Não me canso de referir que a Serra do Gerês resulta de uma simbiose entre a Natureza e a ocupação humana do território, ocupação essa que se prolonga por milhares de anos. Desde os vestígios mais antigos inscritos nas rochas até aos nossos dias, passando pela romanização de uma parte desse território, a Serra do Gerês é, em si, um tesouro por descobrir e um manancial interminável de informação e de registos históricos à espera de ser descobertos.
Apesar de representar uma parte importante dos estudos levados a cabo desde a sua fundação, os cerca de 44 anos do Parque Nacional da Peneda-Gerês não trouxeram à luz do dia muita da História daquele território. Não se pode responsabilizar o PNPG, enquanto corpo mutável e sujeito à vontade política, pelo trabalho por fazer e pelo que ficou feito ao longo destes anos. Devemos sim, exigir que o PNPG seja dotado de meios (materiais e principalmente humanos) para que o futuro seja mais iluminado em termos de preservação dos espaços e em termos de relação entre a entidade PNPG e as gentes que vivem e moldam o território. Sem estes compromissos o futuro do PNPG e dos grandes espaços naturais está em risco.
Tirando partido do que a Natureza lhe foi concedendo, a presença do Homem entre o Gerês e a Peneda foi moldando os espaços, adaptando-o às suas necessidades. Com o passar dos anos e com um abandonar de certas actividades que até aí eram intrínsecas à sua ocupação, a Natureza foi restabelecendo o seu domínio, reclamando para si zonas que até certa altura eram usualmente, se bem que sazonalmente, ocupadas pelo Homem.
Muitos destes espaços são agora «depósitos» de memórias que com os passar dos dias se vão esbatendo no esquecimento. A caminhada de hoje procurou, de forma humilde, tentar tirar do esquecimento esses espaços e trazê-los à luz da sua existência passada, e com isso não esquecer os dias em que o homem teria uma vivência de maior harmonia com o meio... ou talvez não.
De certa forma, e em parte do percurso, foi mais um regresso a zonas que já havia visitado não vai há muito tempo. O acesso ao coração da Serra do Gerês através da Corga da Abilheira deve-nos fazer pensar (ou imaginar) como seria este Gerês há, por exemplo, 100 anos atrás. Por vezes temos a ideia de que certas paisagens são «eternas», pois a nossa passagem por aquelas paisagens é de certa forma efémera. Mas conseguimos imaginar aquela zona da Serra do Gerês sem a estrada que actualmente liga Cabril a Xertelo e à Paradela? Conseguimos imaginar uma jornada pela serra entre Cabril e a Lagoa do Marinho quando os dias não tinham esperança e o objectivo era chegar com o mínimo de conforto ao dia de amanhã? São exercícios de imaginação difíceis, certamente! Assim, imagine-se percorrer a Corga da Abilheira depois de uma árdua jornada pelos recantos serranos até ao seu início.
Este é um portal para o Gerês profundo, para o Gerês que se pode chamar de 'selvagem'! Aqui o Gerês obriga-nos a respirar a cada passada e a para numa contemplação que se quer introspectiva, unindo sensações e desejos. No topo da Abilheira, já em Entre Caminhos, são os picos das serranias que definem os nossos limites. Ali, perante nós, está o Gerês em bruto, um local onde o Homem se funde com a paisagem. De Entre Caminhos descemos aos Currais de Biduiça e aqui transpomos a Ribeira de Biduiça, agora mais calma depois dos dias tormentosos de um Inverno que se finda. Passamos o Compadre mirando a sua face Sul por entre o mar de moreias que cobrem a paisagem. Passando o pequeno ribeiro do Corgo das Lamas do Compadre, entramos num largo curral e começamos a procurar o seu abrigo. Rapidamente encontramos o formo alagado num dos «cantos» da limitação de pedras e curiosamente um outro não muito afastado e já na direcção da corga. Desconhecendo o nome deste curral, parece-me óbvio pela sua localização, chamar-se 'Curral do Compadre', mas sendo esta pura especulação.
Seguindo para Nordeste, passamos ao lado de uma pequena construção quadrangular que provavelmente terá dado apoio à exploração mineira que se localiza ali perto e seguimos em direcção a Fornalinhos de Baixo já à sombra dos Cornos de Candela. Já seguindo por um carreiro bem definido, rapidamente chegamos a Fornalinhos de Cima, ao lado do Outeiro de Cervas, e depois ao Curral de Céu Rubio. Este fica perto de um outro curral do qual desconheço o nome e aqui o nosso trajecto vai flectir para Norte, em direcção a um pequeno carvalhal onde se esconde um outro curral (que também desconheço o nome). Deste ponto seguimos em direcção a Lamelas, invertendo a Sul quando chegamos ao seu lado Nascente e dirigindo-nos para o Curral de Lamelas de Cima. Daqui, passamos pelo Curral de Lamelas de Baixo, atravessamos o Ribeiro da Biduiça e passamos ao lado do Curral das Rochas de Matança em direcção aos Currais de Biduiça, seguindo depois em direcção à Corga da Abilheira.
Distância folheto: Não disponível
Distância GPS: 13,9 km
Distância odómetro: Não disponível
Distância GEarth: 13,8 km
Distância GEarth: 13,8 km
Altitude máxima folheto: Não disponível
Altitude máxima GPS: 1.257 m
Altitude máxima GEarth: 1.270 m
Altitude máxima GEarth: 1.270 m
Altitude média GEarth: 1.042 m
Altitude mínima folheto: Não disponível
Altitude mínima GPS: 670 m
Altitude mínima GEarth: 740 m
Altitude mínima GEarth: 740 m
Duração folheto: Não disponível
Duração jornada (GPS): 6h 11
Avaliação final (máx. 10): 8,5
Ficam algumas imagens do dia...
1 comentário:
Excelente a prosa, muito boas fotografias, fiquei com vontade de fazer essa actividade...Obrigado pela partilha também de emoções por lá vividas.
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