quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Entre serras: em busca do Curral de Costa de Negrelos, um curral de Vilarinho da Furna

 


A esta publicação dei o título de "Entre serras: em busca do Curral de Costa de Negrelos" com um duplo sentido. O primeiro acaba por se um pouco contraditório, pois afinal - e na verdade - trata-se da mesma serra, mas que a evolução da língua acabou por a «separar» em Gerês e Xurés; o espaço físico é delimitado por um muro de pedra solta, mas que acaba por não separar dois povos com uma raiz comum. O segundo sentido está relacionado com a utilização do próprio espaço que acabei por (re)descobrir com a ajuda de três valorosas exploradoras do outro lado da fronteira: assim, o espaço foi ocupado por um povo que vivia noutra serra - a Serra Amarela - mas cujo espaço de pastoreio abrangia uma enorme área tanto em Portugal como na Galiza.

Assim, esta foi uma demanda para (re)descobrir o Curral de Costa de Negrelos tirando partido da ajuda da toponímia que delimitava a área de busca.



Tanto do lado português como do lado galego, existem topónimos 'Negrelos', mas em pontos distintos. Se o 'Negrelos português' se encontra mesmo sobre a linha de fronteira e assinalado com um marco triangulado ali colocado pelos Serviços Florestais, o 'Negrelos galego' está localizado algumas centenas de metros em território vizinho. Esta separação ajudou, de certa forma, a delimitar a área de busca.

Ora, no seu livro "Vilarinho da Furna - Uma Aldeia Comunitária" (Imprensa Nacional Casa da Moeda, numa reedição da edição original de 1948), Jorge Dias lista os diversos currais onde os animais criados em Vilarinho da Furna costumavam "...pastar e pernoitar, muitos dos quais em Espanha." De facto, segundo Jorge Dias, "o direito aos pastos espanhóis, assentavam num direito muito antigo..." interrompido pela arborização efectuada pelos "...Serviços Florestais da nação vizinha...".



Jorge Dias enumera os currais e na listagem dos currais das éguas (28 no total), encontramos o Curral de Costa de Negrelos. De facto, alguns dos currais listados por Jorge Dias já foram aqui identificados neste blogue, enquanto outros permanecem um mistério absoluto, tal como é o caso do Curral de Uêlo. certamente chegará a sua hora!

À altura em que Jorge Dias escreve o seu livro, muitos dos currais encontram-se abandonados, outros perde-se a sua referência ou a noção da sua organização. Exemplo disto, é o Curral Onde Morreu Martinho (Donde Morreu Martiño) já referenciado neste blogue. A ideia generalizada entre as poucas pessoas que sabiam da sua existência, era a de que este curral - perdido nas encostas da Serra do Xurés - não teria cabana de pastor. A visita ao local provou o contrário.

Para chegar ao Curral de Costa de Negrelos havia duas opções: a primeira havia já sido tentada pelas camaradas de expedição e tornou-se infrutífera devido ao quase desaparecimento do carreiro de montanha do lado galego; a segunda opção passava por uma incursão através da Encosta do Sol até ao marco triangulado de Negrelos e a partir daqui encontrar um caminho de acesso ao curral. Assim, e bordando a Serra da Cruz de Pinheiro até Negrelos seguimos o que certamente terá sido o caminho inúmeras vezes calcorreado pelos pastores de Vilarinho da Furna, encontrando velhas mariolas que a certo ponto, e desviando-se do caminho pela Encosta do Sol em direcção à Bela Ruiva e às Albas, enveredaram pelas encostas descendentes em direcção ao curral.

O Curral de Costa de Negrelos não se encontra delimitado por qualquer muro de pedra, pois a sua localização seria o suficiente para proporcionar um refúgio aos animais. A Nascente e Norte está limitado por profundas corgas, enquanto a Poente a sua limitação é feita por um promontório granítico. A Sul, a encosta descente oferece a limitação necessária. O curral tinha um forno (abrigo) pastoril abrigado pelo promontório granítico. O acesso através da linha de fronteira far-se-ia através de uma língua granítica onde ainda se encontram várias mariolas.

Apesar de extensamente estudada e de existir uma vasta literatura sobre Vilarinho da Furna, ainda vão subsistindo estas pequenas peças fora do ‘puzzle’ que se vão encaixando com estas (re)descobertas que nos oferecem estes pequenos tesouros que fazem a História do território que é o Parque Nacional da Peneda-Gerês...



















Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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