Há já muito tempo que as caminhadas na Serra do Gerês deixaram de ser somente momentos de escape e relaxamento sendo exercícios de procura de conhecimento e de desvendar histórias perdidas no meio dos bosques e serranias.
Exemplos disto são a Casa Florestal de Palheiros, a Ermida de S. Miguel, as figuras rupestres do Absedo ou mesmo as Minas dos Carris e todos os vestígios mineiros espalhados pela Serra do Gerês. No entanto, por vezes não é necessário ir para muito longe de casa para encontrar lugares mágicos, mas perdidos da memória do Homem.
O dia acordou pesado e húmido com o nevoeiro a cobrir as ruas do Campo do Gerês. Por entre o silêncio, os passos de alguém iam rompendo em ecos pelas ruas estreitas, dissipando-se por entre o casario que se vai acotovelando no Assento. O nevoeiro pesado, plúmbeo, arrastava-se pelas encostas dos montes sobranceiros, preenchendo os vales, a veiga e humedecendo tudo à sua passagem. O silêncio, esse, espalhava-se pela paisagem rural como que antecipando algo que nunca chegou e foi sendo interrompido pelo sino da capela que marca lentamente as horas do dia.
Há já muito que queria recordar os passos pela Quelha Direita (ou como por vezes se diz Quelha D'reita!) e tentar (re)descobrir umas velhas ruínas possivelmente de um moinho que sei que por lá existem. Neste dia, onde a paisagem se tingia de tons de cinza descendo pelas encostas, decidi ir dar uma espreitadela e tentar recordar esse caminho a partir da Bouça da Mó. O caminho que procurava, percorrido há já muitos aos - demasiados anos - liga a Portela de Confurco e o Prado Marelo à Bouça da Mó, descendo estrepitosamente pela Quelha Direita. Em tempos, foi limpo pelas gentes do Campo do Gerês, mas estas batalhas são sempre inglórias, pois a Natureza em pouco tempo reclama o que lhe pertence por direito adquirido.
Assim, pondo pés ao caminho, percorri parte da Estrada da Geira e logo após passar o Ribeiro da Mó, junto de um penedo que me recordava de ser ali onde teria várias vezes chegado, enveredei mato adentro. Não demorou muito a encontrar a primeira velha mariola, e a segunda e a terceira. Entretanto, a vegetação ia-se adensando e em pouco tempo o acto de procurar pelas mariolas que por ali habitam foi-de tornando no acto de lutar contra as silvas que foram ocupando os espaços. Escondido por entre a urze, a carqueja e o tojo, o caminho lá se encontra cortado por velhas árvores que vão apodrecendo e voltando ao Criador.
Com o nevoeiro a adensar, ficou o vislumbre da última mariola que consegui ver e a certeza de o caminho continuar por ali... Decidi então voltar para trás, mas um velho muro coberto de musgo chamou a minha atenção. A área delimitada é de facto considerável. Feito em pedra solta consolidada por anos de existência, o velho muro é por si só um deleite visual com os seus musgos de um verde vigoroso pela humidade que por estes dias tem preenchido o ar. Logo a seguir, a presença de várias grandes rochas levou-me numa determinada direcção e o que se me deparou a seguir encheu-me do espanto de ver algo pela primeira vez. Nunca tinha ouvi do falar daquele abrigo em forma de uma grande pala resguardada nos seus dois lados por dois muros de pedra solta. Um olhar mais atento fez-me entender que estava no interior de um velho curral tomado pelos carvalhos em plena Bouça da Mó. O muro que tinha visto antes era o seu limite. O local tem a magia do esquecimento e a profunda sensação de uma tranquilidade que me preencheu por completo.
O trabalho a seguir é o de tentar saber que lugar é aquele localizado na área da Bouça da Mó, logo abaixo de uma zona denominada 'As Negras' e delimitado a Sul pelo fundo da Quelha Direita. A quem pertenceria este curral? À vezeira do Campo do Gerês? Às gentes de Vilarinho da Furna?
Ficam algumas imagens do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Sem comentários:
Enviar um comentário