segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A bandeira Nazi nas Minas dos Carris - Terá lá estado?


É, nos nossos tempos, algo deveras perturbador pensar que em tempos uma bandeira com a cruz suástica possa ter estado hasteada num dos edifícios das Minas dos Carris ou mesmo que um quadro com o retrato de Adolf Hitler possa ter adornado uma das paredes de um dos escritórios daquele complexo mineiro.

Obviamente que isto é uma especulação tendo por base relatos que recolhi de testemunhos que trabalharam noutras minas durante o período da primeira metade da Segunda Guerra Mundial. Nos nossos dias não haverá ninguém que já nos possa testemunhar se tal terá acontecido ou não, pois essas memórias perderam-se com o rápido passar dos anos e os anos passam depressa demais quando se perde tempo ou nos esquecemos de registar a História.

Quando iniciei a busca pela História das minas que em tempos se ergueram nos altos do Gerês, aquilo que mais escutava era que a mina tinha pertencido aos "...Alemães no tempo da guerra!" A História não anda longe da verdade, pois de facto após saneado o conflito que envolveu dois grupos que tentaram explorar o filão volframítico do Salto do Lobo entre 1941 e 1943, as inúmeras concessões e registos mineiros foram adquiridos pela Sociedade Mineira dos Castelos, Lda.

Foi a Sociedade Minero-Silvícola, Lda. que a partir de meados da Segunda Guerra Mundial impulsiona o aproveitamento das concessões mineiras em Carris. A Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., da qual Hans Carl Walter Thobe era sócio-gerente, é incorporada na Sociedade Minero-Silvícola (empresa propriedade da Alemanha Nazi através da denominada holding Rowak/Sofindus ) passando a ser sócio gerente desta a partir de 1943. A Sociedade Minero-Silvícola, Lda. fazia parte de um grupo  de companhias mineiras cuja produção estava consignada à Alemanha. João Paulo Avelãs Nunes refere, na sua obra “O Estado Novo e o Volfrâmio (1933-1947)”, que a Minero-Silvícola, Lda. era propriedade do Gabinete do Plano Quadrienal e do Ministério da Economia do Terceiro Reich através da Rowak (de Berlim) e da Sofindus (de Madrid), dedicando-se à produção e venda para a Alemanha de matérias primas, tais como o estanho e o volfrâmio. A sociedade fora criada em Lisboa a 17 de Dezembro de 1938, transformando-se posteriormente numa “…entidade gestora e coordenadora da actividade de, pelo menos, 12 sociedades com explorações ou com oficinas de tratamento de minérios em Portugal continental.” Citando ainda João Avelãs Nunes “nos anos de 1941 e 1942 a holding Minero-Silvícola, Lda. adquiriu, assim, quotas ou lotes de acções maioritárias nas Companhia Mineira das Beiras, Lda.; Empresa Mineira de Folgar, Lda.; Fomento Nacional da Industria, SARL,; Mata da Rainha, Lda.,; Sociedade Mineira dos Castelos, Lda.,; Sociedade Mineira do Couto, Lda.,; Sociedade Mineira de Nelas, Lda.; Tungsténia, Lda.; e Volfrestânio, Lda. (ex-Schwarz & Morão, Lda.).”

O papel de Walter Thobe  seria fulcral no desenvolvimento das concessões nos Carris, “participando na criação das condições para o desenvolvimento e exploração da Mina dos Carris, tais como a difícil abertura e reacondicionamento do estradão de acesso, desde a Portela do Homem, até ao centro nuclear da mina, a concessão do Salto do Lobo, a construção dos edifícios sociais e industriais, e a instalação e posta em marcha dos equipamentos para as operações de extracção e tratamento de minério.” 

É assim nesta fase onde a exploração mineira nos altos Geresianos adquire uma importância relativa para o esforço de guerra Nazi. Tal como aconteceu noutras concessões mineiras em território nacional onde surgiram referências a imagens e símbolos Nazis para lá levados por pessoas relacionadas com o regime, o mesmo poderá ter acontecido nas Minas dos Carris onde um dia uma bandeira da vergonha possa ter sido hasteada num edifício no interior do qual se poderia encontrar um quadro com a imagem de um dos maiores carrascos da História.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Sem comentários: