domingo, 19 de fevereiro de 2023

O Parque Nacional da Peneda-Gerês

 


Expoente máximo da conservação da Natureza em Portugal, o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) foi fundado em 1971 e é hoje a nossa joia da corona do Património Natural. 

O PNPG, com cerca de 70.000 ha, estende-se dos planaltos da Mourela ao de Castro Laboreiro incluindo as serras da Peneda, Soajo, Amarela e Gerês. É uma região montanhosa, essencialmente granítica em cujas zonas de elevada altitude são visíveis os efeitos da última glaciação. Vales profundos e encaixados suportam uma densa rede hidrográfica que possibilita uma grande variedade de formas de vida e de vivências.

Notável diversidade botânica - bosques, matos, vegetação ripícola e turfeiras para além de matos húmidos - destacando-se a presença de várias espécies raras e endémicas. O PNPG alberga alguns dos mais importantes carvalhais de Portugal e tem uma diversidade de espécies faunísticas com estatutos diferenciados: endémicas (salamandra-lusitânica), ameaçadas (lobo-ibérico, cabra-montês) e de distribuição limitada (cartaxo-nortenho).

Este, que é o único parque nacional em Portugal, possui ainda um rico património histórico-cultural que inclui necrópoles megalíticas, vestígios da presença do Homem com 6.000 anos, vestígios da romanização, castelos medievais, espigueiros tradicionais, abrigos pastoris únicos em Portugal, velhos fornos, moinhos de água, levadas, socalcos, brandas (lugares ocupados no Verão), inverneiras (para onde as populações se «refugiavam» no Inverno), termas, etc. Acresce a curiosa implantação das aldeias serranas e a presença de núcleos de arquitetura tradicional bem preservados.

A Natureza no PNPG

Com grande expressão, os carvalhais ocupam parte dos vales dos rios Ramiscal, Peneda, Gerês e Beredo, sendo dominados pelos carvalhos negral e alvarinho. A menor altitude e nas vertentes mais expostas ao Sol destacam-se, pela abundância, o carvalho-alvarinho, o sobreiro, a gilbardeira, o padreiro e o azereiro. Nos de características mais atlânticas, dominam os carvalhos alvarinho e negral, acompanhados pelo arando, medronheiro, azevinho e satirião-macho. A maior altitude há manchas florestais dominadas por carvalho-negral.

Em diversas áreas encontramos aquilo que são denominados como “matos de substituição”, piornais, urzais, carquejais, tojais e giestais, que surgem em antigas áreas de carvalhal. Os matos dominantes são: os tojais, com tojo-molar e tojo-arnal. Por seu lado, os urzais são dominados por queiró e torga, aparecendo plantas como um alho-bravo, uma arméria, o lírio-do-gerês e um narciso. Nos matos de altitude temos o zimbro-rasteiro e urgueira; e os matos higrófilos compostos por margariça, lameirinha, tojo-molar, a carnívora orvalhinha, uma pinguícola (a Pinguicula lusitanica), a violeta-de-água, a junça-do-algodão e a gramínea Molinia caerulea, entre outras.

A vegetação ribeirinha merece destaque, não só pelas plantas que engloba mas também pelo importante papel que desempenha na estabilização das margens dos cursos de água, onde a elevada velocidade da água está associada a forte poder erosivo. Nos cursos de água ocorrem várias plantas consideradas como merecedoras de especial proteção, tais como o feto-de-botão, o salgueiro-anão, o vidoeiro, a grinalda, a erva-das-feiticeiras e angélicas. Temos também a presença do amieiro, do freixo-de-folhas-estreitas e do magnífico teixo.

O lírio-do-gerês ou lírio-da-serra (Iris boissieri) está criticamente em perigo, devido a uma colheita indiscriminada, que coloca em causa a sobrevivência da espécie. Esta planta bolbosa é um endemismo ibérico, i. e. apenas existe na Península Ibérica. Surge em solos pedregosos e em fendas de rochas, sendo muito comum nos matos de altitude da serra do Gerês. As suas atrativas flores de cor violeta e amarela, contrastam com as cores agrestes do seu habitat.

