quinta-feira, 20 de março de 2025

Vestígios de abrigos pastoris no Prado (Campo do Gerês)

 


Na Serra do Gerês, o (curral do) Prado é uma das zonas de pastagem do Campo do Gerês.

Com o seu abrigo pastoril recuperado há uns anos, é passagem «obrigatória» para quem demanda o Pé de Cabril vindo de Junceda ou do Curral de Gamil. Para além deste, na zona encontra-se outra zona de pastagem (a Fenteira do Prado) que antecede a chegada ao Prado para quem vem de Poente (vindo de Junceda ou mesmo da Fonte de Gamil).

Não sendo limitado por qualquer muro, o Prado tem um abrigo pastoril tipo cabana de construção «recente». Uma observação atenta, pode revelar o que eu penso serem vestígios de dois abrigos mais antigos, sendo um deles um velho forno pastoril típico da Serra do Gerês.

A existência de abrigos pastoris abandonados nas zonas de pastagem ou de guarda dos animais, é comum em muitos currais da Serra do Gerês. Por exemplo, no Prado do Vidoal, acima da Portela de Leonte e à sombra do Outeiro Moço, é possível distinguir três fases distintas de ocupação do prado através das ruínas lá existentes.

A presença destes abrigos no Prado (Campo do Gerês) - dos quais não há memória entre a população actual - vem de novo atestar a ocupação milenar do território onde a simbiose Homem v. Natureza o moldou de forma a termos nos nossos dias um espaço único em Portugal.

Será possível datar estes vestígios? No seu livro "Caldas do Gerez - Guia Thermal" (1891), Ricardo Jorge refere, "nem por documento escripto, nem por achado archeologico, se pode deparar indicio de que gentes fizessem paragem nas asperezas do Gerez, antes da dominação romana. Da passagem da serra pelos grandes conquistadores do mundo, dizem os livros e fallam com eloquencia os monumentos que, affrontando a desfeita dos seculos, ainda hoje surpehendem quem transita por aquellas solidões agrestes."

No entanto, e baseado nas figuras rupestres que aqui e ali surgem nas serranias (Absedo) e no testemunho das edificações fúnebres (Lomba de Pau), facilmente de poderá deduzir que os enrugados vales serranos, as suas profundas corgas e os seus prados tenham sido residência de tribos nómadas, das quais os actuais currais são memória latente à espera de ser estudada.

Voltando aos vestígios do Prado, surgem-nos o que me parecem ser duas velhas construções ligeiramente a Poente do actual abrigo pastoril. Canibalizando parte de um texto aqui publicado em Agosto de 2022 (Um outro abrigo pastoril no Prado?), a localização do actual abrigo pastoril em forma de 'cabana' permite a vigia da vezeira no prado a Nascente e será pertinente supor que teria sido construído no mesmo local onde poderia ter existido um forno pastoril. A observação atenta leva-nos a definir o que terão sido as paredes de um antigo abrigo que seria utilizado na vigia do prado que se atravessa na direcção da Fenteira do Prado, isto é, a Poente. Este, teria a forma quadrangular com a entrada voltada a Sul. Algumas das rochas caídas no seu interior poderiam ter sido utilizadas na cobertura do abrigo pastoril, alagado já antes da construção da actual cabana, que possivelmente terá utilizado rochas do abrigo mais antigo.









Mas, como explicar a sua forma quadrangular? Recordemos que os abrigos pastoris do Curral de Gamil e do Curral de Bostelo são do tipo "forno pastoril" de falsa cúpula. Assim, por que é que em Tirolirão e no Prado os abrigos são 'cabanas'? Será que por ali existiram também abrigos pastoris do tipo 'forno pastoril'?

A verdade é que no Prado também terá existido um forno pastoril, pois ao lado do abrigo alagado, surge um conjunto de pedras em disposição circular que podem ser os restos do velho forno pastoril.








Estes vestígios (restos de velhos abrigos, restos de dólmenes, os velhos colmeais e silhas, pequenas formações circulares de pedras, muros, etc.) são peças de um ‘puzzle’ por construir e que poderiam ajudar a escrever a História da Serra do Gerês e a sua ocupação milenar.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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