sexta-feira, 14 de abril de 2023

Faisões na Serra do Gerês?


A chegada dos Serviços Florestais à Serra do Gerês foi polémica e (em vista do que aconteceria muitas décadas mais tarde), um pouco desastrosa. Porém, no início do século XX foram feitas algumas tentativas curiosas de introdução de animais na serra, tal como aconteceu com os faisões.

Os faisões foram introduzidos na Serra do Gerês com a intenção de se multiplicarem de forma natural para o povoamento da serra, instalando-se de maneira a tentar-se a criação e multiplicação naturais, conservando-os num grande recinto fechado com uma vedação alta. No interior deste recinto foram colocadas pequenas árvores, matos, pedras, água corrente, etc.

Vindos de Inglaterra, os faisões chegaram ao Gerês em Agosto de 1909, sendo o grupo constituído por 6 machos e 13 fêmeas, tendo uma fêmea morrido na viagem. Nos dois primeiros meses morreram 3 fêmeas que haviam já chegado em maus estado. Nos meses que passaram após a sua chegada, outros animais foram morrendo, dado que a 30 de Junho de 1910 apenas restavam 4 machos e 7 fêmeas.

Ignorando-se o processo de reprodução dos faisões, na altura os ovos foram deixados nos ninhos na esperança que as fêmeas os chocassem. Porém, tal não aconteceu, e os períodos de incubação foram passando sem o aparecimento de aves juvenis.

Este facto levou à perda de quase 50 ovos, e apesar de haver a postura de algumas fêmeas que resultaram no aparecimento de pequenos faisões, estes acabariam mortos por algum predador logo após o seu nascimento ou devido a não assistência por parte da progenitora.

Assim, surgiu a ideia de se tentar a criação utilizando galinhas que acabaria por dar bom resultado. Uma galinha fez a postura com 17 ovos a 4 de Maio de 1909, nascendo 9 faisões a 29 de Maio. Infelizmente, destes morreram 4 dias mais tarde, mas os pequenos faisões que sobreviveram (3 fêmeas e 2 machos), acabariam por se juntar aos animais mais velhos.

Infelizmente, a mortandade entre os faisões foi continuando, principalmente devido a circunstâncias que foram atribuídas ao mau cuidado por parte do pessoal dos Serviços Florestais encarregado de tratar dos faisões e devido à distância a que o cercado que os continha na Albergaria estava das instalações principais nas Caldas do Gerês, o que impedia uma continuada fiscalização superior. Em finais de 1911, e dos 19 animais que haviam chegado de Inglaterra com os 5 já nascidos no Gerês, apenas restavam 1 macho e 5 fêmeas, sendo destes 1 fêmea das iniciais e de cuja postura não havia vingado qualquer ovo. As restantes fêmeas, como só tinha 1 ano, não puseram qualquer ovo, não nascendo faisões em 1910-1911. Em 1913 apenas existia um macho, tendo a fêmea restante morrido em Setembro desse ano.

Baseado em "Mata do Gerês - Subsídios Para Uma Monografia Florestal" (Tude Martins de Sousa, 1926).

Fotografia: Pinterest (imagem meramente ilustrativa)

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