Neste dia, as botas rumaram à Serra de Soajo para percorrer o PR16 AVV TRilho das Brandas da Gavieira.
Este é um percurso com uma distância de 9,3 km que se inicia em Rouças. Percurso linear, leva-nos a visitar a Branda de Gorbelas, a Branda (do Poulo) da Seida e o magnífico Fojo da Seida, ao longo de paisagens de montanha que nos fazem mergulhar num passado silencioso do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
O folheto inicial do então denominado "Trilho das Brandas" pode ser encontrado aqui. A informação oficial do Trilho das Brandas da Gavieira (PR16 AVV) pode ser encontrado aqui.
Iniciando em Rouças, o percurso (linear) começa desde logo por testar as nossas capacidades físicas. Atravessando o casario por entre velhas construções, o traçado do PR16 AVV vai atravessar o Rio Gingiela na Ponte de Vervã, iniciando uma longa subida inicialmente pelo vale do Rio da Pedradona e tirando partido de velhos caminhos rurais que eram antigamente utilizados para chegar às brandas em altitude. Agora num estado decrépito, estes caminhos contam histórias das idas e das voltas quando as brandas eram ocupadas pelo gado nos meses de Verão (os animais subiam ainda antes da Páscoa e ali permaneciam até ao Natal).
Empinando serra acima, o caminho vai-nos levar ao Porto da Laje, continuando para a Branda Gorbelas. As brandas podem ser caracterizadas como espaços "de cultivo ou brandas de gado e localizam-se no planalto ou em chãs de altitude." Geralmente, "são núcleos habitacionais temporários cujos terrenos são usados para a agricultura ou alimentação do gado, durante a Primavera / Verão, quando essas áreas de montanha apresentam condições mais favoráveis a essas actividades humanas. Em contraposição às brandas surgem as inverneiras - núcleos habitacionais onde as populações passam o Outono e Inverno (daí o nome). Presentemente, nessa transumância imposta pelas condições agrestes do meio, nas aldeias que ainda mantém essa migração, as populações apenas transportam consigo o gado e alguns haveres." (fonte).
Chegados à Branda de Gorbelas mergulhamos num passado longínquo tanto em termos humanos como em termos geológicos. A branda está já descaracterizada pelas necessidades de se proporcionar um maior conforto de quem dela tira partido. Porém, não deixa de impressionar todo o trabalho ali realizado ao longo de séculos na criação e manutenção daquele lugar. Actualmente somente utilizada para o apascentamento dos animais, os campos eram em tempos cultivados com centeio ou batata, actividade agora abandonada. As velhas casas, a divisão dos pequenos campos e os muros que caracterizam a paisagem, leva-nos a um passado onde a resistência humana naquelas paragens era forma de vida.
Por outro lado, e recuando milénios no tempo, entramos num cenário onde os glaciares moldaram a paisagem. "Este local é uma excelente mostra de glaciação ocorrida durante o Pleistocénico, testemunhando a importância dos episódios de glaciação na Serra da Peneda e, no geral, nas montanhas do noroeste de Portugal. Aqui, é possível observar um grande conjunto de moreias laterais e de blocos morénicos dispersos e, a 900 m de altitude, a existência de till subglaciário com cerca de 3 m de espessura, de material com elevada dureza e compactação, cor clara e predomínio de uma matriz silto-arenosa envolvendo calhaus rolados de diferentes calibres. Este depósito (till) foi posto a descoberto em taludes aquando de trabalhos de recuperação e manutenção da estrada que liga a aldeia de Gavieira às brandas de Junqueira e de Gorbelas (...)."
Atravessando a branda, o percurso leva-nos por pequenos carreiros que nos conduzem à Corga da Seida e logo a seguir a uma chã onde encontramos a Branda (do Poulo) da Seida. Constituída por um interessante conjunto de construções (abrigos pastoris) de falsa cúpula, encontramos edifícios de tamanhos distintos. Caracterizados por um estado de ruína (na sua maior parte), não é difícil imaginar o local em pleno uso. Não é fácil tentar datar estas construções rupestres e chama-se especial atenção para uma pequena cruz granítica junto de um dos abrigos e para a sua nascente de água fresca.
Tendo como objectivo atingir o grande fojo, prosseguimos então para a Chã da Seida, à vista das Lamas do Vez, e aqui flectimos à esquerda, encontrando quase de imediato o muro esquerdo do grande Fojo da Seida. O muro desenvolve-se na face Poente do alto da Seida, fazendo a convergência com o muro direito que se desenvolve na encosta aposta ao pequeno vale.
O regresso foi efectuado na maior parte pelo mesmo traçado, fazendo um pequeno desvio para observar o Circo Glaciar do Ramisquedo (A glaciação Plistocénica do Alto Vez (PNPG): morfometria dos circos e espessura da língua glaciária).
Antes que façam os comentários sobre Serra de Soajo / Serra da Peneda, recomendo a leitura do artigo Serra do Soajo ou Serra da Peneda?
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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