Caminhada em dia frio açoitado por um vento que se enraivecia à medida que as horas foram passando.
Comecei esta caminhada pelos carreiros silenciosos do profundo Gerês com a subida pela Corga da Abelheira, ladeada de um lado com o caos granítico da Teixeirinha até chegar a Entre Caminhos, uma verdadeira varanda natural para as serranias selvagens e pouco caminhadas do Parque Nacional.
Desde Entre Caminhos o horizonte é limitado pelas serranias graníticas e nuas, a verdadeira essência da Serra do Gerês. Horizonte atravessado por pequenos ribeiros em profundas corgas numa paisagem cortada por vertentes alcantiladas, salpicada por prados verdejantes e atravessada por carreiros de história e memórias de tempos idos, onde a pastorícia, a carvoaria, o contrabando e a exploração mineira escreveram as linhas da História destes locais.
A paisagem vê-se também polvilhada de grandes blocos graníticos em tempos arrastados pelas forças dos glaciares que moldaram aqueles vales. De facto, na Serra do Gerês podem-se encontrar formas de relevo e zonas sedimentares que são memória das acções da glaciação que afectaram aquelas montanhas há centenas de milhares de anos. No vale de Compadre, por onde acabaria de passar, surge a oportunidade de observar acumulações de blocos graníticos (moreias) criadas pelo movimento dos glaciares. Destas, destaca-se a moreia lateral de Compadre, a mais extensa do Norte de Portugal, com cerca de 1 km de extensão, e noutros sectores do vale, tais como a Ribeira da Biduiça e vertente ocidental dos Cornos de Candela, ocorrem sedimentos (denominados till subglaciário) que permitem estimar uma espessura de gelo de cerca de 150 metros, durante o máximo da glaciação.
Deixando então para trás aquela magnífica varanda em Entre Caminhos, inicia-se uma curta descida para os currais de Biduiça (Biduiças) e seguindo a Norte, chega-se ao Curral das Rocas de Matança situado na margem do Ribeiro da Biduiça. Lá ainda se encontram os vestígios alagados do velho forno pastoril, um património esquecido nas paragens serranas.
Seguindo a margem direita da Ribeira de Biduiças, atravessei-a umas centenas de metros mais adiante já perto da embocadura da Corga de Lamelas e segui até encontrar o carreiro que nos ajuda pausadamente a vencer a encosta e que eventualmente nos levará às imediações dos Currais de Matança, vistos do alto da margem esquerda da Ribeira das Negras. Daqui, avista-se ao longe, a parede da Represa dos Carris e algumas cicatrizes deixadas na paisagem pela mineração na concessão mineira da Corga das Negras I, com a sua escombreira e boca-mina.
Caminhando através da penedia, o carreiro leva-nos até à Mariola Forcada. Aqui, tomei o carreiro que me levou a passar no Alto do Moreira e ladear o Castanheiro. A paisagem que se vislumbra é uma verdadeira obra-prima da Natureza. A partitura da ópera natural que se desenrola perante os nossos olhos, transforma-se num assombro da Natureza, um grito ímpar que ecoa pelos píncaros geresianos. Naquele lugar, o panorama leva-nos desde a forma suavemente matemática da Roca Negra e do Iteiro d'Ovos até aos espigões da Fonte Fria, mergulhando no vale do Compadre.
O velho carreiro da vezeira passa à direita do Alto das Eiras e pela margem direita do Ribeiro da Fecha do Castanheiro, ladeando depois o Alto das Portas do Castanheiro e o Espigão das Lamas de Pau, bordejando a Corga do Gargalão, descendo à Chã de Suzana onde entramos no velho estradão florestal da EDP. Este, levar-nos-ia ao ponto de partida passando pela Corga de Trás-da-Meda até chegar à estrada municipal e Corga da Abelheira.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Sem comentários:
Enviar um comentário