quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Os Aliados visitam as Minas dos Carris em Fevereiro de 1946

 


Em finais de 1945 era elaborado um relatório sobre as actividades do Grupo Rowak em Portugal. Este relatório foi escrito pelos Aliados e resultou, por parte do Governo Português, na remoção das companhias pertencentes ao Grupo Rowak da gestão dos seus responsáveis alemães, Carl Heinrich Jakob e Hans Carl Walter Thobe.

A partir de meados da Segunda Guerra Mundial, a Sociedade Minero-Silvícola, Lda. impulsionou o aproveitamento das concessões mineiras nos Carris. A Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., de Walter Thobe, é incorporada na Sociedade Minero-Silvícola (empresa propriedade da Alemanha Nazi através da denominada holding Rowak/Sofindus ) passando a ser sócio gerente desta a partir de 1943.

Segundo Gilberto Gomes, a Sociedade Minero-Silvícola, Lda. fazia parte de um grupo  de companhias mineiras cuja produção estava consignada à Alemanha. Por outro lado, João Paulo Avelãs Nunes, em “O Estado Novo e o Volfrâmio (1933-1947)”, refere que a Minero-Silvícola, Lda. era “propriedade do Gabinete do Plano Quadrienal e do Ministério da Economia do Terceiro Reich através da Rowak (de Berlim) e da Sofindus (de Madrid), dedicando-se à produção e venda para a Alemanha de matérias primas, tais como o estanho e o volfrâmio." A sociedade fora criada em Lisboa a 17 de Dezembro de 1938, transformando-se posteriormente numa “…entidade gestora e coordenadora da actividade de, pelo menos, 12 sociedades com explorações ou com oficinas de tratamento de minérios em Portugal continental.” Citando ainda João Avelãs Nunes, “nos anos de 1941 e 1942 a holding Minero-Silvícola, Lda. adquiriu, assim, quotas ou lotes de acções maioritárias nas Companhia Mineira das Beiras, Lda.; Empresa Mineira de Folgar, Lda.; Fomento Nacional da Industria, SARL,; Mata da Rainha, Lda.,; Sociedade Mineira dos Castelos, Lda.,; Sociedade Mineira do Couto, Lda.,; Sociedade Mineira de Nelas, Lda.; Tungsténia, Lda.; e Volfrestânio, Lda. (ex-Schwarz & Morão, Lda.).

O papel de Walter Thobe foi fulcral no desenvolvimento das concessões mineiras nos Carris, participando na criação das condições para o desenvolvimento e exploração da Mina dos Carris, tais como a difícil abertura e reacondicionamento do estradão de acesso, desde a Portela do Homem, até ao centro nuclear da mina, a concessão do Salto do Lobo, a construção dos edifícios sociais e industriais, e a instalação e posta em marcha dos equipamentos para as operações de extracção e tratamento de minério.

A 31 de Janeiro de 1946 chegavam a Portugal os três membros de uma Comissão que seria responsável pela inventariação e posse dos bens alemães. Esta Comissão era composta por Bernard A. Blanger (França), Leonard H. Dismore (Grã-Bretanha), Herman Kasper (EUA) e Carlos Vasco Michon de Oliveira Mourão (nomeado pelo Ministério da Defesa Português).

Após procederem à posse dos bens no edifício da Companhia Mineira Lisbonense, e que também servia de sede da Companhia Minero-Silvícola, localizada no n.º 441 da Rua da Constituição, Porto, a 4 de Fevereiro, os membros da Comissão, acompanhados por um funcionário da Inspecção do Comércio Bancário (de apelido Pedroso), deslocaram-se à Serra do Gerês a 6 de Fevereiro.

O complexo mineiro dos Carris era então considerada a segunda mais importante instalação mineira em propriedade da Alemanha em Portugal. O relatório da Comissão descreve a sua localização numa "...região extremamente selvagem e montanhosa, a cerca de vinte minutos a pé da fronteira Espanhola." O relatório da Comissão refere que "...devido à natureza difícil da zona e devido ao facto de apenas ser servida por uma estrada, estas minas estão completamente afastadas da civilização durante o mau tempo e em ocasiões no passado, o pessoal teve de ser abastecida por meios aéreos."

Após referir que além da extracção de volfrâmio, a mina (abrangendo mais de 249 concessões - certamente referindo-se às concessões na posse da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda. na Serra do Gerês) fornecia esmeraldas, níquel e águas-marinhas, os membros da Comissão foram recebidos por José Rosas Bastos, que chegava ao complexo num carro alugado desde o Porto. Segundo o próprio José Rosas Bastos, ele seria o responsável pelos guardas da mina e pela manutenção da estrada. Questionado sobre a sua presença naquele momento nas Minas dos Carris, Bastos responde que havia sido informado de que a Comissão havia visitado as Minas de Bejanca, referindo que normalmente visitava as Minas dos Carris três vezes por semana. Porém, devido às más condições meteorológicas que haviam ocorrido nos últimos dez dias, não teria conseguido visitar as minas mais cedo. Este facto foi confirmado posteriormente por um Guarda Florestal que acompanhou os membros da Comissão.

Durante a permanência no complexo mineiro, os membros da Comissão examinaram as instalações referindo a existência de um armazém, posto de primeiros socorros, um conjunto de edifícios idênticos, uma cabana, edifício de escritórios, cantina e armazém, um galpão de abrigo de maquinaria, lavaria, galpão de motor, edifícios de armazenagem, cozinha, casa para os casais, vários edifícios de armazenagem com diverso equipamento.

No final da visita os guardas foram avisados para que não permitissem o acesso ao complexo mineiro por parte dos antigos donos da Sociedade Mineira dos Castelos.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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