segunda-feira, 2 de março de 2015

De novos paradigmas...


Será eterna a discussão entre saber quem suja e quem limpa, quem protege e quem destrói, quem preserva e quem hipoteca o futuro dos nossos espaços naturais (sejam eles protegidos ou não). Se é verdade que todos temos a obrigação e o dever de preservar a casa na qual vivemos, seja em que contexto a queiramos ver, é também verdade que devemos ter o direito e exigir que os outros se comportem como nós na preservação dos espaços naturais. Porquê?

Acima de tudo porque existe uma coisa a que isso deve «obrigar» e essa coisa chama-se 'inteligência', a mesma que ao longo de milhões de anos nos garantiu a sobrevivência da espécie e a mesma que nos deve encaminhar para um verdadeiro paradigma humano. O nosso futuro assim o obrigará, por muito lento que o processo possa ser.

Tendo em conta as diversas condicionantes, os espaços naturais devem, naturalmente, ser abertos a todos. O usufruto responsável dos espaços naturais deve ser parte integrante dos nossos dias, e isto não deve ser visto numa perspectiva condicionada pelo local onde vivemos. A nossa existência citadina ou urbana, impele muitos de nós a uma fuga para a imensidão dos espaços naturais. A outros impele para o rebuliço de um centro comercial. Por outro lado, a nossa existência rural (muitas vezes condicionada pelas limitações de um certo abandono ou 'interioridade') impele-nos para a fuga para a cidade. Outros amam a calmaria e o ciclo natural das coisas.

A caminhada e o gozo da Natureza é, assim para muitos, o escape e a fuga de um dia-à-dia que nos limita a existência como ser que não consegue, ou se esqueceu, de interagir com o mundo que o rodeia. Muitos transportam para os espaços naturais os maus hábitos e comportamentos que os caracterizam no dia-à-dia e nas suas casas. Vivendo entre a merda e o esterco, dormindo com almofadas de porcaria, estes relegam para outros a obrigação de preservar.

Custa-me compreender o abandono do lixo nos espaços naturais tanto por quem o visita como por quem lá vive! Chegar a um espaço serrano, por exemplo, e ver à entrada de um abrigo sacos do lixo ali abandonados, é constatar que por ali passaram uns palermas para quem aquele lugar e a Natureza em geral se deveria limitar a uma caixa de areia suja pelos meus gatos durante várias semanas.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

1 comentário:

Alexandre Wragg Freitas disse...

Concordo!

Creio que antigamente existia a consciência implícita de que a natureza é grande e tudo pode. Não faria mal, portanto, conspurcar tudo e mais alguma coisa, porque há muito de tudo, e de resto a natureza faz a sua auto-limpeza. Assim se transformaram rios em esgotos, por exemplo.

Actualmente (nota: escrevo como aprendi, e não conforme alguém de algum governo achou que seria melhor por motivos que me ultrapassam) creio que existe uma consciência crescente de que a natureza não tem capacidade de "encaixe" infinita. Existe, no entanto, e talvez mais do que antes, uma indiferença crescente em relação a tudo. O que está na ordem do dia é diversão e usufruto. Dizem que assim é que atingimos a felicidade. Portanto toca de ir passear sem nunca largar a pele de consumista heróico.

Depois, ao voltar a casa, possivelmente sentam-se ao computador, assinam mais uma petição online contra produtos geneticamente modificados e fazem "like" na página do facebook da associação de defesa do ambiente da esquina.

Um mundo sofisticado, este!...

Mas a inteligência há-de prevalecer. Ou prevalece a inteligência, ou nada prevalecerá! Pode é não ser para já... infelizmente.