quinta-feira, 26 de maio de 2016

As figuras rupestres de Absedo


Um dos dias mais felizes passados na Serra do Gerês foi quando, a 11 de Julho de 2012, tive a felicidade de descobrir uma série de figuras rupestres até então desconhecidas. Aqui, vivi o êxtase da emoção da descoberta e a prova definitiva que a Serra do Gerês tem muitos segredos para nos revelar.

Aquando da minha descoberta, era usual a denominação popular de 'Obsedo' para o Curral de Absedo. Posteriormente, e após a análise gráfica de um mapa de Tude de Sousa bem como dos registos existentes em Pincães, adoptou-se a verdadeira designação de 'Absedo'. No entanto, o artigo a seguir foi elaborado ainda utilizando a designação de 'Obsedo' que não é verdadeira.

O seguinte texto é da autoria de Armando Redentor, Mário Reis e Lara Bacelar Alves, e descreve a notícia da descoberta das figuras rupestres existentes em Absedo intitulada "I expedição arqueológica à Serra do Gerês no século XXI - As Gravuras Rupestres de Obsedo".

O sítio de arte rupestre de Obsedo foi descoberto ocasionalmente, em meados de 2012, por Rui Barbosa, residente em Braga e frequentador habitual das altas serranias do Gerês. Tendo comunicado aos serviços do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), em 19 de Julho desse ano, a existência de uma gravura rupestre numa remota localização daquela serra, deslocaram-se ao local, em 21 de Agosto, técnicos do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Norte (DGAC-N) do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), nomeadamente um dos signatários [AR] e o engenheiro florestal Jorge Dias, acompanhados pelo informante. O objectivo dessa visita foi no sentido de se proceder ao reconhecimento do sítio arqueológico, bem como à sua rigorosa localização e caracterização preliminar. Tendo-se constatado estar perante um motivo circular comum na designada Arte Atlântica, dessa primeira incursão resultou ainda a descoberta de outros motivos gravados em superfícies adjacentes

Em face do reconhecimento de um sítio de arte rupestre inédito, inclusive pela sua localização geográfica, e tendo-se a convicção de que a sua compleição seria mais vasta, nomeadamente quanto ao número de superfícies gravadas, tornou-se evidente a necessidade de uma avaliação mais detalhada, uma vez que os vestígios identificados apontavam, desde logo, para um sem-número de questões, concretamente nos planos interpretativo e cronológico, e configuravam um substancial interesse científico e cultural, complementares ao já elevado valor atribuído ao património natural daquela área.

A pertinência de um estudo mais circunstanciado do sítio e das manifestações artísticas associadas evidenciou a vantagem de colaboração com especialistas no estudo deste tipo de arqueossítios, ampliando-se a capacidade técnico-científica para se proceder a um estudo mais aturado.

Realizou-se uma nova incursão ao local no dia 17 de Setembro de 2012, incluindo agora a totalidade dos signatários, acompanhados pelo engenheiro florestal Jorge Dias e pelo sr. António Rebelo, igualmente afecto ao DGAC-N.

(...) Trata-se, efectivamente, do primeiro complexo de arte pré-histórica identificado, até ao momento, em todo o contexto montanhoso da Serra do Gerês. O sítio encontra-se dentro dos limites da Mata Nacional do Gerês, área de ambiente natural, com o regime de Área de Protecção Total conferido pelo Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês (Resolução do Conselho de Ministros 11-A/2011, de 4 de Fevereiro). Administrativamente, pertence à freguesia de Campo do Gerês, concelho de Terras de Bouro, distrito de Braga.




Enquadramento geográfico

A área de implantação das gravuras rupestres de Obsedo inscreve-se no troço inicial da bacia hidrográfica do rio Homem, a cerca de três quilómetros em linha recta da sua nascente, que se localiza no sector mais elevado da serra do Gerês, na zona de Carris, à cota de 1450 m.

Assumindo rapidamente uma direcção quase rectilínea de Leste para Oeste, o rio Homem rasga caminho numa profundíssima garganta aberta nos duros granitos da serra. Apenas oito quilómetros a jusante da nascente, na Portela do Homem, encontra-se já a uma cota inferior aos 750 m, configurando, assim, uma acentuada e impressionante queda de quase 100 m por quilómetro. Após a Portela do Homem, uma importantíssima via natural de acesso pelo meio das serranias que preenchem todo este território entre o Alto Minho e a Galiza, o rio dirige-se para Sudoeste, tornando-se gradualmente mais plácido.

Sobranceiro à depressão natural eleita para a construção da estrutura circular do Curral de Obsedo, o conjunto de superfícies decoradas encontra-se numa zona de declive suave, relativamente abrigada, flanqueada por uma linha de água, a poucas centenas de metros da sua nascente e, na direcção oposta, a distância similar do início do declive abrupto ditado pelo vale do rio Homem, com desnível na ordem dos 400 m. Esta linha de água corre imediatamente a Leste da ribeira do Cagarouço, entre esta e a ribeira de Madorno, integrando assim a densa rede de afluentes da margem esquerda do Homem.



As gravuras rupestres distribuem-se por um enorme afloramento granítico com perfil em forma de cunha e planta aproximadamente rectangular, com cerca de 200 m de comprimento e poucas dezenas de metros de largura. Esta vasta superfície apresenta um eixo longitudinal orientado de Sudeste (no ponto mais elevado) para Noroeste (no ponto mais baixo), acompanhando a linha de água. A sua cota média rondará os 1340 m.

O afloramento assemelha-se a uma imensa língua rochosa, composta por um contínuo de superfícies lisas e planas, dispostas em patamares, apresentando algumas irregularidades e saliências nos rebordos laterais.

As gravuras ocupam diferentes zonas individualizáveis ao longo da vasta superfície central do maciço e no seu rebordo sud-ocidental, que, mais à frente, se designam por “painéis”.

O suporte geológico, um granito porfiróide ou de tendência porfiróide de grão médio a grosseiro, biotítico, conhecido por “granito do Gerês” (MOREIRA e RIBEIRO, 1991), impõe alguma variabilidade ao aspecto e textura superficiais das rochas, que se apresentam bastante uni formes nalgumas zonas e noutras mostram irregularidades decorrentes de degradação granular superficial. São relativamente frequentes os longos e estreitos veios de quartzo e feldspato. Em certas zonas, aparecem apenas os seus negativos, indiciando que se destacaram da rocha devido a fenómenos erosivos, sendo que se apresentam nas superfícies como depressões estreitas e alongadas, muito semelhantes aos sulcos gravados. Impõe-se, invariavelmente, a observação cuidada da morfologia interna de ambos para destrinçar as irregularidades naturais das que têm origem antrópica.




Descrição e caracterização no núcleo de arte rupestre de Obsedo

A expedição realizada no dia 17 de Setembro de 2012 teve como objectivo principal o reconhecimento do terreno e das gravuras rupestres previamente detectadas e, simultaneamente, pretendia também a recolha de um conjunto de dados que permitisse consubstanciar a elaboração de um futuro projecto de investigação arqueológica. No total, foram inventariados sete painéis que se distribuem por dois grupos distintos. Os painéis 1, 2 e 3 encontram-se próximo da extremidade Noroeste do maciço rochoso, os restantes, a uma cota mais elevada, junto da extremidade Sudeste. As observações realizadas permitem apresentar um inventário descritivo preliminar de cada um deles.

O painel 1 ostenta a que podemos chamar de “gravura da descoberta”. Trata-se de um motivo de grandes dimensões e é visualmente bem perceptível. Encontra-se isolado no centro de uma ampla plataforma horizontal e rebaixada que constitui o rebordo ocidental do maciço e que é delimitada, pelo lado oposto, por uma elevada parede vertical.

Com a visibilidade assim fechada a Nascente, esta plataforma configura uma espécie de varanda sobre a paisagem a Ocidente, com um amplo domínio sobre o vale do Homem, vislumbrando-se a abertura da Portela do Homem.



O único motivo gravado neste painel é uma imponente combinação de círculos concêntricos, sem covinha central e delimitada externamente por arco(s) de círculo, com cerca de 1,80 m de diâmetro. Se a percepção visual desta grande figura circular é aparentemente fácil e imediata, os líquenes que a recobrem e o extremo desgaste de alguns dos seus traços, aliados a uma certa irregularidade técnica inerente à própria composição, dificultam a enumeração dos anéis concêntricos que a compõem, que serão no mínimo de cinco. O acesso a esta superfície faz-se pelo lado setentrional do maciço, passando-se pelo painel 2, do qual dista c. 25-30 m para Sul.

O painel 2 situa-se na zona setentrional do maciço e a partir desta superfície pode seguir-se para a direita, na direcção do painel 1, ou para a plataforma superior, a Sul, para alcançar o painel 3 e, a partir daí, os restantes. Este é, na verdade, o primeiro que se detecta no conjunto para quem acede ao maciço rochoso desde o pequeno vale que limita o afloramento a Norte.

A superfície gravada está levemente inclinada para Noroeste, detendo um campo de visibilidade similar ao do painel 1 para Oeste, mas dominando ainda o corredor natural de entrada para o amplo lameiro onde se situa o Curral de Obesdo. Apresenta também um único motivo, compósito, de difícil percepção, muito degradado, como atesta a escassa profundidade do sulco conservado (2-3 mm). Corresponde a uma figura oval que delimita uma superfície ligeiramente alteada no suporte e se encontra rodeada, por baixo e pelos lados, por um conjunto de pelo menos quatro linhas paralelas, formando cada uma um arco de círculo, parecendo arrancar, do lado Poente, de uma fissura natural do suporte. A figura tem como dimensões máximas 1,60 m no eixo Este-Oeste e 1,10 m no eixo Norte-Sul.



O painel 3 pode ser localizado por quem sobe o maciço a partir do painel 2, encontrando-se numa plataforma superior, configurada por uma linha de quebra que o corta lateralmente e forma uma parede rochosa cuja transposição não apresenta dificuldades. Este painel encontra-se no rebordo Norte da linha de quebra, imediatamente sobre o ponto natural de acesso, e apresenta unicamente três covinhas dispostas em triângulo, com 5, 8 e 9 cm de diâmetro e profundidades que oscilam entre 1,5 e 0,7 cm. A partir daqui, seguindo para a direita, alcança-se de imediato o limite superior da plataforma sobre o painel 1, tendo, desde este ponto, a melhor perspectiva sobre o círculo gravado.

Caminhando-se em frente e para cima acede-se às restantes superfícies decoradas. O painel 4 ocupa uma superfície quase horizontal, levemente descaída para Noroeste. Apresenta um único motivo de grandes dimensões, muito desgastado e de difícil visualização, consistindo numa composição formada por diversos segmentos de círculo paralelos que partem de um sulco linear superior disposto horizontalmente. Mede cerca de um metro no sentido Norte-Sul e 1,5 m no sentido Este-Oeste. Considera-se que detém algumas semelhanças formais com o motivo do Painel 2, embora se verifique a ausência da oval superfície e a existência de maior número de linhas curvas paralelas, que ultrapassa a dezena.

O Painel 5 encontra-se no seguimento do anterior, separado deste por uma diáclase. É o painel com maior grau de inclinação entre os já identificados. As gravuras consistem em três sulcos lineares, com 34 m de comprimento, dispostos ao longo da rocha e seguindo o seu declive natural, mas sem relação óbvia uns com os outros. Têm todos alguma sinuosidade, em particular o inferior, colocado de forma a aproveitar o rebordo do painel, sendo o único que apresenta um profunda covinha a interromper o sulco.

