Todos sabemos que em torno da Serra do Gerês existem histórias que a História deixou que fossem esquecidas. Algumas delas vão sendo descobertas nos livros clássicos de Tude M. de Sousa ou de Ricardo Jorge, que na distância de um século foram registando histórias, momentos, topónimos e costumes que há muito se perderam e que a actual memória (muito menos um museu) não guarda.
No livro "Gerez - Notas Etnográficas, Arqueológicas e Históricas", de Tude M. de Sousa, é referida a presença na Serra do Gerês de dois sócios da Sociedade de Geografia de Lisboa (Brito Capelo e Leonardo Torres) que entre 19 e 21 de Setembro de 1882 subiram ao alto do Borrageiro e participaram numa caçada venatória por entre os frondosos carvalhais da Albergaria (20 e 21 de Setembro).
Ora, a narrativa desta visita à Serra do Geres é descrita nos n.º 6 e 11 dos Boletins da Sociedade de Geografia de Lisboa. Nesta narrativa descreve-se a pernoita que ambos, juntamente com grupo de caçadores, fizeram na serra. É aqui revelado que este dormiram no denominado «Penedo da Pala» situado no Ranhado. Eis o texto (sem correcção ortográfica):
"(...)
Na serra do Gerez ha uns abrigos que chamam fornos, provavelmente por causa das portas que só se podem entrar engatinhando, e dentro d'essa cubata podem dormir nove ou dez homens, deitados em palha e muito unidos.
A pulga e muitas vezes o ganau enxameam aquelles domicilios, que servem de casa aos guardas de gado que á noite o reunem junto d'estes formos em uns pequenos planos mais abrigados que chamam vezeiros. Vimos dois d'estes cacifres ou casebres, um mesmo na Portella de Leonte e outro em Albergaria; n'este ultimo estava um velho guardador de extensa barba branca, e pelo tempo, local e especto fazia sem grandes difficuldades a felicidade de um sabastianista ferrenho.
Estavamos condemnados a estacionar e pernoitar no forno de Albergaria, porque a chuva continuava e continuou durante a tarde e durante a noite, quando um dos guias lembrou que era mais limpo o abrigo do Penedo da Palla, no sitio do Ranhado, que nos ficava a uns duzentos passos de distância; podem lá dormir dez homens e cinco debaixo do penedo que fica logo ao pé, e os sate seguiram logo para o dito forno. Foram dez para o forno, perfeitamente abrigados e aquecidos pela consante fogueira que durou toda a noite, sendo alimentada com lenha de carvalhos, que ali se encontram derrocados e não aproveitados.
(...)"
O sítio do Ranhado perdeu-se na toponímia actual e nunca se ouve falar deste topónimo aquando da visitas ao Geres. A sua localização será entre a Portela de Leonte e a Albergaria, mas mais perto desta e do seu antigo forno.
Tirando partido de uma ntigo mapa do perímetro florestal do Gerês, consegue-se diferenciar uma legenda que parece indicar a localização do Ranhado. No entanto, esta surge entre a Corneda e o Ribeiro de Cagademos - Ravina de Cagademos (ambos perfeitamente identificados no terreno).
Fica assim o desafio de se tentar descobrir a localização desta pala (Penedo da Pala ou Pala do Ranhado)!
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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