quinta-feira, 21 de maio de 2015

Trilhos seculares - Até ao Alto das Eiras procurando os passos de Rogélio Pardo


Inevitavelmente, enquanto a memória perdurar, haverá sempre uma parte da Serra do Gerês na qual estará incrustada a história de Vilarinho da Furna e não deixa de ser curioso que, todas as vezes que caminho nesta parte do Gerês, não me consigo abstrair da sensação de que aquelas paragens agora silenciosas, nos querem dizer algo.

Talvez seja o eterno grito de revolta desta aldeia mártir, talvez seja a voz daqueles que por aquelas bandas andaram no contrabando e foram abatidos por uma bala maldosa. No seu 'Rio Homem', André Gago, conta-nos a história ficcionada de Rogélio Pardo, um lutador republicano refugiado em Portugal quando Espanha se tornou o abrigo dos fascistas. Rogélio seria recebido em Vilarinho da Furna e a partir dessa altura a aldeia torna-se no centro da história do Galego.

Numa passagem da história de Rogélio, este envereda pela serrania e dirige-se à raia, atravessando-a até atingir a estrada que liga a Portela d'Home a Lobios. A certa altura, o destino de Rogélio cruza-se com uma patrulha da Guardia Civil e o seu destino está traçado nos anos seguintes de 'Rio Homem'.


Hoje o meu percurso levou-se a caminhar entre a Portela do Homem e o Alto das Eiras. O percurso de cerca de 12,3 km não é difícil e grande parte é feito no estradão florestal que saindo da Portela do Homem nos leva até ao antigo muro de Vilarinho passando por Calvos. O estradão transforma-se então num carreiro de montanha que nos leva a percorrer as encostas mais a Poente da Serra do Gerês. Na impossibilidade de se estabelecer um limite geográfico à Serra do Gerês, vejo esta zona como a mais a Este. Já em finais do século XIX, os limites administrativos do perímetro florestal do Gerês chegavam ao Alto das Eiras e daqui viravam a Sul em direcção ao Pé de Cabril.

Foi ao percorrer estes carreiros que me senti dentro do romance de André Gago. Algures por ali, passou Rogélio a certa altura da sua infortunada história. Por momentos estanquei no caminho e imaginei os idos dos anos 50 e de como seria a dificuldade de viver naquele lugar. Por outro lado, a história trágica de Rogélio e o desgosto do amor de Alda, concedem àquelas paragens a sensação de nos transportar para um enredo do qual queremos mais saber.

O Alto das Eiras (ou somente 'Eiras conforme é referência na Folha n.º 30 da Carta Militar editada em 1949; a versão mais recente não faz referência a este orónimo) permite-nos uma visão soberba sobre parte da Serra do Gerês e sobra a encosta Nascente da Serra Amarela. As antenas do Muro na Louriça estão ali perfiladas à nossa frente e facilmente se distingue o Ramisquedo, a Cruz do Touro e os picos serranos geresianos mais importantes nesta área da serra (Pé de Cabril, Borrageiro, Cantarelo e Pé de Medela), além do imponente Vale do Alto Homem. O lugar do antigo marco geodésico está agora ocupado com um amontoado de pedras soltas a imitar uma grande mariola. O local tem o nome de 'Eiras' devido às grandes lajes graníticas que nos fazem recordar as antigas eiras onde eram malhados e peneirados os cereais.

Toda a área encontra-se dentro da Zona de Protecção Total segundo o Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), pelo que a sua visita implica uma autorização por parte do ICNF/PNPG.

Distância folheto: Não disponível
Distância GPS: 11,8 km
Distância odómetro: 12,0 km
Distância GEarth: 12,3 km
Altitude máxima folheto: Não disponível
Altitude máxima GPS:  1.221 m
Altitude máxima GEarth: 1.209 m
Altitude média GEarth: 764 m
Altitude mínima folheto: Não disponível
Altitude mínima GPS: 721 m
Altitude mínima GEarth: 764 m
Duração folheto: Não disponível
Duração jornada (GPS): 3h 23
Avaliação final (máx. 10): 7,0


Algumas imagens do dia...
































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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