Esta é a primeira parte de segundo conjunto de histórias sobre o Inverno na Serra do Gerês com particular ênfase nas Minas dos Carris. É possível que já tenha publicado aqui este texto que nos conta a dureza da vida na Serra do Gerês no longínquo ano de 1955.
As histórias servem também de aviso e conselho para aqueles que nos próximos dias irão demandar as paisagens serranas, sublinhando a importância da segurança e da gestão do risco em montanha.
A partes anteriores deste artigo podem ser lidas em Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (I), Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (II), Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (III), Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (IV) e Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (V).
O texto em baixo é adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", de Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013. Na transcrição em baixo não foi corrigida a ortografia.
"Episódio singular das dificuldades originadas pelo mau tempo ocorreu em Fevereiro de 1955. Naquela altura, e durante mais de uma semana, nevou intensamente e de forma contínua na Serra do Gerês de tal maneira que em alguns pontos a neve chegou a atingir cerca de quatro metros de espessura, tornando impossível o trânsito de veículos e mesmo de peões. A mais de 1400 metros de altitude, os mineiros e o pessoal técnico e administrativo num total de cerca de duzentas pessoas que na altura trabalhavam nas Minas dos Carris, ficaram isolados nas suas instalações, tornando-se problemática a situação que de dia para dia o estado do tempo foi criando. Pelo telefone, uma vez que os fios resistiram ao peso da neve, foi sendo mantido contacto, até que as notícias se tornaram alarmantes, pois o pessoal, em especial os mineiros (que eram cento e vinte) estavam sem pão nem legumes, com escassa roupa e cada vez mais à mercê dos lobos, que segundo o jornal ‘O Século’ que uivavam famintos, noite e dia, por aquelas redondezas.
Devido à situação alarmante que se desenvolvia nos píncaros do Gerês, foi decidido organizar uma brigada de socorro e depois de organizada, esta brigada saiu da Portela de Leonte e percorreu em circunstâncias difíceis a distância ate à Água da Pala, onde entrou em contacto com o pessoal dos Carris. Os mineiros tiveram de descer até ao ponto de contacto, ligados uns aos outros por uma corda e meio enterrados na camada de neve. Segundo relatos de Carlos Sousa, os mineiros percorreram o caminho no Vale do Homem cantando canções patrióticas e ‘A Portuguesa’ para assim manter o ânimo durante a difícil operação. Foram necessários oito dias de trabalho intenso para desobstruir as vias de acesso às minas bloqueadas. Vinte e oito operários ofereceram-se para essa difícil tarefa, a fim de se conseguir passagem para uma camioneta carregada de pão, visto ser este o alimento que fazia mais urgente falta e não ser possível levar simultaneamente legumes e roupas. Após trabalho fatigante e perigoso, pôde a brigada fazer chegar a camioneta ao ponto combinado onde os mineiros esperavam, havia bastante tempo, sob um frio cortante e com receio de que não desse resultado o plano que se traçara. Quase quatro horas duraram a heróica escalada daqueles sete quilómetros. Por fim viveu-se outra faceta da dramática e abnegada aventura: os mineiros tardavam a chegar ao ponto combinado e, dada a intensidade do nevão que caía e que tapava os sulcos abertos horas antes, receava-se que os homens se perdessem ou, ligados uns aos outros, perecessem todos na tragédia da queda em algum precipício encoberto. Quando o telefone tocou com as notícias da chegada, “…soltaram-se gritos de entusiástica alegria.”
(...)"
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
O texto em baixo é adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", de Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013. Na transcrição em baixo não foi corrigida a ortografia.
"Episódio singular das dificuldades originadas pelo mau tempo ocorreu em Fevereiro de 1955. Naquela altura, e durante mais de uma semana, nevou intensamente e de forma contínua na Serra do Gerês de tal maneira que em alguns pontos a neve chegou a atingir cerca de quatro metros de espessura, tornando impossível o trânsito de veículos e mesmo de peões. A mais de 1400 metros de altitude, os mineiros e o pessoal técnico e administrativo num total de cerca de duzentas pessoas que na altura trabalhavam nas Minas dos Carris, ficaram isolados nas suas instalações, tornando-se problemática a situação que de dia para dia o estado do tempo foi criando. Pelo telefone, uma vez que os fios resistiram ao peso da neve, foi sendo mantido contacto, até que as notícias se tornaram alarmantes, pois o pessoal, em especial os mineiros (que eram cento e vinte) estavam sem pão nem legumes, com escassa roupa e cada vez mais à mercê dos lobos, que segundo o jornal ‘O Século’ que uivavam famintos, noite e dia, por aquelas redondezas.
Em cima: É visível a acumulação de neve durante a última semana de Fevereiro de 1955. A fotografia é obtida à passagem do Teixo.
Imagem no topo: Parte do grupo que compôs a expedição de salvamento que foi organizada para abrir caminho através do Vale do Alto Homem até às Minas dos Carris depois destas terem ficado isoladas devido a fortes nevões que assolaram a Serra do Gerês em Fevereiro de 1955.
Devido à situação alarmante que se desenvolvia nos píncaros do Gerês, foi decidido organizar uma brigada de socorro e depois de organizada, esta brigada saiu da Portela de Leonte e percorreu em circunstâncias difíceis a distância ate à Água da Pala, onde entrou em contacto com o pessoal dos Carris. Os mineiros tiveram de descer até ao ponto de contacto, ligados uns aos outros por uma corda e meio enterrados na camada de neve. Segundo relatos de Carlos Sousa, os mineiros percorreram o caminho no Vale do Homem cantando canções patrióticas e ‘A Portuguesa’ para assim manter o ânimo durante a difícil operação. Foram necessários oito dias de trabalho intenso para desobstruir as vias de acesso às minas bloqueadas. Vinte e oito operários ofereceram-se para essa difícil tarefa, a fim de se conseguir passagem para uma camioneta carregada de pão, visto ser este o alimento que fazia mais urgente falta e não ser possível levar simultaneamente legumes e roupas. Após trabalho fatigante e perigoso, pôde a brigada fazer chegar a camioneta ao ponto combinado onde os mineiros esperavam, havia bastante tempo, sob um frio cortante e com receio de que não desse resultado o plano que se traçara. Quase quatro horas duraram a heróica escalada daqueles sete quilómetros. Por fim viveu-se outra faceta da dramática e abnegada aventura: os mineiros tardavam a chegar ao ponto combinado e, dada a intensidade do nevão que caía e que tapava os sulcos abertos horas antes, receava-se que os homens se perdessem ou, ligados uns aos outros, perecessem todos na tragédia da queda em algum precipício encoberto. Quando o telefone tocou com as notícias da chegada, “…soltaram-se gritos de entusiástica alegria.”
(...)"
Em cima: Segundo a legenda original do Século Ilustrado, este camião cisterna terá estádio retido no complexo mineiro por mais de doze dias devido ao mau tempo em Fevereiro de 1955.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
1 comentário:
Ainda me recordo de, por volta de 1956/57, ter ido aos Carris de carro, com o meu Pai, num Vauxhall de 3 velocidades...
Hoje quase duvido que o actual demolidor caminho (sobretudo a descer) de 13 km entre a Portela e as Minas já foi um estradão que dava acesso a carros e camiões...
Cpts
José Veloso
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