O PNPG tem cerca de 1200 espécies pertencentes a 9 grupos. Pela sua importância em termos de conservação destacam-se duas espécies de borboletas, a fritilária-dos-lameiros e a Callimorpha quadripunctaria, 2 escaravelhos, a vaca-loura e um longicórnio (o Cerambyx cerdo), e uma lesma (a Geomalacus maculosus). A vaca-loura é o maior escaravelho de Portugal e um dos maiores insetos da Europa, podendo os machos atingir os 8 cm de comprimento. Tem cor castanha avermelhada e acentuado dimorfismo sexual (i. e. machos e fêmeas têm aspeto diferente), sendo a cabeça e as mandíbulas do macho muito maiores do que as da fêmea e usadas para a defesa de território. As larvas alimentam-se de madeira em decomposição.

Nos cursos de água de montanha e de planalto foram inventariadas 5 espécies de peixes autóctones, sendo a mais abundante e característica a truta-comum (Salmo trutta fario). As restantes são a migradora enguia-europeia com estatuto de comercialmente ameaçada, o barbo-comum, a panjorca e a boga-do-norte.

Dado ser uma zona com bastante humidade aqui existem vários anfíbios como a salamandra-lusitânica, a salamandra-de-pintas-amarelas, o tritão-de-ventre-laranja, o tritão-palmado, o tritão-marmoreado, o sapo-parteiro-comum, a rã-de-focinho-pontiagudo, o sapo-de-unha-negra, o sapo-comum, o sapo-corredor, a rela-comum, a rã-ibérica e a rã-verde.

Nos répteis estão presentes cágado-de-carapaça-estriada, cágado-comum, a osga, o licranço, cobra-cega, o sardão, lagarto-de-água, lagartixa-de-bocage, lagartixa-ibérica, lagartixa-do-mato, cobra-de-pernas-pentadáctila, cobra-de-pernas-tridáctila, cobra-lisa-europeia, cobra-lisa-meridional, cobra-de-escada, cobra-rateira, cobra-de-água-viperina, cobra-de-água-de-colar, a víbora-cornuda e a víbora-de-seoane.

Cerca de 170 espécies (residentes, estivais, invernantes e ocasionais), sendo de destacar o planalto da Mourela para a observação de aves. Pela reduzida distribuição em Portugal ou estatuto de conservação destacam-se a águia-real, a gralha-de-bico-vermelho, o bufo-real, o tartaranhão-cinzento, o falcão-abelheiro, a narceja, o picanço-de-dorso-ruivo, a escrevedeira-amarela, toutinegra-das-figueiras e o cartaxo-nortenho.

Entre outras espécies de aves temos o melro-d’água, o tartaranhão-caçador, o açor, o cuco, noitibó-cinzento, andorinhão-pálido, melro-das-rochas, corvo, cruza-bico e o dom-fafe.

Depois de mais de um século, a cabra-montês (a Capra pyrenaica) regressou beneficiando de um projeto galego de reintrodução. Destaque para o corço (o Capreolus capreolus), emblema do parque, o lobo (Canis lupus), a marta, o arminho, o gato-bravo, a lontra, a toupeira-de-água, o musaranho-de-água, sendo estes três com hábitos semiaquáticos. De referir ainda o musaranho-de-dentes-vermelhos e o esquilo-vermelho.

O PNPG alberga quinze espécies de morcegos, incluindo o criticamente em perigo morcego-de-ferradura-mediterrânico (Rhinolophus euryale), o morcego-de-ferradura-grande, o morcego-de-ferradura-pequeno, o vulnerável morcego-rato-grande (Myotis myotis), o morcego-lanudo, o morcego-negro e o morcego-arborícola-pequeno (Nyctalus leisleri).

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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