terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Uma reflexão sobre a suspensão do acesso à Zona de Protecção Total do PNPG.


Os acontecimentos de dia 9 de Janeiro de 2016 chamaram a atenção mediática para as actividades de montanha. Por entre opiniões absurdas e sem fundamento nas quais se pede a condenação sumária de resgatadores e resgatados, o Parque Nacional da Peneda-Gerês tomou a atitude de suspender por tempo indeterminado a emissão de autorizações para o acesso às denominadas Zonas de Protecção Total.

Ora, esta suspensão não se limita à área na qual (não aconteceu) o acidente de 9 de Janeiro, mas sim a todas as zonas de máxima classificação daquela área protegida.

Antes que se elevem os arautos conservacionistas lusitanos, convém referir três pontos importantes: 1º - exceptuando, por ventura, a Mata do Ramiscal, todas as outras zonas têm ou tiveram desde sempre uma forte presença humana, o que nos leva ao segundo ponto; 2º - por definição, as Zonas de Protecção Total não passam de fórmulas matemáticas imprimidas no terreno por forma a satisfazer um acordo assinado com uma fundação falida, a Pan Parks, cujo único objectivo era a promoção de um turismo elitista e cujo mote era o de referir que a "Natureza não era para todos"; 3º - a interdição de acesso ao Vale do Alto Homem baseia-se no pressuposto da dificuldade do caminho que se degradou ao longo dos anos por imposição do próprio Parque Nacional da Peneda-Gerês e de uma visão desactualizada de um extremismo conservacionista de ocasião que não era reflectido durante todo o ano e mais uma vez para satisfazer os pressupostos matemáticos de uma formula que não existe na realidade, isto é, a Zona de Protecção Total no Vale do Alto Homem é uma imposição artificial.

Assim, é legítimo questionar quais os verdadeiros motivos que levam o Parque Nacional da Peneda-Gerês a vedar o «acesso legal» àquela zona? Não havendo qualquer razão para o PNPG actuar da forma como está a actual, a não ser para cumprir uma agenda guardada e há muito escondida e que passa por excluir a presença humana de um espaço humanizado há milénios.

A atitude do Parque Nacional da Peneda-Gerês parece-me estranha e exacerbada, e muito mais o é quando olhamos para os acontecimentos de 2015 naquela área protegida e que envolveram resgates, mas que não implicaram o impedimento do acesso a esses percursos.

Olhemos então para o que aconteceu em 2015! Das (11) ocorrências que pude apurar, tivemos uma ocorrência no Trilho da Preguiça, uma ocorrência no Trilho dos Currais, quatro ocorrências no Trilho dos Miradouros (16 de Junho, 29 de Junho, 27 de Julho, 2 de Novembro), um acidente grave na Fecha de Barjas, uma ocorrência no Trilho do Sobreiral da Ermida (10 de Setembro), uma ocorrência no Trilho da Cidade da Calcedónia (10 de Outubro), uma ocorrência no Vale do Alto Homem (15 Novembro) e uma ocorrência na Serra Amarela (8 de Novembro).

Perante estas ocorrências qual foi a atitude do Parque Nacional da Peneda-Gerês? Nenhuma! Caso particular é o caso do Trilho dos Miradouros com quatro ocorrências. Apesar de a manutenção do equipamento ser da responsabilidade da Câmara Municipal de Terras de Bouro, este encontra-se na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês que não decidiu, como é óbvio, impedir o acesso ao mesmo.

O acidente registado a 15 de Novembro de 2015 no Vale do Alto Homem levou a que houvesse necessidade de transportar a vítima em maca desde o Modorno (local da ocorrência) até à Portela do Homem, numa premonição do que haveria de acontecer numa escala impensável a 9 de Janeiro de 2016.

Convém frisar novamente que nenhuma destas ocorrências levou a que o Parque Nacional da Peneda-Gerês impedisse o acesso a esses percursos o que no caso dos acidentes de 15 de Novembro de 2015 e 9 de Janeiro de 2016, equivale à não emissão da autorização para as actividades de visitação que estão previstas no Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Como já referi, o Parque Nacional da Peneda-Gerês não está a autorizar as actividades de visitação mesmo em zonas em nada relacionadas com os acontecimentos referidos no Vale do Homem. A justificação dada a quem pede as respectivas autorizações para essas actividades, prende-se com o facto de os percursos atravessarem a Zona de Protecção Total, indo mesmo ao ridículo de justificar com a existência de elementos que não foram tidos em contas em autorizações dadas anteriormente para o mesmo percurso! O Parque Nacional da Peneda-Gerês nunca refere os acontecimentos recentes no Vale do Homem para justificar a não emissão das autorizações solicitadas.

Como é óbvio, e como se assistiu em tempos passados aquando da existência das taxas que eram cobradas para a análise dos pedidos de autorização para as actividades de visitação, esta atitude do Parque Nacional da Peneda-Gerês só vem beneficiar aqueles que não pedem autorização e que como tal não estão sujeitos a uma fiscalização por parte dos Vigilantes da Natureza.

Assim, é urgente que o Parque Nacional da Peneda-Gerês altere esta sua postura.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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