Não foram seculares os caminhos que percorri para chegar a Vilarinho da Furna, pois estes estão no fundo das águas escuras da barragem. Na paisagem desoladora que submerge das águas, restam as rochas desnudas e pálidas. Aqui e ali nota-se os restos dos campos férteis de Vilarinho e por detrás da dobra da serra, as ruínas foram surgindo silenciosas e melancólicas.
É quase como se a aldeia estivesse a respirar do seu longo mergulho e visse a luz do dia ao fim de vários anos. Vilarinho ali está, resistindo como pode à medida que os homens e as mulheres que nela moraram vão-se desvanecendo, perdendo a luta da vida e levando consigo a memória viva da aldeia.
Cada visita a Vilarinho da Furna é uma elegia, uma homenagem à luta de um povo contra o opressor que se materializou em forma de um muro de betão, fazendo a humilhação suprema com o aprisionamento das águas do Rio Homem.
Visitar Vilarinho da Furna é sentir a aldeia e fazer o esforço de a imaginar viva e alegre. Visitar Vilarinho da Furna é sentar junto das suas ruínas e escutar o silêncio quase sepulcral.
E como entender o sentimento dos homens e mulheres de Vilarinho da Furna, abandonados por tudo e por todos? Recordo-me de um episódio vivido a quando da apresentação do romance "Rio Homem" de André Gago. Neste dia, e depois da apresentação do romance do Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, fez-se uma visita às ruínas da aldeia. Alguém levava um acordeão, porém a relutância e a tristeza do que deveria ser uma música Minhota a ecoar por entre as ruínas, estava espalmada nos olhos lacrimejantes dos tocadores, antigos habitantes da aldeia.
Sobre esta visita não digo muito mais porque as fotos falarão por si. Como em muitos casos, as imagens não captam momentos, mas sim sentimentos...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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