...trevas do tempo.

Carris, 19 de Julho de 2007

...dizem que temos de sofrer para libertar a nossa dor...
Desejamos momentos infinitos por entre as paredes frias e nuas de umas ruínas que amamos...
...derramou-se o amor, infiltrado nas fendas profundas do granito.
No alto, tendo o horizonte por testemunha, traçamos o nosso destino que se separa à medida que areia vai caindo...

...como o lento acordar de um sonho desperto para um pesadelo.
Nas chãs serranas choro a tua ausência, o olhar que por momentos eu vi...
...preso num feitiço, imploro aos deuses de outrora...
...peço à montanha que me receba no seu seio.

Trilhamos os nossos caminhos, procuramos o amor nos nossos braços...
...anseio o pôr-do-sol, o reflexo das sombras no rosto...
...o sabor da tua pele turva-me o olhar... visões de um futuro que morreu para lá dos caminhos perdidos da montanha.

Aguardo a nova Lua no céu...
...vejo o teu olhar em cada sombra, uma ferida aberta na escuridão...
...a dor que me atormenta não é a tua.

Abraça-me, pois procuro a solidão dos espaços... o silêncio dos vales, a vigília dos cumes...
...perdi o sonho e a esperança, escondo o meu olhar por entre a bruma da noite...
...sinto-me cair... por entre as trevas do tempo irei caminhar...
...procuro as almas que me irão acariciar, almas negras na companhia de Lúcifer...

Anseio as tardes de Outono, a chuva cinzenta que cai...
...sentir a brisa frio que vem do Norte e deixar este tempo contigo...
Dormes para sempre nos meus sonhos, dei-te o último beijo...

Choro esta noite, o Sol não vai nascer...
...olho a sombra do amor que se desvanece... lentamente...
...algo se esconde na escuridão, são as lágrimas que irei guardar para mim...

Fotografia: © Rui C. Barbosa