sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Trilhos seculares - Na Serra do Gerês: ao Poço Azul e Arrocela

 


Nos dias do estio, o Poço Azul é um dos locais mais procurados na Serra do Gerês. Isto acontece não porque existam muitas pessoas que procuram uma verdadeira conexão com a Natureza ou porque as actividades em (ou na) montanha lhes preenchem ou as conectem com algo que as complementam de uma forma especial ou única; acontece porque a divulgação massiva destes locais os tornou pontos facebookianios ou momentos instagramáveis. No fundo, o pináculo na futilidade efémera.

Nesta caminhada estarei estado (??) uns 20 minutos no local, não mais. A maralha que foi chegando tornou-o insuportável ao ponto de ser algo vulgar... instagramável.

Sim, procuro locais que me complementem no momento e me façam sentir que este momento é especial. O resto que por ali venha é fútil.

Neste dia pretendia percorrer o Vale do Rio Conho, passando pelo Poço Azul, e depois subir a Corga Giesteira, baixando depois para o Arado. Assim, comecei a caminhada cedo e após estacionar no espaço acima da Ponte do Arado, segui pela estrada florestal até à Tribela passando pelos Cabeços de João Serra, Malhadoura e Curral dos Portos. O caminho é fácil e muito usado por quem demanda o Poço Azul. Na Tribela, segue-se agora o traçado da GR50 Grande Rota da Peneda-Gerês, descendo para a Ponte de Servas e subindo de novo para a estrada florestal, onde se caminha por umas dezenas de metros até tomar um carreiro que nos leva vale adentro na direcção da Roca de Pias que fecha o vale ao fundo.

O caminho vai-se desenvolvendo pela encosta, ora subindo, ora descendo, vencendo pequenos declives, mas indubitavelmente aproximando-se do Rio Conho, atravessando-o já perto do Poço Azul. Na lagoa natural que se forma no declive do rio, refrescamos o corpo e acalmamos a alma de um calor que se sente por entre as sombras que vão compondo o cenário que temos vindo a percorrer. Após uma paragem, e enquanto o espaço está tranquilo, conseguimos sentir a força do rio que desvanece a cada dia de Verão que passa, e o sentir da montanha que nos rodeia. Com a chegada da maralha em magotes, é hora de partir.

Era então hora de regressar ao ponto de partida e prossegui atér ao fundo do vale. Aqui, em Entre Águas onde existe um velho abrigo pastoril erradamente designado como "Rio Conho", a opção seria subir a Corga Giesteira ou a Corga das Cerdeiras, com esta a afastar-me do meu destino... Subindo a Corga Giesteira, passei pela imensidão dos espaços serranos com os colossos que se avolumavam para os lados da Rocalva. A Roca de Pias ergue-se como um titã por entre os gigantes de granito que se encorporam na paisagem à medida que o Estreito se vai afundando. O mesmo acontece com o Caucão e com o vislumbre da Roca Negra e da Rocalva que espreita em bicos de pés por entre o cinzento da paisagem composta pelo verde da vegetação do Estio. No fundo das corgas estreitas os cursos de água vão lutando por resistir ao calor que, entretanto, aperta.

O ziguezague do carreiro leva-nos a passar pelos milenários teixos que veneramos como «seres» que sempre ali estiveram, e o colo ao qual chegamos - o no qual sopra uma divinal brisa - está ocupado pelo pachorrento gado que ali encontra alívio ao calor do meio-dia.

"À sombra da Arrocela" começa-se a descer para o abrigo de resiste no topo do vale em busca da Fonte da Meda de Arrocela que ajuda a aliviar o braseiro que se vai instalando. Seguindo pelo carreiro que bordeja o vale, vamos chegando a Coriscada e depois, passando no Sobreiral, descemos para os domínios da Malhadoura, tomando a estrada florestal que nos leva ao nosso ponto de partida.

Ficam algumas fotos do dia...













Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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