O painel 6 é, sem dúvida, o que apresenta os motivos mais originais e peculiares de todo o conjunto. Encontra-se um pouco acima do painel 5, mas lateralmente, sobre o rebordo do maciço. A superfície quase horizontal separa-se em duas partes por uma fissura e apresenta cotas ligeiramente desniveladas. Os motivos encontram-se dispostos em sequência, em grupos de dois, e alinhados sensivelmente no sentido Norte-Sul. Um grupo de motivos situa-se junto ao rebordo Poente, outro cerca de 3,5 m para Nordeste do primeiro e o último encontra-se mais afastado do rebordo. Todas as figuras apresentam idêntica dimensão e morfologia. Medem cerca de 50-60 cm de comprimento e 30 cm de largura, conformando uma oval larga, rebaixada na superfície da rocha, em cujo interior, seguindo o eixo longitudinal, foi delimitada outra oval em relevo, mais estreita. No interior desta gravura gravou-se sulco fundo e rectilíneo. Num dos casos, este sulco interno aproveita e segue uma linha de fractura natural.

Por fim, ligeiramente afastados destes motivos, e colocados mesmo no rebordo natural do maciço rochoso, encontram-se alguns pequenos entalhes artificiais de forma rectangular ou arredondada, de funcionalidade desconhecida.

O Painel 7 situa-se numa zona mais meridional do maciço rochoso, no seu sector mais elevado. Tem uma superfície quase horizontal, de textura extremamente irregular, que dificulta sobremaneira o discernimento dos contornos do motivo gravado. Este configura uma representação de contorno subquadrangular com cantos arredondados, embora haja dificuldade em compreender se se trata de uma figura aberta ou se apresentaria organização simétrica, encontrando-se o lado direito muito degradado ou apenas esboçado. O contorno, irregular, é definido por três sulcos dispostos genericamente em paralelo, embora o sulco exterior se afaste alguns centímetros dos demais no lado meridional da figura.




Considerações gerais sobre o acervo

Na sequência dos resultados obtidos nas visitas de reconhecimento é possível, aprioristicamente, tecer algumas considerações sobre o conjunto em apreço.

Em primeiro lugar, analisando a sua distribuição ao longo do afloramento rochoso, há uma sugestão de intencionalidade e relação mútua na distribuição das gravuras pelos diferentes painéis. Desde logo, pela forma como as várias superfícies decoradas surgem naturalmente aos olhos do observador à medida que se percorrer o grande maciço. A excepção é a combinação de círculos concêntricos do painel 1. A sua localização é a mais espectacular do conjunto, parecendo existir algumpropósito em tornar esta figura, de certo modo, distintiva. Pese embora se situe numa plataforma "fechada" naturalmente, com um único acesso pelo corredor Norte, é a única passível de ser visualizada de diferentes ângulos e pontos de observação, nomeadamente a partir da superfície superior, detendo-se daí uma perspectiva "aérea" do seu enquadramento e da sua morfologia.

O posicionamento das três covinhas do painel 3 precisamente no ponto específico de acesso à plataforma superior também não parece ser casual, fazendo a transição entre os dois grupos de painéis e indicando, simultaneamente, o caminho para a posição privilegiada de observação sobre o motivo circular do painel 1.




Outro factor de unidade prende-se com o facto de a maioria dos painéis apresentar um único motivo, normalmente de grandes dimensões (painéis 1, 2, 4 e 7) ou, quando há mais do que um, eles se repetirem (três covinhas no painel 3, três sulcos no painel 5, seis motivos idênticos no painel 6). Não se verifica a presença de tipologias repetidas de painel para painel, mas há um "ar de família" que parece unificar todo o conjunto, pelo estilo e técnica de execução das gravuras. A excepção estará, talvez, na ambiguidade e originalidade dos motivos do painel 6. Esta possível unidade de grupo não significa necessariamente que todas as representações sejam coetâneas em absoluto. Sugere, sim, que pertencem a um mesmo período cultural e que a sua implantação espacial poderá não ser aleatória mas estar mutuamente relacionada, embora não haja argumentos para afirmar se a sua execução perdurou no decurso de um tempo curto ou longo.

Atendendo às características estilísticas das maioria das gravuras presentes, de cariz abstracto, geométrico, com recorrência de contornos curvilíneos, e à sua técnica de execução, diríamos que esse "ar de família" se enquadra na tradição de Arte Atlântica do Noroeste Peninsular. Aliás, a Serra do Gerês posiciona-se no limite oriental da área de distribuição desta tradição, que se estende desde a fachada atlântica da Galiza à Beira Litoral portuguesa. Os sítios inventariados com arte rupestre a ela pertencentes geograficamente mais próximos de Obsedo situam-se nas faldas ocidentais da Serra Amarela, entre os quais se destaca o Penedo do Encanto / Bouça do Colado, estudado por António Marinho Baptista nos finais dos anos 70 e inícios dos anos 80 do século transacto.




