segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Procurando pelo Curral das Cambas e um relato de um pequeno acidente

 


A caminhada não deveria ser longa, pois sabendo mais ou menos a localização deste «curral», não teria muito por onde procurar. Porém, terminaria num estado de choque após um pequeno acidente que poderia ter tido outras consequências.

Por muito experiente que se seja em montanha ou neste «mundo das caminhadas», os perigos - e a montanha - estão sempre à espreita de uma oportunidade para nos lembrar que aquele é um ambiente de certa forma hostil e que todo o cuidado é pouco. Um velho amigo, infelizmente já falecido, dizia-me que nunca se deve correr na montanha... eu digo que nunca se deve também caminhar com passo apressado.

Vamos à história...

O Sol já ia bem alto quando deixei o carro na Portela de Leonte em direcção ao Prado Marelo. Até lá, o percurso está bem marcado e é bem conhecido. Tomando o caminho por detrás da Casa Florestal da Portela de Leonte, e passando o monumento a Arthur Loureiro, envereda-se por um caminho florestal que nos levará perto até ao início do carreiro em direcção à Portela do Confurco com a sua grande mariola. Aqui, o caminho toma duas direcções: ou se segue para o Pé de Cabril ou se segue para Varziela. Tomei esta opção para chegar ao Prado Marelo.

O carreiro a certa altura divide-se, seguindo um para o Cancelo e outro para o Prado Marelo. Aqui a vegetação já vai cobrindo o carreiro que se segue com a ajuda das velhas mariolas que nos fazem ladear o topo da Quelha D'reita (Quelha Direita). Após algumas centenas de metros chega-se então ao Prado Marelo de onde se desfruta de uma perspectiva interessante do Pé de Cabril. Assomando-me à barreira de granito que se monta a Poente, surgia a visão da albufeira da Barragem de Vilarinho das Furnas e, consideravelmente mais perto, a zona onde se encontra referido o Curral das Cambas.

Toda esta zona envolvente ao Prado Marelo deixou de ser utilizada pelo pastoreio, o que explica o crescimento da vegetação e o desaparecimento de um possível caminho que pudesse baixas para a zona do curral. Após algum tempo a prescrutar por entre o fraguedo e a vegetação, decidi abandonar a busca pelo velho caminho, principalmente devido ao facto de me encontrar sozinho. Decisão irónica tendo em conta o que ocorreria pouco tempo depois.


Encetei então o regresso ao ponto de partida, mas escolho um desvio que me leva ao Curral do Marinho e depois passar pelo Covelo depois de percorrer a Manga do Marinho. Chegando então à Portela do Confurco, decido por um pequeno desvio e em vez de descer logo para Leonte, sigo pelo caminho florestal que se desenvolve na Encosta de Bemposta para me recordar de um velho carreiro que seguiria pela Corga de Bemposta. Chegando então a este desvio no caminho florestal, vou andando até chegar à Corga de Bemposta numa altura em que a estrada florestal se transforma num carreiro já assinalado por mariolas. Surpreendentemente, o caminho encontrava-se aberto e a passagem era relativamente fácil.

Corga acima, perante as fragas de Bemposta, tentava encontrar a passagem que me levasse de volta a uma área perto do Curral do Marinho. Porém, a certa altura torna-se impossível a progressão e decidi seguir na direcção do Curral de Varziela para a partir daí encetar a descida pelo Colado Seco para a Portela de Leonte.

Passando para a margem esquerda da corga e passando os velhos muros dos terrenos de Mourinho, acabo por encontrar o carreiro que segue para Varziela. A distância não era muito e sei que em menos de uma hora estaria de volta a Leonte. Vou prosseguindo pelo carreiro e já após passar uma pequena chã para começar a descer para o velho curral, algo me prende o pé de apoio. Uma velha raiz ou um ramo caído foi o suficiente para me desiquilibrar num terreno simples, fazendo-me dar passos desiquilibrados e cada vez menos seguros. Em fracção de segundo, decido que o melhor será deixar-me cair no que me parecia ser uma zona livre de vegetação à minha frente. Assim faço, tentando suavizar a queda. Porém, não reparo num ramo de carqueja que acabaria por me raspar o lábio superior, ao mesmo que outros pequenos ramos passam pelo rosto. 

Atordoado pelo acontecimento, passo a língua pelo lábio superior e de imediato sinto um rasgo e o sabor a sangue. O estado de choque instala-se e levanto-me do chão tentando ainda avaliar que outras dores se iriam instalar. Dói-me o rosto, mas a preocupação é o sabor intenso a ferro que se instala na boca. Continuo o caminho à procura de uma zona mais larga e começo a tirar a mochila das costas depois de pousar a máquina fotográfica no chão. Respiro fundo e de novo tento avaliar a profundidade do golpe que tenho no lábio ao mesmo tempo que vou abrindo a bolsa de primeiros socorros.

Com a câmara do telemóvel tento ver o tamanho do golpe. Surpreendentemente, não sinto o lábio a dilatar e a dor não se instala, certamente devido ao choque. Na mesma altura apercebo-me de pequenos golpes no rosto que sangram. Com a bolsa de primeiros socorros limpo os pequenos golpes e estanco o sangue do golpe no lábio. Com a hemorragia estacanda decido beber um pouco de água e sou logo percorrido por um ardor do contacto da água com o golpe. Felizmente, a hemorragia não se torna muito intensa e pouco sangrará até regressar a casa. O processo de cicatrização acabaria por ser rápido.

Lemos e ouvimos muitas vezes que nunca se deve andar sozinho na montanha. Talvez esta seja uma prova de que assim deve ser. Em minha opinião, e por contraditóiria que venha a parecer, esta situação mostra o contrário. Em determinadas alturas devemos ter essa experiência de caminhar, estar sozinhos na montanha. Ganhar experiência em situações que possam ser mais arriscadas. A situação que descrevi poderia ter sido pior? Claro que sim, mas talvez se não tivesse o ensinamento e a experiência de lidar com estas situações, estaria na altura a ligar para o socorro para me socorrerem.

Resolvida a situação, segui então para o Curral de Varziela, descedno pelo Colado Seco para o Curral de S. João do Campo e Portela de Leonte.























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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