6

- Sequoia gigantea.................2

- Sequoia sempervirens.........12

- Tilia argentea.......................6

- Taxus baccata......................8

- Ulmus americana nigra.......53 (Total, 272)

Albergaria e Ponte Feia

- Betula alba...........................63

- Cedrus deodara....................36

- Cupressus glauca.................940

- Larix europeia.....................25

- Pinus sylvestris...................13615

- Pinus strobus.......................700

- Pinus longifolia...................11

- Pinus picea (pices excelsia).11

- Sequoia sempervirens..........108

- Ulmus americana nigra........50 (Total, 15578)

Texto adaptado de "Mata do Gerês - Subsídios para uma Monografia Florestal" (Tude Martins de Sousa, 1926)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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