A composição de círculos concêntricos do painel 1 encontra paralelos em inúmeros motivos similares em toda aquela região, embora as suas grandes dimensões sejam apenas comparáveis, no contexto dos sítios portugueses, com os que ocorrem em Monte dos Fortes I, na região de Valença, embora estes não ultrapassem 1,20 m em diâmetro, ainda que contenham maior número de anéis do que o exemplar em apreço.

Podemos assim propor uma datação pré-histórica para o sítio de Obsedo, não sendo possível maior detalhe cronológico, embora se adi ante que, em sentido lato, a tradição de Arte Atlântica, cujo enquadramento temporal é ainda tema de aceso debate, se poderá balizar entre o IV e o I milénios a.C., ou seja, abrangendo um vasto período da Pré-História Recente.

Neste momento, não será possível, em face do seu ineditismo no contexto do Noroeste peninsular, classificar com exactidão os motivos do painel 6. Mas o modo como estão representados na rocha indubitavelmente lembra a representação da genitália externa feminina. É provável que haja, de facto, um cariz sexual nestas representações, ainda que a sua intencionalidade seja enigmática.

É também difícil aferir a relação do painel 6 com os restantes: fará culturalmente parte do conjunto, ou será algo individualizável, cultural e/ou cronologicamente apartado dos restantes motivos? Estes motivos apresentam um grau de desgaste similar aos demais, mas a técnica de gravação, em baixo relevo, é distinta.

Também a sua implantação muito junto ao limite do maciço, que ali define uma quebra vertical de vários metros e condiciona o movimento do observador, é diferente, assim como a sua possível associação aos entalhes no rebordo rochoso, inexistentes nos restantes painéis.





Conclusão

Em suma, o sítio de Obsedo pode incluir-se na tradição de Arte Atlântica do Noroeste Peninsular, com a incógnita relativa aos motivos do painel 6.

Não é, no entanto, um sítio típico. Apresenta características muito próprias, quer ao nível do reportório iconográfico, quer da distribuição das figuras no suporte e relação espacial que estabelecem entre si.

Uma das suas originalidades prende-se com as grandes dimensões dos motivos gravados que parecem acompanhar e moldar-se ao gigantismo da paisagem granítica da serra.

A implantação espacial deste conjunto é também pouco usual. Os sítios de tão elevada altitude são raros ou inexistentes, embora esse desconhecimento se possa simplesmente dever à escassez de investigação realizada nestes ambientes. Talvez o isolamento do sítio no alto da serra do Gerês seja responsável pelas suas peculiaridades: uma “originalidade serrana”, poderíamos dizer.

A criação deste conjunto poderá eventualmente relacionar-se com o aproveitamento e exploração sazonal dos recursos naturais do alto da serra, talvez não muito distantes daqueles que, tradicionalmente, as comunidades locais mantiveram até há algumas décadas atrás. Apenas nos é consentido especular sobre a origem e os territórios das pessoas que criaram estas gravuras e viveram neste espaço, mas a sua implantação num maciço destacado, visualmente imponente, num local com uma tão forte relação paisagística com o vale superior do Homem, e a percepção longínqua da Portela do Homem, sugerem que possa ter sido delineado, a partir desta, o trajecto principal de acesso ao sítio. E talvez aqui possa residir a chave para uma melhor compreensão do sítio.

Entre a Portela do Homem e Absedo há um forte potencial para a identificação de arqueossítios, incluindo novos núcleos de gravuras rupestres. Obsedo pode constituir, assim, um ponto de partida para uma investigação espacialmente mais alargada, o que permitirá esclarecer se o sítio é uma singularidade ou se está adscrito a conjunto local, e se as peculiares gravuras do painel 6 são ou não únicas, e de que forma se inserem no contexto da arte rupestre da região.









Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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