quinta-feira, 12 de março de 2015

Trilhos seculares - Ponte do Rio Parrado (Porto Esporão)


Certo dia, um camarada de caminhadas mostrou-me um mapa no qual havia anotado a memória de um Geresiano de S. João do Campo. Ali, estava um manancial de topónimos, alguns dos quais totalmente desconhecidos por mim e outros pedidos para sempre, mergulhados nas águas de afogou a aldeia mártir de Vilarinho da Furna.

Porém, o que mais me chamou a atenção foi um pequeno risco curvo feito sobre um rio que nessas memórias se chamava 'Rio Parrado'. Aquele risco curvo marcava o possível lugar de uma velha ponte utilizada pelos habitantes de Vilarinho da Furna para se deslocarem nas encostas de parte da Serra Amarela.

Desaparecida nas águas da albufeira desde o início dos anos 70 do século passado, os domínios de Vilarinho da Furna foram sendo lentamente reclamados pela Natureza. As vozes da velha aldeia cujas origens se perde no tempo e na memória dos homens, haviam-se calado e o silêncio reina por aquelas paragens. Os caminhos foram sucumbindo ao passar dos dias e as mariolas estão agora cobertas de líquenes, marca da sua antiguidade e atestado de que aquele sinal nos conduz, de certeza, a algum lado... desde que saibamos para onde queremos ir. As zonas de pastagem mais afastadas e localizadas após passagens mais íngremes, foram ficando esquecidas e tomadas pelas giestas que foram crescendo, tapando assim a memória de outros tempos. Da mesma forma, as rústicas construções e os velhos muros que delimitavam pequenos currais, são agora confundidos com a paisagem. Aquelas paragens são agora lugares ermos, desertos e onde o silêncio é tão profundo que nos ensurdece a alma.


Não caminho muito na Serra Amarela, mas esta ponte esquecida numa corga fechada representava uma memória que não poderia permanecer fora da História de Vilarinho da Furna. Já anteriormente havia tentado encontrar a ponte, mas a falta de sinais que me mostrassem antigos caminhos na paisagem próximo da albufeira da barragem, fizeram-me então pensar que talvez a ponte não passasse de uma memória confusa. Porém, quando a 7 de Fevereiro percorria os carreiros recentemente limpos não muito longe de S. João do Campo, voltei a fotografar o local onde possivelmente se localizaria a ponte e qual não foi o meu espanto quando numa das imagens me parecia ver uma travessia entre as duas margens. O que via parecia-me uma sólida ponde em betão, perfeitamente distinguível entre a vegetação e as cores do granito. Nada melhor do que encetar nova busca.

Assim, seguindo novamente os passos por entre os terrenos que circundavam a aldeia de Vilarinho da Furna, seguimos em direcção ás Toutas após passar o Fundo do Peito da Rocha. Nas Toutas seguimos em direcção à área plana entre Varziela e Garfe, deslocando-nos mais na direcção da vale do Rio Cabra (Rio Parrado). Chegando a uns cabeços com vista para a Bouça da Mó (local de paragem da minha anterior incursão), decidimos então encetar a descida final até encontrar um velho caminho que seguia para a nossa esquerda (Este). Encontrando os antigos muros de Vilarinho da Furna, o caminho prometia levar-nos ao nosso objectivo, pois porque outra razão seria feito tal trabalho naquelas paragens, com paredes a sustentar as terras e zonas de descanso junto dos pequenos ribeiros que agora correm escondidos por entre a densa vegetação? Aos poucos, o Rio Parrado ia fazendo-se ouvir à medida que se entretinha a correr por entre os grandes rochedos que já enchiam o nosso olhar. Olhando um pouco mais acima, lá estava ela!! Frágil como um risco na paisagem, porém resistente ao fim de mais de 40 anos de «abandono» e esquecimento na memória dos homens. Ali estava, a Ponte do Rio Parrado que une as duas margens daquele curso de água no Porto Esporão e que por tantas vezes me fez sonhar.

É assim que gosto de contribuir para a história daquelas paragens, da Serra Amarela e da aldeia mártir de Vilarinho da Furna...

Distância folheto: Não disponível
Distância GPS: 15,7 km
Distância odómetro: 12,4 km
Distância GEarth: 14,4 km
Altitude máxima folheto: Não disponível
Altitude máxima GPS: 969 m
Altitude máxima GEarth: 951 m
Altitude média GEarth: 678 m
Altitude mínima folheto: Não disponível
Altitude mínima GPS: 509 m
Altitude mínima GEarth: 564 m
Duração folheto: Não disponível
Duração jornada (GPS): 6h 33
Avaliação final (máx. 10): 7,5



Algumas imagens do dia...







































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Sem comentários: