A Mata de Albergaria já foi considerada por muitos a razão de ser do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG).
Se no passado todo o Noroeste da Península Ibérica estava coberto por carvalhal, nos nossos dias vão persistindo apenas algumas manchas de elevado interesse para a conservação da natureza e que se encontram mais ou menos conservadas. Este é o caso da Mata de Albergaria, definida como um bosque climácico dominado pelo carvalho-alvarinho, surgindo também o carvalho-negral bem como outras espécies características dos carvalhais galaico-portugueses que em tempos constituíram a vegetação primitiva da grande parte do Noroeste do nosso território.
A importância desta área é atestada pela classificação como reserva biogenética pelo Conselho da Europa em 1988. Embora existam outras manchas de carvalhal importantes no PNPG, tal como em Castro Laboreiro, a Mata do Cabril (Serra Amarela), a Mata do Beredo (Pitões das Júnias) e Rio Mau – a Mata de Albergaria distingue-se pela sua extensão e por ser única em Portugal, sendo uma das mais bem conservadas da Península Ibérica. Ocupa uma área de 1371,3 ha na Serra do Gerês, ao longo do Vale do Rio Homem e dos seus afluentes.
Para além da sua importância como valor natural, a Mata de Albergaria tem grande beleza, produto de uma combinação quase perfeita do ambiente e cores de um carvalhal maduro, ora com os cenários únicos dos cursos de água de montanha ora com as águas calmas do Rio Homem na albufeira de Vilarinho das Furnas. Completa este conjunto a via romana (Geira) que a atravessa no seu percurso entre as milhas XXXI (Bico da Geira) e XXXIV (Portela do Homem).
Percorrer a Mata de Albergaria nos dias de Outono é um passeio pela tranquilidade dos bosques (ignorando a passagem dos veículos automóveis), pelas cores da época e pela História dos lugares. Saindo da Portela do Homem e baixando pelo que terá sido, aparentemente, o traçado da Geira, vai-se chegar ao Curral de S. Miguel outrora ocupado pelas gentes de Vilarinho da Furna e local da erma Ermida de S. Miguel. Ignorando a estrada e seguindo pelo bosque, vamos passar junto das ruínas (mais umas) das antigas casas dos Guardas Fiscais e mais adiante podemos baixar ao leito pedregoso do Rio Homem. O cenário neste dias é quase bucólico e muito diferente das agressões e intranquilidade do Verão com o som do rio a esgueirar-se por entre a penedia gasta e o bailado das árvores na brisa da manhã.
O percurso vai-nos levar a atravessar a ponte de madeira que substitui a Ponte de S. Miguel (e que adaptou o seu nome). A ponte original foi destruída no século XVII, logo após a reconquista da independência de Portugal ao domínio Filipino para assim dificultar o acesso caso ocorressem mais investidas espanholas. A ponte foi reconstruída em madeira, mas no seu arranque ainda se verifica o seu aparelhado romano perfeitamente visível. Adiante, no caminho, são visíveis os restos da velha ponte romana.
Chegados à Milha XXXIII (Ponte Feia) surge um belo conjunto de marcos miliários e no mesmo local as ruínas da antiga Casa Abrigo do Académico F. Clube. O Académico F. Clube tinha uma secção de montanha na qual faziam parte montanheiros pioneiros em Portugal que construíram com as suas próprias mãos o primeiro refugio de montanha em Portugal. Além de ser um imóvel com uma arquitectura interessante, é também um marco histórico nos «desportos» de montanha em Portugal o que por si só merecia uma outra consideração por parte das autoridades em geral e do PNPG. Infelizmente, o facto de se encontrar muito longe dos locais de decisão deste país e escondida por entre os arvoredos da Albergaria, esta casa acabará certamente os seus dias numa triste ruína.
Aqui já se escutam as sucessivas quedas de água do Poço da Ponte Feia visível a partir da ponte com o mesmo nome. O Rio Homem prossegue o seu curso, mas o caminho vai-nos levar a passar pelos Viveiros de Albergaria junto das antigas ponte romanas sobre o Rio Forno e Rio de Maceira, não muito longe da Casa Florestal de Albergaria... em ruínas.
Passando a Casa Florestal de Albergaria segue-se por um caminho que surge à esquerda e que nos fará passar junto do Curral de Albergaria, propriedade dos antigos habitantes de Vilarinho da Furna, chegando um pouco mais adiante à estrada e passando o Rio do Forno segue-se então de volta para a Portela do Homem seguindo novamente pela Milha XXXIII.
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