sábado, 7 de dezembro de 2024

Trilhos seculares - O Assombro das Velas Brancas

 


Esta foi uma caminhada organizada por RB Hiking & Trekking que nos levou desde a Portela de Leonte até ao alto das Velas Brancas num percurso de 18 km num dia ventoso na Serra do Gerês.

As Velas Brancas são daqueles locais no Parque Nacional da Peneda-Gerês que nos ficam gravados na memória desde a primeira vez que os vemos! A imensidão das escarpas que se debruçam sobre Fechinhas e a imponência do quadro montanhoso que se eleva desde as profundezas de um abismo, mostram que as montanhas geresianas têm sempre lugar por entre o imaginário de qualquer um de nós que percorra aquelas paisagens.

A caminhada começaria na Portela de Leonte levando-nos por velhos carreiros de montanha que sobem na direcção da Chã do Carvalho. Este, é um caminho habitual para quem usualmente demanda aquela área geresiana e que vai sendo agraciado com a vista do Pé de Cabril que domina a paisagem até esta se expandir para os horizontes da Serra da Peneda e da Serra de Soajo, e mais para além para as lonjuras galegas. Aos poucos, a Serra do Gerês mostra os píncaros do Pé de Salgueiro, por um lado, e do Pé de Medela e Carris de Maceira por outro, fazendo o olhar mergulhar no mar arbóreo da Mata de Albergaria em tons de Outono, um tapete que se forma antes da rudeza das encostas da Serra Amarela.



Chegados ao Prado do Vidoal o nosso olhar prende-se no abismo da Corga dos Cântaros e nas paredes da Roca d'Arte encimada pelo Cabeço de Lavadouros e pelo Cabeço de Cinzeiros, enquanto a sombra do Outeiro Moço vai correndo o Vidoal ao longo das horas da manhã que passa.

O caminho leva-nos então ao Colo da Preza, varanda privilegiada sobre o Vale de Teixeira, candidato em tempos à construção de um sanatório devido à pureza dos seus ares. Tomando o carreiro à esquerda, este leva-nos a Chã da Fonte e daqui segue-se caminho para passar ao lado da Fonte da Borrageirinha e depois atravessa as Lamas de Borrageiro, seguindo-se pela Chã do Caçador em direcção à Lomba de Pau. Descendo então na direcção do Conho, antes deste, porém, tomamos um desvio à direita que nos levaria a passar sobre a Lameira de Mourisca, chegando então perto da Meda de Rocalva. Nesta zona, e virando a Nascente, seguimos pela Chã de Trás da Meda através do traçado do Trilho da Vezeira de Fafião até atingir o colo sobre a Ribeira de Salgueirinho.




Com os velhos caminhos a perderem-se na memória e no espaço físico, sobram as velhas mariolas que nos indicam o caminho para as Velas Brancas. Caminhando em direcção às vertentes do abismo que nos espera mais adiante, o colosso granítico do Iteiro d'Ovos marca a paisagem que fica para trás, tendo a Roca Negra e a Meda de Rocalva os seus perfis desenhados no horizonte não muito longínquo. Por aqui, os promontórios de Porta Roibas e o alto do Pinto começam a sobressair na paisagem que se forma diante de nós.

Em pouco tempo, somos chegados aos limites daquele conjunto que se denomina por 'Velas Brancas' ('Vela Branca', 'Bela Branca') e parece que chegamos à proa de um barco que navega por entre o mar de granito que torna a paisagem num oceano imenso. Lá ao fundo o Curral de Fechinhas surge como um oásis por entre o granito. A paisagem é toda ela uma imensa paleta de altos e ravinas que tentamos identificar... Muro, Iteiro d'Ovos, Meda de Rocalva, Roca Negra, Borrageiro, Albas, Cantarelo, Torrinheira, Cidadelhe, Carris e Nevosa, Borrageiros... A enormidade daquilo que se eleva perante nós é indescritível, bem como a profundeza dos abismos perante os quais nos recolhemos na nossa pequenez.

São nestes lugares feitos de tranquilidade, pensamentos e sentimentos imensos, que sentimos o pulsar da montanha que nos envolve como um manto de leveza. Aqui, somos abraçados por aquela sensação de algo conquistado, o regresso a uma paisagem que já não via há muito tempo, apesar de estar sempre ali, à espera do regresso.

E após minutos de contemplação - açoitados por um vento que se sentia frio - inicia-se o regresso, passando pelo Curral de Soengas e pelo Cocão de Iteiro d'Ovos, chegando à fonte existente no Curral de Iteiro d'Ovos.



Segundo José Cunha-Oliveira na publicação "Outeirinho, Outeiro" no seu blogue "Toponímia galego-portuguesa e brasileira", iteiro é uma variante dialectal de 'outeiro', 'oiteiro' e 'eiteiro'. Por outro lado, o blogue "Beijós XXI (2005-2009)" na sua publicação "Iteiro" refere que "Normalmente um cerro / morro que se destaca como acidente de terreno. Em várias regiões serviam como limites, términos, marcos da confluência de diferentes territórios, em particular nas civilizações pré-romanas. É esse o significado toponímico de Itero em Castela e Leão." Vejamos uma interpretação para Iteiro d'Ovos! Sem dúvida que se trata de uma elevação característica naquela zona serrana e a sua localização situação nos limites concelhios de Terras de Bouro e de Montalegre. Uma interpretação mais difícil será os 'Ovos'; penso que este nome poderá estar relacionado com a grande quantidade de pedras que compõem aquele morro ou então poderá estar relacionado com um antigo local de nidificação de aves de rapina. Nenhuma destas tentativas para explicar o nome 'Ovos' tem base científica e é apenas a minha especulação.

Seguindo na direcção do Curral do Vidoeirinho - local do merecido descanso e repasto - e depois para o Curral de Rocalva, tomamos então o caminho para as alturas do Borrageiro. A parte final do percurso leva-nos a passar junto do Arco do Borrageiro e da Fonte da Borrageirinha, seguindo daqui na direcção do Enfragadouro e Coloda Preza, descendo então para o Vidoal e Portela de Leonte.

Ficam algumas fotografias do dia...



Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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