quarta-feira, 16 de abril de 2025

A escalada em áreas protegidas

 


Um artigo de opinião de António Afonso

A escalada em áreas protegidas

Reflexões sobre proibições de escalada em Planos de Ordenamento - muitas vezes descabidos, desproporcionais e injustos.

A escalada, enquanto atividade desportiva e de comunhão com a Natureza, tem vindo a ser alvo de diversas restrições em parques naturais, muitas vezes de forma desproporcional quando comparada com outras práticas ao ar livre. É comum vermos zonas assinaladas para piqueniques lotadas, zonas de proteção parcial tipo I cheias de turistas e até atividades motorizadas em certas áreas protegidas, enquanto a escalada, que exige mínima intervenção no meio e promove um contacto profundo e respeitoso com a paisagem, enfrenta proibições frequentes.

Esta disparidade levanta questões sobre preconceitos, desinformação, desconhecimento da modalidade (ou sub-modalidades) e a real motivação por detrás dessas decisões. 

A escalada é, colocada sob um olhar de suspeita e exclusão.

Mais grave ainda é o fato de, em alguns planos de ordenamento de áreas protegidas, a escalada surgir na mesma alínea que atividades como a exploração de pedreiras, sendo tratada como uma intervenção agressiva e destrutiva no território. Esta equiparação revela uma profunda incompreensão da prática e das suas características. A escalada, ao contrário da extração mineral, não transforma permanentemente a paisagem nem compromete a sua integridade ecológica — pelo contrário, depende da preservação do meio para continuar a existir.

Outra questão que me gera desproporcionalidade é a pastorícia, autorizada na maioria das zonas de proteção parcial tipo I, ou nem vem contemplada nos planos de ordenamento (logo não tem qualquer controlo - regulamentação legal). 

A pastorícia, apesar da sua relevância cultural e histórica, pode causar danos à flora, já que animais que pastam frequentemente invadem áreas onde espécies protegidas de plantas crescem, sem qualquer controle rigoroso - os animais não distinguem as espécies protegidas, colocando em risco plantas e ecossistemas sensíveis.

No entanto, ressalta-me um detalhe importante: enquanto a escalada, quando praticada de forma responsável, respeita as áreas e protege a flora, porque é que a pastorícia que pode causar danos diretos à flora, não recebe o mesmo escrutínio?

A escalada, quando praticada com responsabilidade, não danifica o meio natural. Ela já existia em determinadas zonas que hoje são áreas protegidas e nem sequer os gestores sabiam...

A maioria dos escaladores valoriza profundamente o contacto com a natureza e muitas das vezes são os primeiros a defendê-la.

A escalada não é sinónimo de destruição e vandalismo!!! Pelo contrário...

É urgente repensar o modo como se legisla e se regulamenta o uso dos espaços naturais. Em vez de discriminar a escalada, é preciso reconhecê-la como parte integrante das soluções — uma atividade que, quando bem gerida, pode coexistir com a preservação, protecção e conservação e até reforçá-la.

A proibição pura e simples, sem diálogo ou estudo detalhado, revela uma falta de equidade no tratamento das diferentes formas de uso dos espaços naturais.

Na minha opinião não protege, nem preserva a Natureza, simplesmente afasta as pessoas em termos de educação e respeito.

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Texto e fotografia de António Afonso (todos os direitos reservados)

Reproduzido com autorização

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